Barreiro – Do «império industrial» ao «império do betão»

Hoje, no começo deste ano de Dois Mil e Vinte e Quatro, fui dar o meu passeio matinal, pelo Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita, lá estavam os resíduos da festa, essa festa que saúda efusivamente a passagem do tempo. Confetes. Notas de Euros. Garrafas. A festa.
Fui caminhando ao longo da margem, um «Bom Dia», aqui, um «Bom Ano», acolá. Um aperto de mão. Sempre presente, o novo tempo anunciado.
Junto à muralha, perto do Clube Naval do Barreiro, escutei as ondas do Tejo a beijar aquela franja de areal. Olhei Lisboa. É belo sentir os sons da paisagem. Fechar os olhos, sentindo a ondulação bater, com ternura, nos neurónios. Todas as paisagens têm dentro de si sons que transportamos.
O movimento da sonoridade das ondas foi, subitamente, quebrado pelo som das 11 horas, que rompeu a luz do sol, vindo da Igreja de Nª Srª do Rosário, a cantar – “Avé Maria”. Sorri.
Olhei a Caldeira da Braamcamp, ali ao abandono, já lá vão alguns anos, desde 2017, afinal, desde que a gestão socialista, que está apostada na construção do «Império de Betão», decidiu cancelar os investimentos de fundos europeus, que estavam programados e aprovados, e, pelos suas ilusões improváveis ( só porque o PDM, ultrapassado o previa) optou por desviar esses investimento para outros objectivos, enfim, sonhava construir naquela zona ribeirinha a dita «Veneza do Tejo». Estórias. Um território que é património municipal ao total abandono.
Neste meu deambular pela paisagem, olho para o fundo do Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita, observo os territórios da antiga CUF, recordo os meus dias a trabalhar na fábrica de Zinco Metálico. Nesse tempo, já com indústrias em decadência, os elefantes brancos que por ali proliferavam, mas, o Barreiro ainda tinha dentro das suas vivências quotidianas a energia do «Império Industrial», uma realidade económica e social que lhe dava vida própria, que se misturava com as suas zonas dormitório, nascidas na expansão urbana que começou nos anos 70, com a fuga dos quartos de Lisboa, para andares no Barreiro. De tal forma, esta era uma cidade viva e activa, que nos anos 90, o Barreiro era um dos concelhos, do país, com maior número de jovens licenciados.
Neste começo de ano de Dois Mil e Vinte Quatro, olho a paisagem, e, sinto que afinal, o Barreiro do «Império industrial», hoje, está sendo «fabricado» para se transformar num «Império do betão».
É isso que faz pensar, e sentir, a frase da moda: «O que o Barreiro era, e o que o Barreiro é…”. Coisas.
Divirtam-se. Bom Ano Novo.
António Sousa Pereira
