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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

As GRUAS

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Havia um tempo, feito de vento,

de muitos sonhos e esperança,

tempo de liberdade a florir nos olhos.

 

Havia um tempo, esse tempo, feito de paixão,

as palavras não se escreviam por escrever,

as palavras não se diziam, só por dizer,

as palavras eram, flor, silêncio e poema.

 

Havia um tempo que o poeta escrevia:

Chegam palavras do meu país.

Há fogo em Sintra. Há Greve no Barreiro.

 

A palavra greve, era senha, era esperança.

Há greve no Barreiro! Era palavra sinal,

Grito para viver, amar abraçar o futuro.

 

O tempo engole as palavras, vão no vento.

As palavras são, sempre, a marca do tempo.

 

Hoje, já há gruas no Barreiro! Clamam.

Há gruas no Barreiro! Sorriem.

 

Nas gruas a cidade faz-se cimento,

nas gruas instala-se o esquecimento,

nas gruas enterra-se o próprio tempo!

 

Afinal, com gruas, muitas gruas,

a esperança…morre dentro do tempo!

 

António Sousa Pereira

Uma viagem pelo tempo com as palavras – Memória, Amor e Gratidão.

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Estamos em junho, este tempo que, no ciclo do tempo, antecede as férias, marca o final do ano lectivo, que, para alguns, assinala a hora de mudança, o adeus a um lugar onde se descobriu a vida, onde os sorrisos entraram pelo olhar, as palavras mergulharam em recortes de cor, e os sons foram cantados em coro, esse lugar, onde aprendemos a viver o sentido da partilha do tempo comum, do sentir comum. Esse lugar onde aprendemos a dizer: “Ele, ou ela, são meus amigos!”.
 
É a roda da vida. O movimento do tempo. Crescemos. Mudamos.
Vem tudo isto a propósito daquela festa de amor, gratidão e memória, que vivi, com sorrisos e umas gotas de sal a brilhar no olhar, no passado dia 15 de Junho, no Salão da SFAL, naquela festa de encerramento do ano lectivo do Jardim Infantil Xi- Coração.
Não podia faltar à festa da minha Alice, que, com antecedência comentava : “Avô eu vou estar no palco”.
 
Mas, quero dizer-vos, se gostei de ver a minha neta astronauta a dançar, a viver com ritmo e intensidade aquele momento de som e cor, a energia de todos a viver a música, a saltitar, a rasgar o futuro, esta manhã, de festa foi um tempo inesquecível. Uma viagem pelo tempo, por dentro do tempo que somos.
A São atarefada a dar energia à máquina do tempo. Uma geringonça a fazer lembrar o filme do “Regresso ao futuro”. Ela, verdadeiro cientista, a colocar o mundo em alvoroço. Uma festa dentro da festa.
 
Lá surgiram do fundo do tempo, vindos dos ovos que germinam futuro, os dinossauros, eles e as mães, numa viagem com o verde de esperança. Um momento de grande calor humano, de amor, de vida.
Depois, viajámos à idade da pedra para conviver com os Flintstones. Cenários criativos. Movimento. Ritmo. Avós, pais e mães, talvez, alguns revivessem os dias que, de olhos presos ao ecrã da televisão, divertiam-se com as peripécias da Idade da Pedra.
 
E, nesta viagem pelo tempo, chegaram os Vikings, com lutas e abraços. Rodas de ternura.
Um trabalho que, certamente, deu horas e horas de amor, nos bastidores para vivermos aqueles instantes deliciosos.
 
A viagem continuou com a nau dos descobrimentos, com a vida de marinheiros sonhadores de um país que se escreve com uma língua que se deitou nos oceanos. Um rigor de pesquisa de guarda roupa. Uma nau que estava pronta a navegar pelas tempestades do tempo. Um momento de grande beleza estética.
 
E rumo ao futuro, nesta viagem por dentro das memórias, da ternura de gerações, do legado que somos, do legado que partilhamos, foi a hora de viajar no espaço. Os astronautas. Ali, por Terra, Marte, Saturno. O espaço que somos. O sol.
E os e as astronautas estavam lindas. Cinco estrelas. Senti o coração a viajar no silêncio do tempo. Lá estava a minha Alice. Entusiasta. Dinâmica. Imponente.
 
E, nesta festa pelo espaço e pelo tempo, ainda houve tempo para receber a visita de marcianos, ou de viajantes de outro qualquer planeta, que descobriram a vida na terra. Um tempo colorido. Máscaras a lembrar o Carnaval de Veneza. Vida. Muita vida.
 
Ao longo deste belo espectáculo, marcado de criatividade, amor, ternura e memória, não faltaram os aplausos e a energia da plateia, todos vivendo a festa, com mais festa. Uma festa construída com o calor de quem vive o seu quotidiano a semear partilha nos corações. Educadoras, Auxiliares. A equipa do Xi- Coração.Foi linda a festa pá!
 
Uma manhã de emoções. De lágrimas de saudade a escrever futuro, naqueles momentos que foram entregues os diplomas aos meninos e meninas que, neste final de ano, vão partir para um novo nível de aprendizagem. Sentia-se a emoção a brilhar nos olhos.
E, para fechar esta manhã, neste tempo de tanta tristeza no quotidiano, de guerras na Ucrânia e em Gaza, de outras guerras anunciadas, sentimos, nascer, uma palavra que ficou inscrita no palco, em letras de ouros, em letras de sal, em letras de amor, em letras abraçam a vida – GRATIDÃO.
 
