As GRUAS

Havia um tempo, feito de vento,
de muitos sonhos e esperança,
tempo de liberdade a florir nos olhos.
Havia um tempo, esse tempo, feito de paixão,
as palavras não se escreviam por escrever,
as palavras não se diziam, só por dizer,
as palavras eram, flor, silêncio e poema.
Havia um tempo que o poeta escrevia:
Chegam palavras do meu país.
Há fogo em Sintra. Há Greve no Barreiro.
A palavra greve, era senha, era esperança.
Há greve no Barreiro! Era palavra sinal,
Grito para viver, amar abraçar o futuro.
O tempo engole as palavras, vão no vento.
As palavras são, sempre, a marca do tempo.
Hoje, já há gruas no Barreiro! Clamam.
Há gruas no Barreiro! Sorriem.
Nas gruas a cidade faz-se cimento,
nas gruas instala-se o esquecimento,
nas gruas enterra-se o próprio tempo!
Afinal, com gruas, muitas gruas,
a esperança…morre dentro do tempo!
António Sousa Pereira
