Os “fabricados” e os “não fabricados”.
Inicialmente por força das circunstâncias, afinal já dizia Ortega y Gassett, o homem é ele e as circunstâncias, fomos todos embrulhados nessa onda de aziados e azedos.
Depois, os aziados e azedos passaram a ser os “comunistas aziados”, “comunistas azedos”, e, por fim, acontece, nos dias de hoje, qualquer pessoa que não entre no discurso dominante, da modernidade, “do está melhor cóque estava”, “atão está tudo em mudança”, essa narrativa que não existiu antes, que apenas existe presente, que estava tudo abandonado ou inacabado, enfim tudo isso, que faz as pessoas felizes, e, sentir que vivem no melhor dos mundos.
Sinto que, nos tempos que correm, quem discorda, ou tem opinião critica, continua a ser rotulado de aziado, e, não se pode esticar muito, pois, então, a definição passa logo para o tal nível mais tenebroso de “comunista aziado”.
Recordo que, houve um tempo que no Barreiro, quem não era do regime, antes de Abril, era comunista. Houve outro tempo, que, quem não era comunista, era reacionário ou fascista. Mas, nos tempos de hoje, aqui, no Barreiro, 50 anos após o 25 de abril, cheguei à conclusão que, afinal, não demos grandes saltos no respeito pelas diferenças.
Nas redes sociais e em certos discursos, continua a presença da narrativa dos bons e maus, dos aziados, do presente sem passado, do abandonado e do fabricado.
Mas, conclui que a palavra aziados, já está gasta, já não cola, já não tem a força de exclusão, já não atinge os objectivos que tinha nos tempos passados mais próximos. Hoje, essas são palavras recauchutadas.
Por essa razão, considero que é importante mudar a linguagem, utilizar adjectivações mais fortes, com mais marketing, mais mobilizadoras, mais coaching, mais 2830, mais exclusivas e mais inclusivas – dois em um -, assim. para marcar as diferenças de opinião, da forma de pensar e sentir a cidade, da forma de viver a cidadania, passemos a utilizar as designações : os “fabricados” e os “não fabricados”.
Divirtam-se!
António Sousa Pereira