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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

O Jornal Daterra viveu e morreu de pé!

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15 de Junho de 1977 - Faz hoje 48 anos que nasceu «O JORNAL DATERRA». Um sonho de comunicação social local. Um sonho que se manteve quase durante uma década. Um dia findou. Era inevitável.
É importante olhar o passado, sem nostalgia, mas com esse olhar de sentir nos nervos um tempo percorrido, um tempo de aprendizagens, de aventuras e paixões.
 
«O JORNAL DATERRA» foi o meu primeiro amor na imprensa regional barreirense. Quando viajo no pensamento por aqueles dias sinto como, na verdade, é possível erguer projectos, dar-lhes alento, renovar, inventar, agitar a vida de uma comunidade, desde que exista uma energia que motive a vontade – Amor. Ou, talvez, ser poeta das palavras. Até um dia, porque como dizia José Gomes Ferreira – ser poeta todos os dias também cansa!
Os dias de «O JORNAL DATERRA» foram dias de aventura, de sonhos, ilusões, coisas reais, dedicação.
Um tempo vivo que permitia sentir os dias, a pensar o quotidiano, a fazer cidadania.
Um tempo de amar a vida e sentir os sonhos a florir.
 
É com intensidade nos nervos que recordo. É sem dúvida um tempo que não esqueço, afinal, nunca esquecemos as lições da vida, vividas por dentro da vida.
Tantas iniciativas. Edições diárias no decorrer das Festas do Barreiro. Ir pelas ruas vender jornais para obter, com a venda dos jornais, verbas para pagar à tipografia.
Na verdade, para editar um jornal, com sentido de lhe dar continuidade, é fundamental ter recursos financeiros, para criar equipa, e, ter uma redação que dê sentido aos objectivos editoriais. Isso exige muita capacidade ao nível de capital, que dê suporte à verticalidade editorial.
 
Por essa razão, para viver no mundo do jornalismo o direito de abraçar a Liberdade, exige muita criatividade e energia para motivar a vontade perante tantos e tantos desafios.
Era isso que procurava fazer, com todas as limitações. Promover as Conferências «Barreiro: Que futuro?», onde os diversos partidos ao nível local deram os seus contributos e na última conferência participaram Deputados da Assembleia da República e um representante do Conselho da Revolução.
As «Conversas de Sábado à tarde», que eram tertúlias temáticas, com convidados, com diferentes pontos de vista, para reflexões sobre a vida local – do teatro, ao associativismo, da cultura ao desporto. Conversas animadas, vivas e participadas. Conversas que agitavam a vida local e, por vezes, o mensageiro – promotor do evento – sentia na pele a pressão, vinda da vida. A vida real, ontem como hoje.
Há sempre quem não goste de escutar opiniões diferentes.
Os Torneios de Futebol de Salão, no Pavilhão da Escola Álvaro Velho, com dezenas de equipas, de todo o concelho. Uma festa que enchia as galerias todos os fins de semana durante algumas semanas. Por vezes, encontro antigos participantes, jogadores ou árbitros, que comentam: “Sousa Pereira, lembras-te do Torneio do Jornal Daterra”.
Eventos que promovíamos com colectividades ou outras entidades. Tempos loucos, esses de fazer omeletes sem ovos. É assim, ontem como hoje.
 
O sonho de mudar o mundo, ou, mais justamente: o desejo de fazer um mundo melhor, com diálogo e respeito pelas diferenças.
Mas, isso é tão difícil. No entanto, apesar de tudo, ainda, acho que tal é possível, mesmo nos dias de hoje, marcados pela arrogância e pedantismo, digo-vos, continuo a acreditar, não sei se por ingenuidade, ou, apenas, por acreditar que, na vida, ainda, tem sentido viver a palavra fraternidade.
 
Faz hoje 48 anos, andei pelas ruas, colectividades, Comissões de Moradores do concelho do Barreiro, a distribuir a Folha de Promoção de «O Jornal Daterra». Tenho a coleção do jornal toda encadernada. Quando percorro aquelas páginas tantas histórias e memórias estão ali inscritas.
Protestos, contra os maus cheiros da Vala das Ratas.
Os autocarros dos TCB vão parar porque não há dinheiro para a gasolina.
Entrevistas. Na primeira edição, com Helder Madeira, presidente da Câmara Municipal do Barreiro, e, outra com Lopes Cardoso, dirigente nacional do PS, que tinha criado a Fraternidade Operária. Estive na casa dele em Lisboa, perto da Fonte Luminosa. Uma tarde agradável, vivida numa conversa sobre o tempo que vivíamos. Um tempo de tantas contradições.
 
Bom, mas esta nota foi escrita apenas para recordar esta efeméride – 48 anos.
Talvez, lá para os 50 anos de evocação de «O Jornal Daterra», se tiver saúde e vida, ainda possa editar um trabalho evocativo deste projecto jornalístico local, que, na verdade, foi um sonho resiliente e, que, perante a realidade epocal, foi uma marca inscrita na vida barreirense.
 
Sim um dia contarei…as histórias dos dias de «O Jornal Daterra». Uma micro-história que também faz a história da comunidade.
Tantas histórias e tantas pessoas, porque um jornal, seja ele qual for, e tenha a dimensão que tiver, inscreve, sempre, nas suas páginas, e, no seu tempo de vida, a sua história e a história de muitas pessoas…as contradições e as ficções de todos os tempos. Um jornal local é sempre, no futuro, um pouco do que resta da nossa memória colectiva.
 
O JORNAL DATERRA existiu, um dia findou, é assim a vida, os jornais, como tudo na vida nasce e um dia morre. É a lei da vida.
Mas, digo-vos, o importante é, enquanto se vive, viver-se de pé, com dignidade. É tão lindo!
Foi sobre tudo isto que um dia mantive uma conversa, com o meu amigo Cabós Gonçalves. Esclarecemos. Ele partiu dias depois da nossa conversa no Hospital. Levou com ele um sonho que construiu o jornal «Proposta». Um jornal que nasceu dias depois de «O Jornal Daterra», e, morreu na sua segunda edição, semanal. Falámos sobre tudo isso.
 
É assim, eu, um dia também vou morrer e levarei comigo o sonho de cerca de dez anos de «O Jornal Daterra», que foram vividos há 48 anos, e, também levarei estes dias de sonho do jornal «Rostos», a caminho dos 25 anos. Naturalmente, levarei também os dias vividos no Jornal do Barreiro. Páginas de vida. Quem vive por amor não cansa.
O Jornal Daterra viveu e morreu de pé!
Espero, igualmente, eu próprio, um dia morrer de pé.
Sentir. Pensar. Amar. Assim, vertical!
 
António Sousa Pereira

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