Uma viagem pelo tempo com as palavras – Memória, Amor e Gratidão.

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Desde há muitos anos existe na toponímia barreirense uma Rua que presta uma justa homenagem aos Resistentes Antifascistas, que foram muitos, e, na verdade, nem todos foram presos pela PIDE. Há muitos esquecidos. Foram Comunistas. Católicos. Socialistas. Republicanos. Sem partidos. Sem religião. Homens e Mulheres de corpo inteiro. Este imenso património imaterial, muito dele guardado na Torre do Tombo, devia merecer investigação. Preservação. Tanta coisa já se perdeu.
Hoje pela manhã passei naquela artéria, e, enquanto descia a rua, no meu pensamento ocorriam-me muitas memórias. Afinal, todas as ruas têm memórias inscritas. Tanta coisa que me ocorreu ao pensamento. São as memórias dos lugares.
Ali, nos TCB, vivi a trabalhar uns dias, depois de cinco anos de “prateleira”.
Um dia, o Carlos Maurício, lançou-me o repto de ir para a Protecção Civil, e, por ali estive uns meses a desembrulhar documentos encaixotados. O arquivo do extinto Serviço Municipal de Protecção Civil, criado nos tempos do João Pintassilgo, numa epopeia histórica da Isabel Tavares, que contou a colaboração do Comandante Encarnação Coelho, um tempo em que se dinamizou o primeiro Plano de Protecção Civil da Quimiparque. Este que foi um dos primeiros planos de protecção civil do país.
Enfim coisas, que as ruas trazem à memória.
Uma rua com mutas memórias. Recordei o dia que visitei o espaço da Fábrica de Cortiça, há anos abandonada.
Uma fábrica onde trabalhou o Ti’ Jerónimo Alves, Sócio Honorário da SFAL, que não foi preso pela PIDE, mas que foi chamado à António Maria Cardoso, ele, e o Ti` Mário Saraiva, também Sócio Honorário da SFAL, porque a SFAL promoveu um Colóquio com Urbano Tavares Rodrigues. Não foram presos.
A fábrica de Cortiça que passou para propriedade da Câmara Municipal do Barreiro, na gestão de Helder Madeira, para ali localizar as novas Oficinas dos TCB, processo que, depois, foi concretizado na gestão de Pedro Canário.
Naquele tempo, quando se contavam os tostões para manter vivos os transportes públicos, sem apoios governamentais, sem a contrapartida devida dos passes sociais. Não havia PRR. Nem se cumpria a Lei de Finanças Locais.
Este serviço, era, e continua a ser um serviço essencial na comunidade. Os TCB que receberam o maior investimento público municipal, estratégico, realizado na última década, desenvolvido e concretizado na gestão da CDU, com o apoio do governo PS, e, concluído na gestão autárquica PS. A remodelação total da frota.
É assim a vida autárquica uns resolvem uns problemas, outros resolvem outros. Há espaços abandonados que deixam de estar abandonados. Nada de novo. Mas há aqueles que, enfim, acham que o mundo começa sempre, sempre, no agora. Parece uma cassete. Não há nada a fazer. Há quem chame a isto populismo. Mas, nos tempos de hoje, pelos vistos, é o que está a dar votos.
Pois, até há espaços que estavam abandonados e, hoje, ou, já há muito tempo, podiam ser um amplo espaço público aberto, um imenso espaço verde, junto ao Tejo e à natureza. E lá continua há 7 anos ao abandono – a Quinta de Braamcamp.
Mas andava por ali, naquela rua, dos Resistentes Antifascistas e recordei, uma conversa que tive com o Ti Flávio Alves, um homem preso pela PIDE, devido à grande jornada da bandeira vermelha. Ele comentou as reuniões que se faziam nos terrenos, junto à Estação do Lavradio, ao cimo da rua, para preparar greves ou jornadas de luta. Uma delas o 18 de Janeiro de 1934.
Pensava em tudo isto e na minha memória sentia o pulsar de uma memória, aquela de uma comunidade que lutou, sofreu, sentiu, na pele, no corpo e na consciência a dor do amor á liberdade, perante um regime opressor.
Sim, essa é uma das marcas culturais do concelho do Barreiro, uma realidade que está inscrita na memória desta comunidade, essa realidade de resistência e luta, de amor à democracia, que se vivia na vida associativa, esse amor à Liberdade que nascia nos movimentos das crianças e jovens que davam alegria aos dias, nessa epopeia que escrita a palavras de ouro que se dizia : JJB – “Jogos do povo e para o povo”, frase que a censura cortou num artigo que escrevi para o Noticias da Amadora.
O concelho do Barreiro, apesar de alguns quererem nos últimos tempos ignorar, foi uma terra operária, de cultura solidária, de relações de vizinhança e proximidade, de cultura de fábrica. Homens e mulheres com um legado histórico de luta e combate, pela Liberdade e Democracia.