Antigos alunos do Xi- Coração, antigos pais e seus filhos antigos alunos, deram vida ao palco, com energia, para cantar, dançar e distribuir flores aos seus antigos educadores, e dar um abraço faterno. Um Xi no coração.
 
A São e a Paula, líderes deste projecto, um projecto de iniciativa privada, que contribui para formar homens e mulheres, nesta manhã, de junho de Dois Mil e Vinte quatro, receberam um beijo do passado a inscrever-se na saudade do futuro. Foi um momento que, senti com emoção e pensei: se há quem pense que no mundo por vezes falta a palavra AMOR, ela foi semeada e vivida naquela ternura que floriu em lágrimas e abraços. Afinal, é tão belo viver a palavra OBRIGADO!
 
E, nesta festa no tempo, onde o passado beijou o presente, e , o presente abraçou o futuro, a festa continuou com a força da palavra Liberdade. Essa liberdade que dá força à criatividade. Essa Liberdade que faz viver a palavra Gratidão. Essa Liberdade que é memória e, se escreve com amor ao futuro.
 
Em coro, todos, todos, pais, filhos, netos, avós, a comunidade Xi- Coração cantou em coro, aquele som vindo do tempo – uma gaivota voava…voava, a reviver Abril, 50 anos depois, ali, escrevendo que, afinal, somos livres, sempre que inscrevemos nas viagens pelo tempo, as palavras – Memória, Amor e Gratidão.
Obrigado Xi- Coração por esta manhã de partilha, de festa e de criatividade.
 
António Sousa Pereira

Dos Resistentes Antifascistas às memórias do futuro!

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Desde há muitos anos existe na toponímia barreirense uma Rua que presta uma justa homenagem aos Resistentes Antifascistas, que foram muitos, e, na verdade, nem todos foram presos pela PIDE. Há muitos esquecidos. Foram Comunistas. Católicos. Socialistas. Republicanos. Sem partidos. Sem religião. Homens e Mulheres de corpo inteiro. Este imenso património imaterial, muito dele guardado na Torre do Tombo, devia merecer investigação. Preservação. Tanta coisa já se perdeu.  

 

Hoje pela manhã passei naquela artéria, e, enquanto descia a rua, no meu pensamento ocorriam-me muitas memórias. Afinal, todas as ruas têm memórias inscritas. Tanta coisa que me ocorreu ao pensamento. São as memórias dos lugares.

Ali, nos TCB, vivi a trabalhar uns dias, depois de cinco anos de “prateleira”.

Um dia, o Carlos Maurício, lançou-me o repto de ir para a Protecção Civil, e, por ali estive uns meses a desembrulhar documentos encaixotados. O arquivo do extinto Serviço Municipal de Protecção Civil, criado nos tempos do João Pintassilgo, numa epopeia histórica da Isabel Tavares, que contou a colaboração do Comandante Encarnação Coelho, um tempo em que se dinamizou o primeiro Plano de Protecção Civil da Quimiparque. Este que foi um dos primeiros planos de protecção civil do país.

Enfim coisas, que as ruas trazem à memória.

 

Uma rua com mutas memórias. Recordei o dia que visitei o espaço da Fábrica de Cortiça, há anos abandonada.

Uma fábrica onde trabalhou o Ti’ Jerónimo Alves, Sócio Honorário da SFAL, que não foi preso pela PIDE, mas que foi chamado à António Maria Cardoso, ele, e o Ti` Mário Saraiva, também Sócio Honorário da SFAL, porque a SFAL promoveu um Colóquio com Urbano Tavares Rodrigues. Não foram presos. 

A fábrica de Cortiça que passou para propriedade da Câmara Municipal do Barreiro, na gestão de Helder Madeira, para ali localizar as novas Oficinas dos TCB, processo que, depois, foi concretizado na gestão de Pedro Canário.

Naquele tempo, quando se contavam os tostões para manter vivos os transportes públicos, sem apoios governamentais, sem a contrapartida devida dos passes sociais. Não havia PRR. Nem se cumpria a Lei de Finanças Locais.

Este serviço, era, e continua a ser um serviço essencial na comunidade. Os TCB que receberam o maior investimento público municipal, estratégico, realizado na última década, desenvolvido e concretizado na gestão da CDU, com o apoio do governo PS, e, concluído na gestão autárquica PS. A remodelação total da frota.

É assim a vida autárquica uns resolvem uns problemas, outros resolvem outros. Há espaços abandonados que deixam de estar abandonados. Nada de novo. Mas há aqueles que, enfim, acham que o mundo começa sempre, sempre, no agora. Parece uma cassete. Não há nada a fazer. Há quem chame a isto populismo. Mas, nos tempos de hoje, pelos vistos, é o que está a dar votos.

Pois, até há espaços que estavam abandonados e, hoje, ou, já há muito tempo, podiam ser um amplo espaço público aberto, um imenso espaço verde, junto ao Tejo e à natureza. E lá continua há 7 anos ao abandono – a Quinta de Braamcamp.

 

Mas andava por ali, naquela rua, dos Resistentes Antifascistas e recordei, uma conversa que tive com o Ti Flávio Alves, um homem preso pela PIDE, devido à grande jornada da bandeira vermelha. Ele comentou as reuniões que se faziam nos terrenos, junto à Estação do Lavradio, ao cimo da rua, para preparar greves ou jornadas de luta. Uma delas o 18 de Janeiro de 1934.    

 

Pensava em tudo isto e na minha memória sentia o pulsar de uma memória, aquela de uma comunidade que lutou, sofreu, sentiu, na pele, no corpo e na consciência a dor do amor á liberdade, perante um regime opressor.

