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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

Foram tempos difíceis...“mas está quase a passar".

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Hoje dei comigo a pensar em tempos idos, naqueles dias que não tinha horas para dormir, que saltava de uma actividade para outra, sem pensar em mais nada, se não sentir o prazer de fazer, construir, criar, sonhar e amar a vida. Viver. Nesses tempos, vivia os dias com uma intensidade que me deliciava no fazer, no pulsar do quotidiano. O importante era sentir a cidadania, a vida activa e os resultados das ideias transformarem-se em acção.

A minha ambição era viver e sentir a vida, era, e, digo-vos continua a ser, e, acreditem, espero que nunca deixe de o ser, para mim o mais belo da vida foi sempre fruir a vida, abraçar o tempo que vivo com o coração, viver todo o tempo com o tempo a galgar os meus nervos.

E na medida que o tempo passa, cada vez mais sinto, afinal, neste tempo que existimos, neste aqui e agora, por cá estamos, e registamos que tudo se esvai, por isso, o belo é sentir o sabor da vida, o mais belo da vida é ser. Ser como quem sente a eternidade.

É por isso que gosto de envelheSER.  Manter sempre viva, em sorrisos, a alegria de viver, sempre com um sorriso, que me anima, perante todos os desafios e adversidades.

 

Hoje, pela manhã, recordei os tempos idos, nesse ritmo de dormir. O tempo para dormir é sempre indispensável. Descansar e retomar energias.

Nunca fui pessoa de dormir muito, mas, contraditoriamente adoro dormir, e, talvez, por essa razão quando adormeço é mesmo para adormecer. Sempre dormi pouco nas corridas do dia-dia. Mas, depois, aos sábados ou domingos, por vezes, dormia, horas e horas, até sentir os ossos acordar numa tranquilidade silenciosa.

E foi por essa razão que, hoje pela manhã, pensei nesses tempos idos. Que bela soneca. Acordei como se fosse um sábado ou domingo, daqueles de outros tempos. Acordei com os ossos a sorrir, esticando os braços como quem quer agarrar o sol. Uma tranquilidade matinal de ternura.

 

Depois começou o dia, as coisas que nos acontecem que enchem o tempo que vivemos.

Numa esquina da vila, lá vi uma senhora sentada no chão, a fazer crochet e das suas mãos saiam umas giras bonequinhas. Vejo-a por ali, há vários dias, sempre na mesma esquina, horas, sentada a lutar pela vida.

Hoje decidi meter conversa. Parar. Perguntei-lhe o preço das bonequinhas. Ela disse-me e sorriu para mim, comentando : “Você conhece-me”. Olhei e não reconheci. Disse-me quem era e comentei o nome de familiares. Sim, sou.

Perguntei-lhe se era sem abrigo. Comentou que não. Tenho casa. Foram tempos difíceis. Comentou – “mas está quase a passar”, disse-me.

Então não desista, comentei, e acrescentei – “Sabe, José saramago tem um romance com o título: Levantados do chão! Levante-se”.

“Tem que ser, disse-me ela, e com um sorriso interrogou: “Não é essa a vida dos portugueses?” E sorriu.

Segui o meu caminho. Pensando na vida, nas vidas.

E, ao fim do dia cá estou a escrever estas palavras pensando numa mulher, sentada na esquina da cidade, na luta pela vida, sentada no chão e com um sorriso afirmando: Está quase a passar.

Isto, no dia que acordei com os ossos a sorrir e o passado a mergulhar nos meus nervos. Sorri.

 

António Sousa Pereira

 

 

 

 

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