Uma terra onde, no dia 4 de Outubro de 1910, antes de ser assinalada em Lisboa, nos Paços do Concelho do Barreiro, era assumida a implantação da República, sendo a Comissão Administrativa, que tomou o poder, composta por homens amantes da Democracia, na sua maioria, homens justos e livres que integravam a loja da Maçonaria do Barreiro.
Uma terra que após o 25 de Abril, em que todos decidiram destituir a Câmara Municipal do Barreiro, foi nomeada uma Comissão Administrativa, composta por 19 pessoas, de diferentes orientações políticas, de diversas áreas de pensamento, que abriram caminho ao Poder Local. Uma Comissão presidida por Helder Fráguas. Um vulto cultural e civico. Uma Comissão que era bem um exemplo da pluralidade e da democraticidade conquistada com Abril. Uma memória da democracia por escrever, como exemplo de democraticidade e respeito pelas diferenças.
Uma terra que ao longo de gerações foi humilhada com cavalos nas ruas, o medo a aterrorizar, as escutas nos cafés e no seio das famílias. Uma terra onde a resistência doía e o silêncio era a forma de evitar os que gostavam de cultivar o pensamento único.
Uma terra que, um dia, um amigo falava-me que exista o “reviralho”, que também era resistente, pela calada da noite, alguns barreirenses que, durante o dia desempenhavam funções na vida social e, depois, de noite eram resistentes ou resilientes, muitos daqueles que diziam com orgulho: “Sou do Barreiro”, porque ser do Barreiro era ser de uma terra de referência, de luta, de trabalho e de resistência.
Recordo um médico que de dia conviva com o regime, era peça do sistema, e, à noite, pelo silêncio da noite, era conduzido, até às casas esconderijo, para prestar assistência médica aos comunistas na clandestinidade.
Por isso, ao passear pela Rua dos Resistentes Antifascistas, recordei que há muitos mais, mesmo muito mais, resistentes no concelho do Barreiro, que aqueles que estão registados na Torre do Tombo e nos arquivos da PIDE. Há uma cultura. Há um património imaterial, único.
Homens e Mulheres que viveram a democracia, a luta pela democracia, o amor à Liberdade, o combate pelos direitos humanos, com dignidade, em gestos e atitudes que foram mais, muito mais, que um acto abnegado de coragem ou bravura, ou de acaso da vida.
Foi acção politica! Foi acção de resistência! Foram décadas! Foram gerações!
Foram homens e mulheres que, no silêncio, muitos sem puxar de louros, viveram as suas vidas com a palavra Dignidade, de quem não dobra o joelho, de quem não teme os poderes instituídos, reis de circunstância, e, por isso, assumiam as vidas com a força de ser cidadão, cidadão de corpo inteiro, com direitos e deveres.
Cidadania! Ser cidadão! Actos de consciência civica! Actos de Liberdade!
Homens e Mulheres que sonharam, sofreram, de forma resiliente, com lágrimas no coração, para ver nascer aquela madrugada pura e limpa. Quantas lágrimas de mães, filhos e netos, que não sentiram a prisão, mas sentiram no coração, a luta dos seus, pelo amor à Liberdade.
“Por trás daquela janela está meu amigo”, cantava Zeca Afonso, a propósito de um preso político do Barreiro. Alfredo Matos.
Tudo isto ocorreu-me hoje, de manhã, ao passar na Rua dos Resistentes Antifascistas, ali, no Lavradio.
Obrigado a quem, um dia, decidiu prestar esta homenagem, a todos e todas, sim, a todos e todas, que lutaram pela Liberdade, inscrevendo esta memória na toponímia barreirense. Na verdade, estão lá, naquela rua, os presos e os não presos. Está ali a cultura de uma terra, que se fez com trabalho, com memória e com luta. Resistência.
Um legado, um património imaterial que orgulha, sim orgulha, este orgulho de amar a Liberdade. De resistir. De ser resiliente. De ser Barreiro.
O Barreiro foi uma terra de resistência. O problema é que, nos últimos tempos tem havido por aí uma lufada de pensamento que na ânsia de tapar da história o PCP, até tem tapado a história da resistência, da cultura barreirense. Aliás, por vezes, até se cultiva a ideia que o atraso, o dito abandono do Barreiro, a não exploração do potencial, tudo isso, afinal, só tem um culpado o PCP.
A suburbanidade a que esta região tem sido legada a culpa é do PCP. Coisas da democracia. E depois queixam-se dos votos de protesto ou de indignação contra o sistema. Ontem era o PCP o culpado, e, um destes dias, outros vão seguir-se. Aliás, na recente campanha eleitoral já se dizia que a culpa do atraso é da esquerda. E, quem sabe, mais tarde, serão outros, se isto, de facto, continuar a ser o paraíso do imobiliário, sem empregos, e, não passar de uma zona suburbana que diariamente viaja para a outra margem. Pois, é verdade, cada vez são mais.
Depois será tarde. Enfim, basta recordar Brecht!
