Obrigado, Tertúlia de «Os Leças»! . A liberdade “está a passar por ali”.
Ontem, naquele encontro habitual da Tertúlia de «Os Leças», no final do almoço, fui surpreendido com um bolo para assinalar o 21º aniversário do jornal «Rostos». Foi uma agradável surpresa.
A Tertúlia de “Os Leças” é um ponto de encontro, todas as segundas feiras, que conta com a participação de quem quiser aparecer, ali, é sempre bem vindo “quem vier por bem” e, o lema, podia escrever-se “trás outro amigo também”.
Enquanto vamos almoçando as conversas são como as cerejas, fala-se de tudo, desde a Guerra da Ucrânia, passando pela vida política nacional ou local. Recordam-se estórias dos tempos idos, quer de antes, quer de depois do 25 de Abril. Rimos. Galhofamos. Provocações nunca faltam. Fala-se de tanta coisa, que, por vezes, a conversa aquece, mas, uma coisa é certa, a linha central daquele ponto de encontro é o respeito pelas diferenças.
São pessoas de diferentes opções políticas ou ideológicas. Uns conhecem-se há algumas décadas. Outros mais recentemente. Alguns conheceram-se por ali, uns chegam, outros partem. Não há obrigatoriedade de cumprir presença. Vai quem quer e quando quer, mas, todas as segundas feiras, lá está sempre a funcionar aquela Tertúlia. Um esmerado serviço de cozinha. Um esmerado serviço de apoio. Voluntários, que se juntam ao líder Alfredo Gonçalves, que, hoje, como ontem, continua a fazer do associativismo a forma mais bela de dar vida aos seus dias.
Ah, é verdade, só existe uma obrigação a cumprir, afinal, a ideia da Tertúlia partiu dele, por essa razão todos se levantam quando entra na sala, no verdadeiro respeito pelo Presidente Honorário da Tertúlia – Mário Durval.
Neste tempo que vivemos, cada vez mais marcado pela ausência de diálogos, que as redes sociais afastam-nos do salutar convívio de conversar a olhar – olhos nos olhos – a Tertúlia de «Os Leças» é um exemplo vivo da importância do comunicar e, pessoas com pensamentos diferentes, percursos de vida diferentes, por vezes, até, com conflitos ou divergências no passado, são capazes de sentar-se na mesma mesa, conversar, discutir, confrontar até memórias do passado, mas, o respeito e a tolerância, fica como marca desta realidade, que se vive num contexto associativo.
Talvez por isso, tem vindo a cimentar-se a ideia de por ali na Tertúlia cada um trazer um tema, que seja motivo de debate e, quem sabe, até o ponto de partido para abordagens mais profundas, sendo um contributo para fazer democracia e participação na vida do concelho.
Afinal, a principal ambição dos participantes nesta Tertúlia é sentirem e viverem o direito de partilhar ideias, conversar, dar sentido real à palavra democracia. Porque a democracia é o confronto de ideias.
É, talvez, por isso, gosto de marcar presença e estar por ali, na conversa, a degustar os sabores, e sentir a beleza da liberdade “está a passar por ali”.
Mas, a razão de hoje escrever esta nota tem a ver com o facto de ontem, na Tertúlia, ter sido surpreendido com um bolo de aniversário e um momento de fraternidade cantando-se os parabéns ao Jornal «Rostos».
As velas foram apagadas por Jorge Fagundes, o veterano da Tertúlia e Colunista do Jornal Rostos. Estavam ainda presentes outros dois colunistas do jornal Carlos Alberto Correia e Mário Durval.
Foi um gesto que quero aqui, publicamente agradecer, porque uma das coisas mais belas da vida que nos dá energia e força é sentirmos à nossa volta um pouco de gratidão. Obrigado.
Jorge Duarte, um dos habituais membros da Tertúlia, no meio daquela euforia das velas e dos parabéns, voltou-se para mim e agradeceu o trabalho de décadas que pessoalmente, tenho dedicado ao jornalismo no concelho do Barreiro, sublinhou que admirava-se como é que eu aguentei e resisto tanto tempo.
Oh Jorge, foi por paixão, por amor, por fazer o que gosto, e, por sentir que presto um serviço cívico, e, também, acima de tudo, porque há leitores que sentem a importância deste projecto, e o seu papel na valorização da cidadania e no fazer cidade.
Obrigado, Jorge, pelas tua palavras, sabes, senti o que disseste e guardei num cantinho do meu silêncio interior.
A vida é simples. São coisas simples, principalmente aquelas que enchem o dia de fraternidade que, emergem como sinais e dão força para manter uma forma de estar e viver a comunidade.
Obrigado pessoal da Tertúlia de «Os Leças». Afinal, o «Rostos» atingiu 21 anos também com o vosso contributo e solidariedade.
António Sousa Pereira