Sim, essa é uma das marcas culturais do concelho do Barreiro, uma realidade que está inscrita na memória desta comunidade, essa realidade de resistência e luta, de amor à democracia, que se vivia na vida associativa, esse amor à Liberdade que nascia nos movimentos das crianças e jovens que davam alegria aos dias, nessa epopeia que escrita a palavras de ouro que se dizia : JJB – “Jogos do povo e para o povo”, frase que a censura cortou num artigo que escrevi para o Noticias da Amadora.

O concelho do Barreiro, apesar de alguns quererem nos últimos tempos ignorar, foi uma terra operária, de cultura solidária, de relações de vizinhança e proximidade, de cultura de fábrica. Homens e mulheres com um legado histórico de luta e combate, pela Liberdade e Democracia.

Uma terra onde, no dia 4 de Outubro de 1910, antes de ser assinalada em Lisboa, nos Paços do Concelho do Barreiro, era assumida a implantação da República, sendo a Comissão Administrativa, que tomou o poder, composta por homens amantes da Democracia, na sua maioria, homens justos e livres que integravam a loja da Maçonaria do Barreiro.

Uma terra que após o 25 de Abril, em que todos decidiram destituir a Câmara Municipal do Barreiro, foi nomeada uma Comissão Administrativa, composta por 19 pessoas, de diferentes orientações políticas, de diversas áreas de pensamento, que abriram caminho ao Poder Local. Uma Comissão presidida por Helder Fráguas. Um vulto cultural e civico. Uma Comissão que era bem um exemplo da pluralidade e da democraticidade conquistada com Abril. Uma memória da democracia por escrever, como exemplo de democraticidade e respeito pelas diferenças.

 

Uma terra que ao longo de gerações foi humilhada com cavalos nas ruas, o medo a aterrorizar, as escutas nos cafés e no seio das famílias. Uma terra onde a resistência doía e o silêncio era a forma de evitar os que gostavam de cultivar o pensamento único.

Uma terra que, um dia, um amigo falava-me que exista o “reviralho”, que também era resistente, pela calada da noite, alguns barreirenses que, durante o dia desempenhavam funções na vida social e, depois, de noite eram resistentes ou resilientes, muitos daqueles que diziam com orgulho: “Sou do Barreiro”, porque ser do Barreiro era ser de uma terra de referência, de luta, de trabalho e de resistência.

Recordo um médico que de dia conviva com o regime, era peça do sistema, e, à noite, pelo silêncio da noite, era conduzido, até às casas esconderijo, para prestar assistência médica aos comunistas na clandestinidade.

Por isso, ao passear pela Rua dos Resistentes Antifascistas, recordei que há muitos mais, mesmo muito mais, resistentes no concelho do Barreiro, que aqueles que estão registados na Torre do Tombo e nos arquivos da PIDE. Há uma cultura. Há um património imaterial, único.

Homens e Mulheres que viveram a democracia, a luta pela democracia, o amor à Liberdade, o combate pelos direitos humanos, com dignidade, em gestos e atitudes que foram mais, muito mais, que um acto abnegado de coragem ou bravura, ou de acaso da vida.

Foi acção politica! Foi acção de resistência! Foram décadas! Foram gerações!

Foram homens e mulheres que, no silêncio, muitos sem puxar de louros, viveram as suas vidas com a palavra Dignidade, de quem não dobra o joelho, de quem não teme os poderes instituídos, reis de circunstância, e, por isso, assumiam as vidas com a força de ser cidadão, cidadão de corpo inteiro, com direitos e deveres.

Cidadania! Ser cidadão! Actos de consciência civica! Actos de Liberdade!

Homens e Mulheres que sonharam, sofreram, de forma resiliente, com lágrimas no coração, para ver nascer aquela madrugada pura e limpa. Quantas lágrimas de mães, filhos e netos, que não sentiram a prisão, mas sentiram no coração, a luta dos seus, pelo amor à Liberdade.

“Por trás daquela janela está meu amigo”, cantava Zeca Afonso, a propósito de um preso político do Barreiro. Alfredo Matos.      

 

Tudo isto ocorreu-me hoje, de manhã, ao passar na Rua dos Resistentes Antifascistas, ali, no Lavradio.

Obrigado a quem, um dia, decidiu prestar esta homenagem, a todos e todas, sim, a todos e todas, que lutaram pela Liberdade, inscrevendo esta memória na toponímia barreirense. Na verdade, estão lá, naquela rua, os presos e os não presos. Está ali a cultura de uma terra, que se fez com trabalho, com memória e com luta. Resistência.

Um legado, um património imaterial que orgulha, sim orgulha, este orgulho de amar a Liberdade. De resistir. De ser resiliente. De ser Barreiro.

 

O Barreiro foi uma terra de resistência. O problema é que, nos últimos tempos tem havido por aí uma lufada de pensamento que na ânsia de tapar da história o PCP, até tem tapado a história da resistência, da cultura barreirense. Aliás, por vezes, até se cultiva a ideia que o atraso, o dito abandono do Barreiro, a não exploração do potencial, tudo isso, afinal, só tem um culpado o PCP.

A suburbanidade a que esta região tem sido legada a culpa é do PCP. Coisas da democracia. E depois queixam-se dos votos de protesto ou de indignação contra o sistema. Ontem era o PCP o culpado, e, um destes dias, outros vão seguir-se. Aliás, na recente campanha eleitoral já se dizia que a culpa do atraso é da esquerda. E, quem sabe, mais tarde, serão outros, se isto, de facto, continuar a ser o paraíso do imobiliário, sem empregos, e, não passar de uma zona suburbana que diariamente viaja para a outra margem. Pois, é verdade, cada vez são mais.