Mas, entretanto, quando bebia uma café, apareceu amigo que me contou estórias dos seus dias, aqui no centro do Barreiro, quando viveu o drama de sentir o Parque António Oliveira Salazar, hoje Parque Catarina Eufémia, cercado por GNR, após uma guerra de ovos, nos dias de carnaval, e, na fuga, levou uma cacetada no ombro, que rasgou a pele, e, ainda hoje, tem a marca desses dias no corpo e no brilho dos seus olhos. A GNR metia medo.
Não sei o que ele é politicamente. Não é do PCP. Nunca foi preso. Nem nunca foi à Pide. No seu Bairro operário havia bufos. Havia lutadores. Esteve nas lutas das eleições de 1973. Ele, como muitos jovens da sua geração, têm bem gravado na memória esses dias de amor à Liberdade, memórias da cultura da sua terra. Terra dele, que não é a minha. Minha, é só a raiz que cá tenho dos meus filhos e neta.
Uma geração que viveu o amor à Liberdade, uma luta que ficou inscrita em muitas gerações, que nem cavalos, baionetas, ou bastonadas, silenciavam.
Uma cultura que ela mesma está cantada nas vozes de poetas, como Manuel Alegre: “Há greve no Barreiro!”
“Não esqueço aquele dia que os cavalos entraram no café Pilar, ali no Largo da Santa”, disse-me ele.
Eu comentei : “Sabes, tu devias ser condecorado pela tua bravura e coragem”. Ele sorriu. Eu sorri.
Sim esta rua, a Rua dos Resistentes Antifascistas é, sem dúvida, uma rua com muitas memórias.
E, diga-se, ali, começam já, nos dias de hoje, a estar inscritas as memórias do presente, que vão ficar como memórias futuras – o Mercadona está a nascer. O novo potencial.
E lá longe, muito longe, ficam tantos sonhos…que se perdem nas águas do Tejo.
António Sousa Pereira

Na Praceta José Domingos dos Santo, na Urbanização dos Loios, um espaço verde está completamente sem qualquer tratamento, nem rega. Pode-se dizer-se aquilo é terra de ninguém, está ao abandono.
A União de Freguesias do Barreiro e Lavradio divulgou a realização de uma intervenção em diversos pontos do espaço público na Urbanização dos Loios.
E, na verdade, dito, está sendo cumprido. As obras são visíveis no melhoramento de alguns recantos, com intervenção nos passeios e zonas verdes envolventes.
A pergunta que se coloca é a seguinte: porque razão estão melhorados aqueles espaços, enquanto outros estão ao abandono?
Pelo que apuramos, no diz que diz-se, existirá um problema com a ligação do sistema de águas, da competência da Câmara Municipal, e, este assunto arrasta-se sem solução.
Fica esta triste imagem. Talvez um dia, qualquer dia, de novo aquele espaço volte a ser verdejante.
António Sousa Pereira

Desde que surgiu o slogan «Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local», nunca fui muito apreciador do dito, porque me transmitia um sentimento nostálgico, depressivo, saudosista, e, simultaneamente triste porque era vazio de um sentido, qualquer coisa que apontasse uma ideia positiva no fazer cidade.
Se não estou em erro este slogan surgiu ligado à promoção de uma eventual plataforma que seria criada, ou estava a ser criada, com a finalidade de dinamizar o tecido empresarial local. Neste contexto e vivendo-se um tempo pós desindustrialização, até, não liguei aos meus sentimentos, porque, na verdade, admiti poder tratar-se de um pensamento – slogan - que podia trazer atrás de si alguma ideia estruturante para dinamizar, dar energia e força ao tecido empresarial local, que, sem dúvida, de alguma forma já, há algum tempo, vivia com grande resiliência e enfrentava uma situação depressiva, tal como todo o concelho, quer devido ao processo de desindustrialização, quer devido às crises financeira e imobiliária, assim como aos tempos de troika, e, ainda, os tempos de pandemia COVID 19.
Por tudo isto olhei e pensei o slogan com algum desconforto, mas, enfim, dei o benefício da dúvida por pensar que seria parte de uma estratégia de coaching, para estimular o tecido empresarial. Coisa que, depois, na prática, nunca senti nascer qualquer dinâmica especifica.
Mas, o dito slogan, na realidade começou, pouco a pouco, a fazer parte da estratégia de comunicação autárquica. É como tudo, primeiro estranha-se, e, como diria o poeta, depois entranha-se. Engole-se.
Mais tarde, com a abertura da Start up Barreiro, notei que o dito slogan aparecia associado à divulgação de eventos que eram promovidos naquele equipamento municipal, o qual é dito como apostado na promoção do desenvolvimento empresarial e económico. Foi, talvez, com esse objectivo que Bruno Vitorino, lançou a ideia, embora, acredito tinha outras ambições, dado que sempre defendeu a criação de uma Agência de Desenvolvimento Local.
Em suma, o slogan «Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local”, acaba por transformar-se como um lema que pretende transmitir um pensamento politico de desenvolvimento local, e, através do qual o executivo municipal, pretende dar a sua visão do pensar futuro.
