PENSAR
Um dia, um senhor do poder, disse-me que eu tinha um grande defeito – “pensas demasiado”.
E, na verdade, tenho vivido ao longo da vida com esse dito «defeito» - pensar - pensar por dentro das palavras, pensar por dentro dos gestos, pensar por dentro dos acontecimentos, pensar as coisas, mesmo as pequenas coisas. É que, por vezes, uma pequena coisa, muito simples, pode fazer nascer um poema ou iluminar um pensamento escondido nas experiências de vida.
Os poetas têm esse enorme defeito – pensam. Como sempre gostei dos poetas, lá vou, tentando pensar e viver as palavras. Ah, acima de tudo viver por dentro das palavras.
Talvez, porque criei o hábito de ler nas entrelinhas, antes de Abril acontecer.
Talvez, porque procuro escutar no dito, o que lá existe não dito.
Talvez, porque gosto de hermenêutica ou de Filosofia da Linguagem.
Talvez por tudo isso, talvez, as palavras tocam-me – umas doem, outras dão alegria, mas, só guardo aquelas que me cativam o coração. O resto são meros fonemas, pequenos sinais que servem para entender o mundo que me rodeia e perceber o sentido da história e das estórias.
A palavra tem o peso da nossa consciência. Por essa razão, as palavras que digo, ou escrevo, têm a leveza da minha liberdade. E isso, sim, é que marca o ritmo da vida.
Talvez por essa razão, chego à conclusão - é mesmo verdade - pensar todos os dias também cansa!
S.P.