Depois será tarde. Enfim, basta recordar Brecht!

 

Mas, entretanto, quando bebia uma café, apareceu amigo que me contou estórias dos seus dias, aqui no centro do Barreiro, quando viveu o drama de sentir o Parque António Oliveira Salazar, hoje Parque Catarina Eufémia, cercado por GNR, após uma guerra de ovos, nos dias de carnaval, e, na fuga, levou uma cacetada no ombro, que rasgou a pele, e, ainda hoje, tem a marca desses dias no corpo e no brilho dos seus olhos. A GNR metia medo.

Não sei o que ele é politicamente. Não é do PCP. Nunca foi preso. Nem nunca foi à Pide. No seu Bairro operário havia bufos. Havia lutadores. Esteve nas lutas das eleições de 1973. Ele, como muitos jovens da sua geração, têm bem gravado na memória esses dias de amor à Liberdade, memórias da cultura da sua terra. Terra dele, que não é a minha. Minha, é só a raiz que cá tenho dos meus filhos e neta.

 

Uma geração que viveu o amor à Liberdade, uma luta que ficou inscrita em muitas gerações,  que nem cavalos, baionetas, ou bastonadas, silenciavam.

Uma cultura que ela mesma está cantada nas vozes de poetas, como Manuel Alegre: “Há greve no Barreiro!”

“Não esqueço aquele dia que os cavalos entraram no café Pilar, ali no Largo da Santa”, disse-me ele.

Eu comentei : “Sabes, tu devias ser condecorado pela tua bravura e coragem”. Ele sorriu. Eu sorri. 

 

Sim esta rua, a Rua dos Resistentes Antifascistas é, sem dúvida, uma rua com muitas memórias.

E, diga-se, ali, começam já, nos dias de hoje, a estar inscritas as memórias do presente, que vão ficar como memórias futuras – o Mercadona está a nascer. O novo potencial.

E lá longe, muito longe, ficam tantos sonhos…que se perdem nas águas do Tejo.

 

António Sousa Pereira

Agora

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Estou cansado do jogo de palavras, de sentir a cidade embrulhada num labirinto de silêncios, ruídos que afagam as palavras, e, na penumbra aniquilam as vozes, sempre que o sol começa a florir. A cidade deita-se no silêncio.

 
O jogo de palavras é um jogo secundário. Tácticas. Retóricas. Conflitualidades inúteis. Desconstrução. Reescrever a história. Ilusões.
O jogo de palavras vai para além da realidade. O jogo de palavras é tornar o presente vazio, é discutir um golo que não foi golo, um fora de jogo por 5 milímetros. O malabarismo.
O jogo de palavras é um pensamento único, ganha sempre quem melhor argumenta, não interessa o quê, nem como, o importante é refutar, humilhar o outro. Silenciar. Destruir carácter.
 
O jogo de palavras é um jogo de poder, de domínio da opinião, de controle de opinião. É uma conversa sem memória, que quer apagar a memória. Talvez por isso, apenas por isso, o jogo de palavras, é sempre o agora que conta, porque, afinal, no agora, não há passado, nem futuro. É apenas um jogo de palavras, sem visão do mundo, um alimentar de pensamento virtual, a circunstância. Animar as redes sociais. Gerar um mundo virtual. O agora.
 
O jogo de palavras é o marketing para vender e motivar o consumo. O jogo de palavras vive dos sucessos, do foco, de valorizar vitórias, cria papões, glutões, e, na verdade, ignora o pensamento que faz humanidade e a vida que floresce, quotidianamente, na palavra fraternidade.
 
O jogo de palavras sente-se numa civilização que convive serenamente, sorrindo, com grandes sorrisos, com a miséria, a fome, e, ao seu lado, diverte-se num novo riquismo balofo.
O jogo de palavras não é um diálogo, é um jogo de pensamento único, disfarçado em suculentas ambições de sobrevivência. O jogo de palavras cultiva a inveja, cria inimigos de estimação, fomenta teorias da conspiração, é um jogo de bons e maus. Estou cansado!
 
O jogo de palavras é o lodo onde sucumbe a democracia.
O jogo de palavras mata a palavra fraternidade.
Quem me cortou o sol? – interrogo-me.
 
António Sousa Pereira
 

«Fabricado no Barreiro»: a banalidade do ano 2023

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Hoje, dia 4 de janeiro de 2024, quando fui à farmácia, surgiu, nem sei a que propósito a conversa do “fabricado no Barreiro”, e, na verdade, o que escutei foram risos e comentários – “agora tudo é fabricado no Barreiro…e, no meio da conversa, alguém acrescentava, “se isso fosse a realidade”. E de facto só dá para rir.  

José Tolentino Mendonça, numa das suas crónicas, publicada no livro «A mística do instante», recorda que a filósofa Simone Weil, trabalhou numa fábrica, e, dessa sua experiência escreveu no seu diário uma reflexão : “Que cada um no seu próprio trabalho seja um tema de contemplação”.

O Cardeal Tolentino Mendonça, refere que Simone Weil, descobriu, nessa realidade, no seu trabalho, que a contemplação, lhe estava vedada na fábrica, porque, ali, afinal, o dever número um, pelo qual todos eram compensados, ou punidos, era a velocidade da produção, monótona, maquinal, desumanizada.

Simone Weil, salientava que, como ser pensante, com recordações e fragmentos de ideias, sentia que na fábrica, a única coisa que contava era : “que o homem possa funcionar mecanicamente como peça de uma engrenagem”, e para ela, “isso representa, mais cedo ou mais tarde, a destruição do homem”.