Assim, pouco a pouco, ao longo do tempo, a comunicação autárquica, foi enxertando este slogan nos seus documentos e procurou introduzi-lo na vida local, afirmando-o como uma ideia-força do pensamento estratégico do executivo maioritário, e, naturalmente, só dele, dado que nunca escutei a discussão, abordagem ou aprovação do dito slogan, numa reunião da autarquia, nem sequer foi aprovado como lema do município, pelo executivo municipal. Que eu saiba, não houve nem aprovação, nem reprovação em reunião de Câmara. Foi sempre um não tema. Um não assunto.
Este era o slogan que exprimia o pensar cidade e o fazer cidadania, da gestão maioritária. Que decidiu, está decidido.
Na verdade, desde que o dito slogan foi criado senti nele um profundo vazio, até, sublinho, senti nele a expressão de um certo “narcisismo local”.
Por várias vezes, estive vai não vai, para escrever e expressar a minha interpretação sobre este slogan, reflectir sobre a minha interpretação do seu conteúdo, que me parecia querer vender gato por lebre, não passando de um mero slogan aculturado, que era expressão de uma ideia de desconstrução do passado, e, que pretendia ser a expressão de um tempo de transição, marcando a diferença, entre uma cidade que tinha uma identidade de cultura de fábrica, e, o nascer de um tempo novo, marcado pela perda de identidade e carente de puxar pelo “orgulho local”. Dar uma nova dimensão à cidade valorizando as emocionais mudanças e criando uma gestão de sentimentos e promoção de emoções, fruto de uma cidade à procura de si mesma, e, perante todas esta nova realidade o município colocava-se como força central do fazer cidade. Um erro estratégico, porque a cidade é de todos e não do município.
Não escrevimada, afinal, achei que se o município adoptava este slogan devia ter alguma visão estratégica e pensamento politico que ao longo do tempo seria, naturalemte, desenvolvido e certamente afirmado.
Para afirmar orgulho de qualquer coisa é preciso mais que a palavra orgulho, é preciso que existam valores e objectivos.
Nunca expressei a minha insatisfação com o vazio que sentia existir neste slogan. Silenciei. Muitas vezes, na vida, é melhor calar. Mas calar, tem um tempo quando, a vida, por factos e coisas, faz emergir a realidade que se esconde por trás de um slogan. Um vazio. E uma dimensão politica e ética, meramente circunstancial e sem visão de futuro.
Foi por isso que comecei por estranhar o facto de nas Festas do Barreiro, em honra de Nª Srª do Rosário, as Festas da Cidade, que tem uma Comissão de Festas, ser esse o slogan adoptado como lema do material promotor das festas, independentemente de o principal financiador das Festas ser a Câmara Municipal do Barreiro, as Festas são um evento de dimensão histórica e cultural na vida do concelho.
Na realidade, considerei que o município estava a utilizar um evento com raízes profundas na vida da comunidade para promover uma campanha de marketing municipal. Fez-me lembrar os tempos que a Festa do Barreiro, foi realizada com o lema – Festas da Paz e da República, promovidas pela Comissão Administrativa, após o 25 de Abril.
Mas pronto, o poder absoluto tem estas coisas, por vezes, leva a pensar que se é dono disto tudo.
Não gostei desta ligação, mas, ainda pensei que era uma situação que emergia, no contexto da Mostra Empresarial, pomposamente denominada BARRIND, mas que BARRIND nada tem, porque aquela mostra, é, isso e apenas isso, uma Mostra empresarial, direi mais, este ano era uma Mostra institucional e imobiliária.
Enfim, mais uma vez não liguei até ao dia que surgiu aquele vídeo, da comunicação autárquica- que mistura as Festas com Câmara e BARRIND, não se percebendo onde acaba uma coisa e começa a outra, esse célebre vídeo produzido, com “orgulho local” e “fabricado no Barreiro”, foi feito para convidar todos a vestir, no último dia da festa, a T-shirt com o lema –«Fabricado no Barreiro : produzimos orgulho local», e, afirmando que esta frase e esta T-shirt era o lema oficial da festa.
“Junte-se a nós neste movimento”, afirmava-se, propondo assim, o lançamento de uma acção que seria promotora da criação de um movimento fabriquista de “orgulho local”.
Isto tocou os meus nervos. Pensei, tenho que escrever sobre este assunto. Ponto final.
E, quando andava nesta reflexão, um amigo meu, militante e activista do PS, mandou-me uma mensagem a perguntar, se eu não ia vestir a camisola no último dia da festa, acrescentando, na sua nota que estava a provocar-me e a brincar.
De imediato, dei-lhe a minha resposta, que considerava este “movimento” em torno da T-shirt «Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local» como um exemplo ridículo do fazer politica e uma forma de municipalização da cidade e da cidadania. Nunca o PCP, tão acusado de repressivo, atingiu estes patamares.
Disse-lhe ainda que, o “produzimos orgulho local” é um exemplo real dos tempos que vivemos do pós desindustrialização, porque nele está inscrito um vazio de identidade, uma vazio de ideia de cidade, sendo a demonstração plena da carência de afirmação do concelho. Este é um slogan que espelha um sentimento de perda de identidade, que inscreve dentro de si um ressentimento de quem pretende reescrever o passado.
