Diz-me espelho meu…
Estou num tempo que não me apetece correr. A idade já não o permite. E, diga-se, não tenho pressa. Não tenho, mesmo, pressa nenhuma.
É verdade, já nem tenho pachorra para ter pressa. Prefiro e procuro seguir os caminhos diários tranquilamente.
O tempo passa a correr de forma fulminante, por vezes, quando dou por mim, já estou ao meio da semana.
Hoje, estava mesmo com a sensação que era sábado.
A única pressa que tenho é, na verdade, quando pela manhã, vou comprar o pão, para o pequeno almoço, entro, ali, no «Gerações» e incomodo os meus amigos, ao dizer-lhes, bem alto: “Isto demora muito. Eu não gosto de esperar”. E, eles, de imediato respondem : “Veio ao sítio certo!”.
Divirto-me. Por vezes, clientes que escutam pela primeira vez, aquele desabafo e impropério matinal, olham para mim com aquele olhar que entendemos, perfeitamente, como quem nos diz: “Grande estúpido!”.
Percebo e sorrio. Os que já conhecem dão-me força e comentam : “É assim mesmo, aperte com eles!”.
São as rotinas dos dias. Aquelas pequenas coisas que fazem o nosso quotidiano. Vivendo divertidamente.
Cheguei mesmo à conclusão que o giro, o mesmo giro, é viver sentindo o pulsar dos dias. Olhar o sol. Sentir o vento. Escutar o som dos cães. Ouvir ao longo o ruído do comboio. Pensar as cores, sim, porque as cores também servem para nos dar pensamentos. Aproveitar, sem pressa, todo o tempo, por dentro do tempo.
Digo-vos mesmo, sinto uma enorme vontade, todos os dias, de sentir e amar a natureza – a vida!
Cheguei mesmo à conclusão que já não tenho tempo para ter sonhos, nem sonhar sonhos, por isso, apenas por isso, o meu desafio diário é, contraditoriamente, sentir e viver o sonho real, este, de estar vivo, aqui e agora, e viver.
Acreditem não há sonho mais lindo que o sonho real, esse, que nos faz viver, com tudo o que fomos, com tudo o que somos – sorrindo!
Se transformamos a nossa vida num sonho, então, a nossa vida é, na verdade a realização de todos os sonhos que sonhamos.
Diz-me espelho meu: Há sonho mais lindo que o sonho de viver e sentir que, de facto, este que está aqui, não é um sonho, mas sou eu, mesmo eu?
S.P.