Ocorreu-me ao pensamento este texto, quando, no passado mês de dezembro, ao abrir a minha caixa de correio, encontrei o tradicional cartão de Boas Festas da Câmara Municipal do Barreiro, e, nele, bem no centro, bem visível, para que todos pudéssemos “contemplar” lá estava “imposta” aquela célebre frase da gestão 2830.

Enfim, uma frase que que vai ficar para a história como a marca de um modelo de gestão que aposta na imagem, no culto da personalidade e vive da politica de surf, ou seja, das coisas herdadas do passado e das coisas que vão nascendo, ou privadas ou pública, tudo isto se resume à frase : Fabricado no Barreiro.

Pessoalmente, já sabia, de anos anteriores e, também, de novo este ano renovado, que afinal, agora, coisa que nunca aconteceu nas últimas décadas pode dizer-se: “Barreiro - aqui há Natal”.

Assim, para além do Boletim da comunicação autárquica “Jornal  Aqui Barreiro”, convém não esquecer, e, portanto acrescentar ao  “Aqui há Natal”, coisa que sabemos é inovadora, também agora, o Natal é “Fabricado no Barreiro”.

 

Eu que sou velhote, sempre associei o Natal a palavras como fraternidade, amor, solidariedade, paz, boa vontade, família, amizade, ternura, carinho, esperança, entre outras, nuca senti o Natal com essa dimensão intelectual socializante do “Fabricado no Barreiro”. Ignorância minha.

Todos sabemos, ou muitos sabem, e conhecem a tal célebre frase da CUF, a marca de Alfredo da Silva :“O que o país não tem a CUF cria”, desconhecia, e, esta é para mim é a grande novidade que fica a marcar o ano 2023, afinal, o Natal, essa festa universal, é “fabricado no Barreiro”.

 

Na verdade, já nas Festas do Barreiro do ano 2023, esse slogan, da gestão socialista, foi imposto como o lema daquele evento que, na verdade, largamente transcende qualquer gestão autárquica, pois é um evento com mais de 300 anos.

O «Fabricado no Barreiro» é, na verdade, um slogan fantasioso, desligado da realidade, é a mera expressão de um pseudo “narcisismo local”, é um slogan vazio, que pretensiosamente procura fazer, eventualmente,  a ponte entre a cultura empresarial e industrial dos ferroviários, da CUF, com a actualidade, mas não tem qualquer conteúdo, porque não tem qualquer projecto, nem se vislumbra uma estratégia subjancente.

 

Aliás, a única “ideia” que emerge deste slogan deve é o querer fazer cidade e cidadania, com base no conceito de “produçãol”, como quem considera que “produzir cidade” é “arquitectar cidade”, é “fabricar cidade”, é olhar para o território e zás, a cidade é isto, que uns ilustres pensadores germinaram, ali, para o mausoléu do Largo das Obras, de tal forma que, agora, até já se fala “em fabricar o Barreiro novo”.

 

Quando se afirma em “fabricar um Barreiro novo” é porque se considera que há outro Barreiro «o velho que tem que ser desmantelado. E pessoalmente gostava de conhecer esse Barreiro Novo. O que vejo é nascer, a todo o vapor, a cidade do betão.

 

Esse, Barreiro Novo é algo que ninguém conhece, que está no segredo dos gabinetes dos “pensadores da cidade”, os fabricantes, sem a participação dos cidadãos, é, sem dúvida essa a cultura do “fabriquismo”. Eles é que sabem.   

O fabriquismo é uma ideologia, sem ideologia, é marketing de vazio, sem ideias

Fabricado no Barreiro é uma espécie de Barreiro  2830, que quer produzir um “orgulho local”, vazio de identidade e de memória.

O fabriquismo o que pretende é, regar geral, dizer que para trás tudo esteve mal, para depois erguer a bandeira – “tá melhor có que estava”. É isto o fabriquismo.

O fabriquismo é a história de milhões, muitos milhões, ou do PRR, ou de privados, fruto das circunstâncias, que nada tem a ver com um projecto de cidade.

O fabriquismo está a fabricar um Barreiro Novo que só se pensa no centro, a 15 minutos de Lisboa, e é incapaz de se pensar como uma centralidade da Península de Setúbal e da AML. Daí o silêncio sobre a localização do aeroporto, ou o salta pocinhas sobre a Terceira Travessia do Tejo. Ou a ausência de uma séria reivindicação de construção da ligação da ponhte Barreiro - Seixal. Ou até o pensar conceitos de cidade-concelho, polinuclear, que vai para além, muito para além da cosmética de rotundas e de pseudo recuperações de antigas zonas ferroviárias, ou de bairros sociais.

 

Em suma, o slogan da gestão 2830 – Fabricado no Barreiro – foi, para mim, a banalidade do ano 2023, mas é uma banalidade que espelha as politicas de surf, que vão gerindo a cidade de acordo com os acontecimentos, sem outra visão que não seja a cidade do IMIé .

 

Se, para mim, este slogan estava morto, ou era apenas um slogan, abraçado pela gestão 2830, agora ao dar-lhe a dimensão natalícia, ficou reduzido a isso mesmo, é uma banalidade, porque espelha a dimensão do fabriquismo que tudo quer municipalizar.  

 

Afirmar : Fabricado no Barreiro é como afirmar a cultura do «fabriquismo», cuja essência visa a desconstrução da memória, negar o legado de outras gerações, forjar a ideia que um “mundo novo” está a nascer - “um novo Barreiro”.