O lançar de uma semente apontado para a criação de um movimento do fabriquismo, é, disse-lhe a negação de uma cultura que integra a história do concelho, uma cultura de vizinhança e solidária, que tem valores republicanos, democráticos, socialistas, anarquistas e de liberdade.
Entretanto, uma amiga minha, nas redes sociais, escrevia: “amanhã vou vestir a camisola, porque eu fui fabricada no Barreiro”. Estas palavras foram mais uma situação que me fez pensar sobre esta cultura emergente do fabriquismo que “produz orgulho local”.
Um movimento que nasce com uma dimensão social de narcisismo comunitário. Assim, pensei que esta era mais uma razão que me impedia de vestir a dita camisola, porque não nasci no Barreiro, não fui aqui fabricado.
E, com alguma emoção, ao escrever estas palavras, sinto pulsar na minha mente, aquela frase de Emidio Xavier, quando afirmou que o melhor do Barreiro são os barreirenses, todos, todos, todos, aqueles que aqui nasceram e aqueles que aqui construíram as suas vidas e de suas famílias.
É que orgulho local, isso, é coisa que não se produz, não é matéria fabricada, as emoções fabricadas são as que visam estimular os instintos, promover o consumismo. As emoções fabricadas não tem nada a ver, mesmo nada, nem nada que com tal se compare, como aquela expressão libertadora que se dizia, com sobriedade cultural, e, até, com altivez no coração, naqueles tempos antes do 25 de Abril, quando se afirmava: “Sou do Barreiro. Vivo no Barreiro”.
Naquele tempo, isso significava ser um ser humano livre, ter honra, dignidade, amar uma terra que sendo sua, ou onde nela se viva, era uma referência viva de resistência, de luta pela Liberdade e Democracia. Isto orgulha qualquer barreirense aqui nascido, ou que aqui tenha aprendido a amar a Liberdade. Uma terra de homens e mulheres que lutavam pelo futuro e sentiram na pele as perseguições. E hoje, são tão esquecidos e ignorados. Homens e mulheres que lutaram contra o pensamento único e sabiam que não é só de pão vive o homem, por isso, havia, na vila operária, mais vida para além da fábrica.
O actual movimento do fabriquismo, que produz orgulho local, é a expressão de um vazio de identidade, de ausência de ideias que envolvam a comunidade, é o fruto de um pensamento politico que se olha ao espelho e pensa ser o centro da vida. Orgulhosamente.
O movimento do fabriquismo é mais uma, das muitas situações que nos últimos anos têm sido geradas por forma a manter um permanente caldo, em banho de maria, do pensar a cidade como um lugar onde há bons maus. O dividir para reinar. Os bons serão os que vestirem a camisola. Os maus serão os que não a vestem, esses serão os aziados.
O slogan « Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local», contrariamente ao que podem pensar, não foi promovido e assumido como uma ideia promotora de uma identidade, de uma cultura, de uma ideia de cidade ou de valorização da cidadania. É coaching. É gestão de emoções.
O slogan foi criado para servir como espelho, onde todos temos que nos sentir reflectidos.
Por isso, apenas por isso, com a vontade de criação do dito movimento do fabriquismo, do vamos vestir a camisola do “fabricado no Barreiro”, hoje, sinto que o slogan está morto.
A ambição de criar um movimento de dar expressão a uma ideia vazia, querendo ir mais além que a insignificância do slogan e do seu conteúdo, deu-lhe uma estocada de morte.
A partir de agora, de facto, é esta a realidade.
Este slogan não une, divide.
Este slogan, na estimula, desmotiva.
Este slogan não faz unidade social, promove o confronto.
Este slogan não transporta amor, veicula ódio.
Este slogan, não promove identidade, estimula ressentimentos.
Este slogan transformou-se numa espécie de expressão de um movimento politico sem dimensão histórica e sem marca no futuro.
Este slogan está morto, porque municipalizou a cidade e quer municipalizar a cidadania. Enterrem-no, ou reduzam-no à sua insignificância.
Quando pensava em tudo isto, ocorreu-me que este slogan, afinal, tem dentro de si uma problema psico-social, que se cruza com a história do concelho do Barreiro, a velha questão filosófica do papel do “eu” e o papel do “nós” na acção cultural e sócio-politica.
O Barreiro, durante muitos anos viveu um problema no seu quotidiano, porque, colocava por regra o “nós” como sendo ele a expressão do “eu”, e, simultaneamente dizia que o “nós”, era a soma de muitos “eus”. Era a cultura da fábrica. O colectivismo.
Este slogan “Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local”, inverte essa situação e perspectiva, porque, agora, quer que o “eu” se dilua no nós.
Este slogan, infelizmente, transforma o “eu” num “nós”. Se antigamente o nós era a soma de eus. Hoje pretende-se que eu tenha um sentir colectivo. O «eu» tem que ser vivido num «nós». Este fabriquismo quer, na prática, que cada «eu» seja um “nós” – o tal orgulho local. Nietzsche, explica isso.
