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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

É tão lindo, viver fazendo o que se gosta. É tão lindo!

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Um dia na minha adolescência vi um filme, “Perdido por Cem…”, do qual guardei uma frase – “Eu tinha acabado de fazer vinte anos e não deixarei que ninguém diga que é a mais bela idade da nossa vida”. Era a minha idade. E era tão linda essa minha idade, feita de sonhos e projectos, de poemas e palavras por escrever. Tinha acabado de descobrir um mundo chamado Barreiro. Resistência. Liberdade. Guerra Colonial, lá longe.
 
Recordo essa frase, nos dias de hoje, quando estou a festejar os meus 70 anos. E, apetece-me parafrasear, essa frase vinda da memória, dizendo : “Eu acabei de fazer setenta anos e, para mim, vou dizer, esta é a mais bela idade da minha vida”.
A vida somos nós e as circunstâncias, mas, nós não somos alheios às circunstâncias. Nós escolhemos dentro das circunstâncias. Fazemos acontecer no contexto que somos. Optamos.
 
O belo da vida é sentirmos que, dentro de todas as circunstâncias, fomos sempre iguais a nós próprios. Firmes na consciência, vivos nas escolhas, decididos no caminho a percorrer, assumindo os erros e aceitando os desafios. Nós e as circunstâncias. Os medos. As iras. Os ciúmes. As invejas. As alegrias. As tristezas. O sol. O luar. O sorrir. O afirmar. O beijar. O amar.
 
A vida é uma permanente aprendizagem. O mais belo é nela sentir a beleza da palavra Dignidade. É talvez por isso, que, nestes setenta anos acumulados de viver-fazendo, de viver-construindo, de viver-vivendo, de viver acima do sobreviver, rasgando as margens do silêncio, olhando, olhos nos olhos, sinto que – “esta é a mais bela idade da minha vida”. Aprendi vivendo, coisas que só eu sei, como as senti no âmago dos nervos, no pensamento dentro dos ossos.
 
A minha filhota Marta deu-me uma prenda deliciosa, com três fotografias dos meus olhos, a mirar o tempo através de um espelho retrovisor, três instantes diferentes que ela registou e identificou com três momentos - Pai : vês, sentes e pensas.
 
E, ali, olhando o tempo pelo retrovisor, revejo-me a ver sempre, a observar sempre, a não estar indiferente no tempo, a beijar com os olhos, a viver com os olhos, a captar o mundo para dentro de mim, transformando a vida em palavras, nos Quotidianos, em Setúbal; na Análise Subjectiva, no Algarve; nos Pés de Veludo, no Barreiro, sempre por dentro dos dias. Ver e escrever. Nos poemas que nascem num beijo que se diz : “A vida é bela!”
 
E, naturalmente, quem escreve, escreve o que sente, e, nós, todos nós, só sentimos aquilo que vemos e vivemos com o coração, em todo o tempo, em todos os actos apaixonados pela vida, vivendo a partilhar, assim o fiz, na vida associativa, na vida cooperativa, na fábrica, na Câmara, no fazer jornalismo, na vida, em toda a vida, porque para mim viver é sentir o que se faz, viver é partilhar o tempo com quem caminha ao nosso lado, com quem está neste tempo que somos, nos sonhos, nos projectos, no fazer comunidade, sentindo com o pulsar do coração, a força e a beleza da vida, no sentir e no viver o sabor da palavra Liberdade.
 
E, obviamente, quem vê e sente, realiza o que vê e sente no pensar porque são os pensamentos vividos, que se transformam em memórias, sempre que os pensamentos se transformam em acção, com ternura, com sementes, no rendilhado dos dias que brota na palavra amizade, construindo futuro, o ver e o sentir, florindo em palavras pensadas e vividas, não como meras ilusões, miragens, mas como coisa real que toca os neurónios, e, se faz arte, se faz poema, se faz humanidade, essas ideias que se transformam, de forma bela e sublime, em matéria que faz nascer a vida real. Uma vida que é um poema. A minha vida é um poema, tão lindo!
 
É, talvez por tudo isto que um destes dias comentava que tenho para com o Barreiro uma divida de gratidão, esta terra que me recebeu e ao longo do tempo me tem proporcionado, viver e ter vivido, fazendo o que gosto – quer ao nível da comunicação, quer ao nível do fazer cidadania activa. Amando a vida. Vivendo sempre a sonhar, com uma única ambição, beijar os dias, abraçar o tempo e sentir o pulsar da cidade nos nervos.
 
Foi assim, na aventura de «O jornal Daterra», foi assim na vida de Informação e Relações Públicas na Câmara Municipal do Barreiro, foi assim no «Jornal do Barreiro», foi assim no jornal da SFAL «O Cachaporreiro»; foi assim na Revista «ECOOP»; foi assim e é assim no jornal «Rostos». Este projecto como alguém um destes dias me dizia, não é uma estrutura empresarial, mas é um «empreendedorismo familiar», que construiu um legado enorme de «empreendedorismo social e cultural» ao serviço da comunidade, que ergueu um imenso arquivo de memórias, um legado ao serviço do bem comum, que humaniza e contribui para a coesão social.
Um projecto do qual tenho imenso orgulho, uma marca de referência, feita com o coração, sem preocupações com carreiras, sem sonhos de riqueza, sem ambições de poder, apenas pensando em servir de forma livre e independente a comunidade.
É tão lindo, viver fazendo o que se gosta. É tão lindo!
 
Por essa razão, nestes dias de hoje, que celebrei os meus setenta anos, quando recordo tantas situações que vivi, tantos desafios que enfrentei, tantos caderninhos com a(nota)mentos, tantas ideias realizadas, tantas criticas injustas, tanto pedantismo, tantas alegrias, tanto abraço fraterno, tudo isso como coisa real, vivida, a pulsar o sangue e a sentir nos nervos à flor da pele – ainda acontece nos dias de hoje – ergo os olhos, vejo a gaivota que voa livre, e, caminho, cá vou, continuando sem nunca baixar os braços, mas, sempre, como refere a minha filhota Marta, vivendo a pensar o mundo, com esse lema - VER, SENTIR E PENSAR.
 
Ocorreu-me escrever este texto, quando um jovem que conheci com 8 ou 9 anos, agora com uns 30 e tais, que nem o reconheci, esperou por mim numa esquina, para me agradecer um texto de uma reportagem de música pelo mundo, e, hoje pela manhã, ao conversar com um amigo ele falava em velhice, os problemas da velhice, as dores da velhice, as limitações da velhice, dos dramas da velhice e como é duro envelhecer.
 
É por isso, que, pensei, enquanto tiver energia e vontade de caminhar, hoje, festejando os 70 anos de vida, e, com a minha acção – ver, sentir, pensar - ir prestando a minha gratidão ao Barreiro, por ter proporcionado viver mais de 50 anos, fazendo o que gosto, e, aqui e agora, continuando neste projecto de «empreendedorismo familiar» cívico, social e cultural, que se escreve com a palavra - ROSTOS.
 
Vou continuar a prestar este serviço público – irreverente, sonhador e livre. Obrigado, Barreiro.
É verdade minha amiga, tens razão: não é para todos!
 
António Sousa Pereira

Nota – Este é o meu obrigado a todos os amigos que estiveram comigo, solidários, a festejar os meus 70 anos! É lindo!
 
 
 
 
 

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