 

Hoje, dia 4 de janeiro de 2024, quando fui à farmácia, surgiu, nem sei a que propósito a conversa do “fabricado no Barreiro”, e, na verdade, o que escutei foram risos e comentários – “agora tudo é fabricado no Barreiro, e, no meio da conversa, alguém acrescentava, “se isso fosse a realidade”.

E, de facto, isto só dá para rir. Vão lá dizer o contrário aos criadores.

 

O fabriquismo não é um pensamento de fazer cidade e cidadania é apenas um modelo de marketing político, de gestão de imagem, e, cuja finalidade é promover visões e ilusões para manter o poder pelo poder.

Como escrevi, noutro texto, o fabriquismo é a promoção de um orgulhismo patético, que não tem valores, nem princípios, é a-ideológico, e, apenas quer contribuir para estimular o populismo.
Do “Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local” ao “Barreiro – aqui há Natal – Fabricado no Barreiro”, reside a banalidade de um barreirismo sem alma.

Divirtam-se.

 

António Sousa Pereira

O Amor semeado em 20 de Setembro de 1950

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Nós, todos nós, somos herança de quem nos antecedeu, os nossos pais, os nossos avós, perdendo-se no tempo as raízes da nossa identidade.
Há registos mais recentes, outros mais distantes, e, ao viajarmos pela cronologia do tempo, sentimos as nossas raízes algures.
 
As minhas devem estar em Arrenilha de Santo António, destruída pelo terramoto de 1755, que depois deu origem à vila pombalina, fundada com a vontade de Marquês Pombal – Vila Real de Santo António.
Se olharmos para a planta da fundação de Vila Real de Santo António, os meus avós viveram todos no quarteirão 22, que ficou divido em 22A e 22B, porque foi rasgado pela conhecida Rua Estreita.
 
Os avós paternos na Rua da Princesa. Os avós maternos na esquina da Rua Estreita, com a conhecida Rua da Espanha, esta, no tempo da fundação, era o limite da Vila.
Nessas ruas de gente de trabalho estão as minhas raízes.
O meu avô paterno era Calafate, uma profissão especializada na época. A minha avó paterna pelo que me constou não tinha vida profissional .
 
O meu avô materno era pescador do rio, com barco próprio e actividade artesanal. O escritor Vicente Campinas identificou num personagem da sua obra - o António Gigante - no seu romance «Os Fronteiriços». Também sei que era um brilhante artesão, construía veleiros - estilo bacalhoeiros - de formatos pequenos e metia-os depois dentro de garrafas erguendo as velas e mastros com fios. O meu Tio António tinha um exemplar em casa dele, ficava deliciado a observar aquela beleza.
O meu avô juntava a sua actividade de pescador do rio, com a tarefa de estabelecer comércio clandestino entre Portugal e Espanha. Levava produtos para a raia espanhola e trazia outros para as margens de Portugal. A minha avó materna era operária conserveira. Foi essa profissão que legou à minha mãe.
 
Foi com a minha avó materna que eu vivi, após o ano 1960, quando fiquei órfão de mãe, ali, nessa casa na Rua da Espanha, na esquina com a Rua Estreita.
A minha rua. Será sempre a minha rua. Uma rua que era um bairro. Uma rua que era uma família. As portas abertas. As brincadeiras. As conversas, nas noite de verão, de um lado para outro da rua. Uma rua de gente que se respeitava.
 
É nessa gente de trabalho, nesse viver solidário que cresci, cultivando a amizade, essa amizade que se inscreveu para a vida. O Narciso. O José Henriques. A Betinha. O Chico. O Tomás. O Gabriel. O Machadinho. O Nelson. Tantos nomes que ficaram inscritos e fazem parte daquilo que sou.
Aquela era a rua da Tia Maria Parra, da Tia Maria Neto, do Sebastião, barbeiro, do Mestre Zé Branco, carpinteiro, do Orlandino, do Alexandre, do João Paulo, da Adélia, do Sanina, do Juca, estes e tantos nomes que estou a visualizar os seus rostos, mas os nomes voaram pela memória do tempo.
 
Mas, afinal, a que propósito estou a recordar tudo isto, quando queria apenas recordar que faz hoje 73 anos que os meus pais casaram.
O meu pai e a minha mãe, ambos com raízes nesse quarteirão 22, esse que liga, entre si, a Rua Estreita, a Rua da Espanha, a Rua da Princesa e estão no epicentro do Largo da Bica.
 
Recordo porque, há precisamente 73 anos, o Pereirinha e a Rita deram o nó, para a vida.
Pelo que foi dito, embora tudo tivesse sido tratado para que o casamento se realizasse na Igreja de Vila Real, onde terá decorrido todo o processo e registos, à última hora, o Padre terá decidido deslocar a cerimónia para a Igreja de Castro Marim.
O meu contou-me que estava a trabalhar em Santa Luzia, lá para os lados de Tavira, e após terminar a noite de trabalho na padaria, veio de bicicleta para Vila Real e, depois, lá foram os noivos, a pedalar rumo ao casamento em Castro Marim.
 
O meu pai contava 23 anos. Exercia a profissão de Padeiro. A minha mãe 20 anos. Exercia a profissão de Operária Conserveira. Começaram por viver na zona das Hortas, nos arredores, no terreno do Manuel Belião.
Depois vieram viver para a Avenida da República, junto ao Guadiana, perto da Barbearia do Zé Tacão. É dessa zona que guardo as mais belas recordações da minha infância. O rio. Os barcos. Os cânticos que se escutavam oriundos de Espanha. Os presépios de Natal. E aquele quadro de veludo com Jesus Cristo, na cruz. Uma memória que nunca esquecerei. Vi a minha mãe chorar, agarrando-o nas mãos.
Um quadro que a minha irmã Josefa um dia disse-me: “Estava em casa, foi guardado pela avó. Está aqui, é para ti.”
E está, de facto, no meu escritório. Uma companhia.
É dessa casa que tenho dentro de mim o sorriso alegre da minha mãe, o seu carinho e ternura. O meu pai era mais desligado. Viviam solidários.
 