Pensando nisto, disse, para mim mesmo: nunca irei vestir aquela camisola, com aquele slogan, narcisista, depressivo, saudosista e promotor de um pensamento único. Sou um homem livre, que quer viver a democracia como confronto de diferenças e não como um pensamento único.
Já sei que estou lixado. Vou ser rotulado como aziado e ressabiado, e, obviamente, de alguém que está ao serviço dos comunistas. Uma força que dizem está morta, mas, afinal, parece que existe em cada critico.
Uma coisa é certa, após a promoção do «movimento do fabriquismo», tenho dúvidas que, alguma vez, no futuro esta camisola, ou este slogan, seja um elemento de coesão local, ou de valorização da identidade local, quanto muito será a expressão de um qualquer subtil populismo.
A verdade é que o fabriquismo não promove a esperança, nem promove a fraternidade.
O fabriquismo abre brechas no tecido social da cidade, gera conflitos de personalidades, desconstrói a história, e, por fim, não gera pensamento alternativo no fazer cidade e cidadania.
O fabriquismo é uma espécie de exigência moral, de promoção de um orgulhismo, clubista e patético, que não tem valores, nem princípios, é a-ideológico, e, apenas quer contribuir para estimular o populismo.
Vestir a camisola é uma espécie de um regresso ao 1984 de Orwel, somos todos iguais, com a mesma camisola, mas há uns mais iguais que outros.
“Fabricado no Barreiro: produzimos orgulho local”, já está morto como slogan unificador do pensar e fazer cidade e cidadania. Está municipalizado na sua própria ambição. A serpente que come o seu próprio ovo.
Afinal, na vida, há mais vida para além do município. O fabriquismo é um orgulho balofo e municipalista.
Ah, é verdade, eu disse ao meu amigo socialista, em resposta ao seu convite, de vestir a camisola, que um dos problemas do PCP, no Barreiro, foi não escutar a cidade, e, por vezes, pelo facto de ter a maioria absoluta, ter na sua gestão uma doença que o levava a pensar que era dono disto tudo.
O “Fabricado no Barreiro- produzimos orgulho local”, está eivado dessa doença, por isso, é um slogan oco, neurótico. Está morto. A sua morte é uma morte que foi anunciada em festa, na festa. Pode continuar, mas será só para a festa de alguns.
No futuro, por muito que pretendam dar a volta, com esta tentativa de criação de um “movimento fabriquismo”, no encerramento das festas do Barreiro, geraram as condições para criar o cadáver do “orgulho local”, e, daqui para a frente vamos assistir aos confrontos que vão conduzir à morte deste slogan narcisista.
Este slogan, está, desde já, transformado numa pedra de arremesso, de permanente agressão politica, é um lema que vai colocar sempre de um lado os bons e do outro lado os maus.
E, digo-vos, de facto, já começa a cansar, fazer da politica uma guerrilha permanente, em busca do inimigo comum, ou de um bode expiatório, em vez de ser o debate de ideias e de projectos, não uma permanente diversão de slogans e clichés.
Ainda há quem se admire das pessoas estarem fartas de políticos e de politiquices de meia tijela, que é aquilo que cria as razões que desmotivam e levam as pessoas a não ligar à vida politica.
“Fabricado no Barreiro – produzimos orgulho local”, será no futuro o slogan limitado a algum PS, ao executivo municipal maioritário, será a camisola que vai ser vestida por alguns funcionários públicos, e, por outros, que, levados na onda do marketing politico, por amor ao barreirismo, vão sentir a felicidade de sentir que integram um movimento ligado ao poder dominante.
Este, acredito, vai ser um tema que poderá motivar uma ampla reflexão sobre a partidarização do Poder Local, sobre a municipalização da cidade.
Vai ser tudo o que quiserem mas não será um slogan para promover um marketing territorial, nem valorizar a cidadania, porque já tem dentro dele a marca da conflitualidade partidária.
Entender a diferença entre autarquia, partido, e separar as águas, é essencial, para fazer futuro.
Este slogan não veio para unir, este slogan veio apenas para dividir e transformou-se num instrumento municipalizador da cidadania e de partidarização do município.
O fabriquismo é, sem dúvida, a expressão de uma crise existencial e da perda de memória cultural.
Terá sido acaso? Ou, na verdade, é mais do mesmo?
Cá por mim, este slogan morreu, e, desde já, o fabriquismo transformou-se numa nuvem de orgulho passageira, que se dilui no seu próprio vazio de pensamento, e, o futuro confirmará que ele é apenas um fruto das vivências de festas e consumismo. Populismo e eleitoralismo.
António Sousa Pereira

Na medida que o poder lhes sobe à cabeça, vão deixando para trás o sabor dos dias. Cozinham números e factos.
S.P.

Nuno Canta, presidente da Câmara Municipal do Montijo, que se recandidata nas próximas autárquicas, segundo uma nota editada no jornal «Público» - “tem apostado as fichas todas na construção do aeroporto, como elemento central do desenvolvimento”, acrescentando que o autarca socialista tem alinhando sempre com as decisões do governo.
O novo aeroporto no Montijo, um túnel que ligue o Montijo ao Barreiro, esta a linha central da estratégica montijense, para colocar o Montijo como centralidade na Península de Setúbal.
No mesmo artigo, refere-se que os autarcas comunistas da Moita e do Seixal “travaram a construção do aeroporto do Montijo, e são defensores da opção de construção do novo aeroporto de Lisboa no campo de Tiro de Alcochete, como aeroporto internacional.
Refere o texto do jornal «Público» que a posição dos presidentes e candidatos, Rui Garcia, da Moita, e Joaquim Santos, do Seixal, que são contra a opção do Montijo, e contrariando a decisão do governos, pode ser uma posição que resulte num “tiro pela culatra”.
No entanto, a posição dos autarcas da Moita e Seixal, merece o carinho de muitos que defendem a solução do aeroporto em Alcochete, visando dar uma nova visão estratégica para a relação entre Lisboa e a margem sul.
Os defensores do projecto do novo aeroporto no Montijo . que se inserte no pensamento «Portela + um», alinham com a posição do governo e classificam esta decisão como um contributo para o desenvolvimento da região – como é o caso de Frederico Rosa, presidente e candidato pelo socialista no Barreiro.
Mas, para baralhar todo este embrólio em torno do novo aeroporto no Montijo, ou em Alcochete, esta semana um novo dado foi lançado, e, indirectamente a dar razão ás posições assumidas pelas Câmaras da Moita e Seixal, e, também, pelo Barreiro, no anterior executivo CDU.
Uma noticia publicada no jornal Expresso, divulga que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, recandidato do PS nas próximas eleições autárquicas, no seu programa eleitoral, irá defender que o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, tem que ser o secundário, enquanto, o novo aeroporto internacional de Lisboa terá que ser na margem sul, esse sim o aeroporto principal.
O Expresso sublinha que vão avançar novos estudos com três soluções: o aeroporto da Portela, como principal, e o Montijo, como secundário, posição apoiada por Nuno Canta, do Montijo, e, Frederico Rosa, do Barreiro.
A opção Portela, em Lisboa, como secundário e Alcochete como principal, posição defendida por Rui Garcia, da Moita, e, Joaquim Santos, do Seixal, e, por Carlos Humberto, do anterior executivo da CDU, e de novo candidato no Barreiro. Fernando Medina, PS, de Lisboa, defende esta opção, ou, coloca outra solução – Portela em Lisboa, como secundário e a opção Montijo, mas este como principal.
Se as decisões do governo podem influenciar as eleições autárquicas, então, esta posição de Fernando Medina, PS, é, sem dúvida, um contributo para dar força às posições da CDU na região de Setúbal, que, desde a primeira hora, assumiu a posição pela solução Alcochete, como o caminho para a construção do novo aeroporto de Lisboa.
A posição de Fernando Medina, é de um autarca que tem uma visão de futuro, que sente como imperioso a necessidade de passar do papel para a prática, ou seja, avançar com o pensamento estratégico do PROT AML, e, de uma vez por todas começar a pensar-se neste século XXI, nessa Lisboa – cidade de duas margens.
Fica o registo. E a nota positiva pela posição do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que, afinal, refere o Expresso estará em consonância com o Ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedo Nuno Santos.
É bom que assim seja, era bom para Lisboa, para a margem sul e para o país. Afinal Joaquim Santos, Rui Garcia e Carlos Humberto tinham visão de futuro.
Se isto vai influenciar as autárquicas, claro que vai…porque desfaz todos os estigmas e anátemas lançados contra os comunistas que só querem travar o progresso. Afinal o Fernando Medina “concorda” que Lisboa não pode continuar a ser o aeroporto principal. E esta hem!
E, para além disto, já se fala de ligar Lisboa e Sevilha em comboio…esta, é, sem dúvida, mais uma nota positiva para a margem sul, principalmente para o Barreiro e Moita, que podem ver uma luz ao fundo do túnel para sair do gueto onde estão desde os anos 90, após a construção da Ponte Vasco da Gama- que ligou Lisboa a Alcochete, Montijo e Palmela. E o arranque do comboio na Ponte 25 de Abril, que aproximou, mais, Lisboa de Almada, Seixal e Sesimbra.
E nós, nestas duas décadas, por aqui a vê-los passar… ao menos, estas duas noticias – aeroporto e comboio para Sevilha - dão para começar a pensar e a sonhar um futuro diferente para os nossos filhos e netos. Porque pensar sempre foi o caminho para o fazer. Só os que encontram tudo pensado, não precisam pensar, basta fazer. Pois.
Esperemos que soprem novos ventos e que não seja só fumaça…
António Sousa Pereira

Lia. Guardava. Reflectia. Os seus textos no JL eram para mim um encontro com o pensar, e, dar asas ao pensamento.
Através da sua obra e dos seus textos, motivou-me a pensar Europa, a pensar Portugal na cultura europeia. Fez-me pensar Portugal no mundo. Fez-me pensar Portugal na saudade – do ser que somos e fomos.