Deixaram três filhos – António, Carmina e Josefa. O primeiro, Humberto, não viveu um ano.
O Pereirinha, jogador de futebol, da equipa do Celeiro, onde alinhou ao lado do Cavém, o internacional do Benfica.
A Rita sempre irreverente, com um sorriso a brilhar nos lábios. Uma mulher de fé e com grande amor pela vida.
Viveram felizes até que a minha mãe partiu tinha 30 anos. Ficamos três crianças.
Eu e a Josefa na Rua da Espanha, com a avó.
A Carmina foi para a casa da Tia Arminda, integrando-se numa família de 4 primos, todos rapazes.
 
É verdade, faz hoje, dia 20 de setembro, 73 anos que eles - Rita e António - uniram o coração, construindo um futuro, que se propagou e está a pulsar, vivo, bem vivo, pelo Barreiro, por Vila Real de Santo António, por Cabanas de Tavira, pelos Estados Unidos da América, por Amesterdão.
Filhos, netos e netas, bisnetos e bisnetas que sentem, não tenho dúvidas, carinho pelas suas raízes.
 
António Sousa Pereira
 
 

Se todos percebessem o valor que tem para um homem um aplauso, de pé!

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Augusto Sousa, ontem, ao fim da tarde, ali no Auditório Municipal Augusto Cabrita, no dia que se celebraram 40 anos da fundação da RUMO, recebeu um caloroso aplauso, de pé, todos de pé, num só som, num gesto humano e simples, um aplauso, neste tempo de pandemia, tem a força de um abraço enorme, assim como quem diz: Obrigado, Augusto Sousa.
 

Luisa Malhó, Directora do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, no decorrer da sessão de encerramento do Seminário Comemorativo dos 40 anos da RUMO, recordou que, nos anos 80, quando na região se sentiam os efeitos de um processo de desindustrialização – há 40 anos atrás, quando o mundo era bem diferente, nesse tempo, que ela, recém licenciada, estava a iniciar a sua vida profissional no Centro Regional da Segurança Social, perante a necessidade de implementar o Programa Escolhas, partiu para o terreno, e, então, veio rumo ao Barreiro para reunir com Augusto Sousa, um rosto que era indissociável da RUMO. Um nome de referência na região.
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A RUMO recordou desenvolvia um trabalho pioneiro na área social no Distrito de Setúbal.
A RUMO tinha um rosto, esse rosto era Augusto Sousa – um pioneiro em matérias de inovação e criatividade, salientou Luisa Malhó.
E, ali, neste século XXI, ao recordar o fundador da RUMO, pediu a todos que lhe prestassem uma homenagem com um aplauso.
A sala ergueu-se, de pé, num caloroso e intenso aplauso a Augusto Sousa. Um gesto de gratidão.

Augusto Sousa, nos dias de hoje aposentado, é um homem que continua no quotidiano a debater ideias, a intervir, a participar em projectos, a viver a cidadania activa.


Teima em manter vivo o sonho da inovação, da criatividade.
Teima em manter viva, essa ideia simples que viver a vida é aprender, que aprender é inovar, criar, sonhar.
Teima em acreditar que não há nada que pague, esse sentimento de vida activa, de ajudar a sonhar num mundo melhor.
Teima em acreditar que pela nossa acção damos um pequeno contributo para semear essa semente que, ora aqui, ora ali, dá um pequeno fruto que mantém a porta aberta à esperança.
Teima em acreditar no sonho de um mundo melhor, mais humanizado, e mais inclusivo.

Augusto Sousa, ontem, ao fim da tarde, ali no Auditório Municipal Augusto Cabrita, no dia que se celebraram 40 anos da fundação da RUMO, recebeu um caloroso aplauso, de pé, todos de pé, num só som, num gesto humano e simples, um aplauso, neste tempo de pandemia, tem a força de um abraço enorme, assim como quem diz: Obrigado, Augusto Sousa.

Acompanhei ao longo de anos o trabalho de Augusto Sousa, a sua força e a sua vontade de servir, de superar as dificuldades, do esticar daqui, puxar para ali, de tempos duros, de tempos dificeis. Projectos. Candidaturas. Projectos que acabavam, por vezes, sem mais nem menos, sem justificação, só porque sim, porque existiam outros interesses, neste mundo de jogos e movimentações.
O Augusto Sousa, como disse Luisa Malhó, era uma referência de inovação e criatividade, de luta e vontade de fazer cidade e cidadania.

Uma luta que vem desses anos 80, o tal tempo sem internet, sem redes sociais, mas que Augusto Sousa, lutava e acreditava noutras redes, as redes humanizadas ao serviço da comunidade. E continua a acreditar.

Os exemplos da RUMO, do fazer cidadania, do fazer comunidade, muitos, de muitos lados do Alentejo à área metropolitana, pela Europa, receberam as sementes do Barreiro, do trabalho de equipa que é uma marca que perdura na RUMO. e por lá germinam.
Ainda hoje, continuam a renascer projectos e a serem definidas estratégia de intervenção social, em diversos pontos de Portugal e do mundo, cujas sementes foram lançadas de forma pioneira e embrionária no Barreiro. A cidade do associativismo.

Essas sementes que fazem sonhar e acreditar no tal mundo que é de todos, feito por todos. Um mundo de aprendizagem permanente. A tal aprendizagem ao longo da vida. Aquela que se aprende caindo, erguendo, voltando a cair e renovando forças. Acreditando.
Sempre acreditando nesse lema que faz parte da história da RUMO: PARA CADA PESSOA UM PROJETO DE VIDA.
Foi essa a missão que nos anos 80, em tempos duros, do século XX, marcou o trabalho da RUMO.
É essa a missão que continua, em tempos duros, neste século XXI, a ser a marca do trabalho da RUMO.

Foi giro, ao fim da tarde, 40 anos depois, escutar aquele aplauso a Augusto Sousa que, sendo para ele, é também para todos os que nos dias de hoje, no quotidiano, continuam a trabalhar fazendo da vida uma missão, de serviço social e de valorização das pessoas e da comunidade, porque, afinal, uma pessoa a viver melhor é uma comunidade a viver melhor.

Fica este registo, de um aplauso, que nos fez mergulhar em memórias.
Afinal, se todos percebessem o valor que tem para um homem um aplauso, de pé, certamente percebiam melhor o sentido da vida, o que é dar um sentido à vida. Não há preço que pague o calor de um aplauso, isso é que é lindo!
Parabéns RUMO! Obrigado Augusto!

António Sousa Pereira

Eduardo Lourenço – o homem que me fez sentir Europa e pensar o 25 de Abril na história

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Fez-me pensar Portugal no mundo. Fez-me pensar Portugal na saudade – do ser que somos e fomos.
Fez-me sentir a importância e o significado do 25 de Abril na história quase milenar de um povo. Uma marca única – o antes e o depois.
 
 

Lia. Guardava. Reflectia. Os seus textos no JL eram para mim um encontro com o pensar, e, dar asas ao pensamento.
Através da sua obra e dos seus textos, motivou-me a pensar Europa, a pensar Portugal na cultura europeia. Fez-me pensar Portugal no mundo. Fez-me pensar Portugal na saudade – do ser que somos e fomos.
Fez-me sentir a importância e o significado do 25 de Abril na história quase milenar de um povo. Uma marca única – o antes e o depois. Pensar este território europeu, onde a terra acaba e o mar começa, este território que a beijar o Atlântico, se fez mar, esse mar que se fez história, que se fez língua no mundo. Por isso, fez-me sentir essa data – 25 de Abril – na história e com a dimensão da epopeia milenar do meu povo. Esse, que sou, Portugal.
Fez-me sentir e pensar, esse momento único de ruptura da nossa história, uma referência inquestionável, do ser português, do ser Portugal – que foi no seu enorme passado e, também, naquilo que é, e será no futuro, tal como dizia o poeta, o Pessoa, que ele amava. Cumpriu-se o mar. Falta cumprir-se Portugal.

Esse Portugal que rasgou as portas do medo dos oceanos, abriu as janelas das incertezas, por onde espreitou – África, Brasil, a India e o Oriente, e, por fim, abriu um tempo de esperança, num mundo novo, esse, como diz Hegel, que foi o tempo e a epopeia que abriu as portas à história da modernidade da humanidade.
Tudo isto fui pensando e sentindo, com Eduardo Lourenço, mergulhando no tempo, no espaço, na memória, na história e nas estórias, em tudo isso, que faz uma identidade, única, inscrita no mundo, através de uma língua.
Essa língua que é a marca de um povo, esse traço de um povo pioneiro, um povo que se emociona, quando pensa com ternura África, um povo que raciocina quando pensa com ambição o ser Europa, um povo que se interroga e pensa com saudade o ouro do Brasil.
Um povo provinciano e cosmopolita. Um povo que abraça e se faz humanidade beijando e germinando, na sua imensa pluralidade.
Um povo que é saudade, essa saudade que se faz fraternidade.

Foi tudo que isto que aprendi a pensar com Eduardo Lourenço, na simplicidade dos seus textos, na profundidade das suas reflexões.
Obrigado, Eduardo Lourenço!

António Sousa Pereira

Sonhar e fazer vida!

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Eu não nasci para morrer enquanto estou vivo, é por isso, só por isso, que sinto as palavras rasgar o ventre, aí, onde tudo começa a germinar e a pulsar o coração.

 

Eu não nasci para morrer de morte morta, essa, feita de fantasmas que atemorizam, escondida nos nervos, e que fazem o homem morrer, ao transformar-se em silêncio, catavento, mero servo, obediente, criado de serviço, submisso, castrado de Liberdade.

 

Não. Eu sou dessa gente que escreve, que sente, que vê, que ama a vida e vive. Essa gente que não engole as palavras, nem espera enriquecer com os sons, esses que arrefecem as emoções, aquecem os passos, saltitando nas bermas de caminhos por construir, sempre por construir.

 

Não nasci para subir à custa do silêncio, nem quero construir os meus dias enterrando os meus sonhos de homem livre – como dizia um amigo meu que já partiu – quero estar, aqui e agora, com essa forma de estar nos dias, sempre a pensar ao contrário, do outro lado, daquele onde a vida sangra. Ser diferente, porque é nas diferenças que o mundo se transforma e a democracia floresce.

 

Sempre que senti os meus lábios presos de solidão. Abri uma janela para sentir o vento gelar os meus olhos, abrindo os braços e gritar, sim, apenas gritar aquela flor que está no meu coração – Liberdade!


É por isso que, mais que morrer no quotidiano vazio, submisso – ideologicamente perfeito de todas essas perfeições que fazem o poder – eu quero estar, aqui, neste lado, que me permite sonhar e fazer vida!

 

António Sousa Pereira

 

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