Fez-me sentir a importância e o significado do 25 de Abril na história quase milenar de um povo. Uma marca única – o antes e o depois. Pensar este território europeu, onde a terra acaba e o mar começa, este território que a beijar o Atlântico, se fez mar, esse mar que se fez história, que se fez língua no mundo. Por isso, fez-me sentir essa data – 25 de Abril – na história e com a dimensão da epopeia milenar do meu povo. Esse, que sou, Portugal.
Fez-me sentir e pensar, esse momento único de ruptura da nossa história, uma referência inquestionável, do ser português, do ser Portugal – que foi no seu enorme passado e, também, naquilo que é, e será no futuro, tal como dizia o poeta, o Pessoa, que ele amava. Cumpriu-se o mar. Falta cumprir-se Portugal.
Esse Portugal que rasgou as portas do medo dos oceanos, abriu as janelas das incertezas, por onde espreitou – África, Brasil, a India e o Oriente, e, por fim, abriu um tempo de esperança, num mundo novo, esse, como diz Hegel, que foi o tempo e a epopeia que abriu as portas à história da modernidade da humanidade.
Tudo isto fui pensando e sentindo, com Eduardo Lourenço, mergulhando no tempo, no espaço, na memória, na história e nas estórias, em tudo isso, que faz uma identidade, única, inscrita no mundo, através de uma língua.
Essa língua que é a marca de um povo, esse traço de um povo pioneiro, um povo que se emociona, quando pensa com ternura África, um povo que raciocina quando pensa com ambição o ser Europa, um povo que se interroga e pensa com saudade o ouro do Brasil.
Um povo provinciano e cosmopolita. Um povo que abraça e se faz humanidade beijando e germinando, na sua imensa pluralidade.
Um povo que é saudade, essa saudade que se faz fraternidade.
Foi tudo que isto que aprendi a pensar com Eduardo Lourenço, na simplicidade dos seus textos, na profundidade das suas reflexões.
Obrigado, Eduardo Lourenço!
António Sousa Pereira
Acredita, só sente cansaço quem vive. O cansaço é o outro lado do tédio. Não te incomodes. Fecha os olhos. Adormece. Sorri. Só quem sente cansaço descobre o calor que aquece o coração. Ah, é verdade, ao abrires os olhos. Volta a sorrir!
SP
Está um lindo dia de sol. O céu azul. O vento sopra e as árvores agitam-se. Pego no meu cachimbo e vivo este momento.
Lá fora a vida agita-se. O dia a correr atrás das horas. As ideias a fluir na construção do tempo que vivemos.
Viajo pelo facebook. Um hábito diário, por razões profissionais. Lá encontro as frases, os pensamentos. O pulsar da vida, daquela vida que emerge, pontas de iceberg.
Os comentários dos politicos. As palavras cruzadas de «matrizes ideológicas» que são a forma de olhar para os acontecimenos.
Por vezes dou gargalhadas, para mim mesmo. Há coisas que são mesmo para rir, só dá mesmo para rir.
O kira, o meu amigo Kira, hoje, colocou um desses pensamentos que circulam diariamente: «Pedir desculpa não é se humilhar é crescer".
Fiquei a pensar e resolvi escrever esta nota no meu blogue.
Recordei que houve um amigo meu, daqueles amigos com quem partilhamos tudo - ideias, sentimentos, discórdias, noites de conversa, apoios em dificuldades - que, um dia, nunca soube bem as razões, deixou-me de falar, passava por mim e nem olhava e até parecia que via o diabo.
Desliguei. Não sabia as razões. Isso incomodava-me, mas achei melhor desligar e esquecer. Foram anos, talvez mais de uma década.
Um dia, sem mais nem menos, no Café Bar da SFAL, encontrámo-no a tomar Café, ele voltou-se para mim, sem mais nem menos, e disse-me: "Dá cá um abraço". Voltei-me para ele e dei-lhe um abraço.
Disse-lhe: "Nunca soube porque deixas-te de falar comigo". Demos um abraço. Conversamos. Afinal, nunca falamos das razões que o levaram a rasgar relações comigo. Nem quero saber.
Mantivemos a nossa relação a partir daí para a frente, embora, naturalmente, nunca mais foi a mesma de eu ir a casa dele, ou ele vir a minha casa. Mas para mim, aquele momento foi emocionate e guardei-o na memória.
Acho que ele cresceu. Eu também. Senti-me feliz. Afinal desconhecia as razões e foi melhor assim, continuar a não saber as razões.
Tenho, ainda hoje - certamente como muitos outros - pessoas que quando se cruzam por mim não falam. Nos casos que isso acontece, para mim, em quase todos eles, senão em todos, desconheço as razões.
Eles é que sabem, eles é que criaram a situação. É por isso que acho que o tempo tudo esclarece..
Talvez um dia, volte a viver uma nova situação de alguém dizer: "Oh homem dê cá um abraço".
Porque, afinal - «Pedir desculpa não é se humilhar é crescer».
Abraço Kira. BOM DIA!
António Sousa Pereira
Foto - SP
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