A propósito de um coração verde marejado de estrelas…
Hoje é o dia de papoilas, searas, flores, palavras encantadas e vivas, aquelas que fazem nascer a centelha de esperança nos olhos, e, nelas, ainda conseguimos sentir a palavra amor inscrever-se para além dos gestos do quotidiano e das rotinas que escravizam a memória.
Hoje o céu está azul, límpido, os raios de sol ondulantes escrevem palavras de ternura na paisagem e, imaginem, o meu dia amanheceu com um coração verde marejado de estrelas cintilantes e um beijo a tocar os nervos.
Hoje é o dia de pensar as palavras, nelas inscrever o tempo, sentar-me a olhar o céu azul, viajar na seara dos raios de sol e viver, viver plenamente este tempo, com todas as palavras que nascem no silêncio, esse lugar, onde está tudo o que sou, tudo o que vivo, e tudo que descobrimos no caminho da vida vivida.
Afinal, tudo o que somos nasce num instante de silêncio e em silêncio um dia se transforma.
O belo da vida é sentirmos que todos os silêncios e todos os ruídos, ao longo do tempo, permanecem vivos e puros, no nosso recanto onde somos com os outros, porque nunca o nosso silêncio é solitário, nem o ruído se desfaz na energia do pulsar da solidão do nosso sangue.
O belo do silêncio é acordarmos, olharmos o céu límpido, e vermos que, hoje, ainda lá está o pássaro azul que escreve a palavra amor pela madrugada.
Afinal, este é o dia de acreditar que a palavra amor nunca será riscada da memória, nem dita ou sentida, com a energia dos olhos e dos nervos, nem sequer algum dia, será reinventada, por uma qualquer inteligência artificial, que faz da vida um tempo que vive do faz de conta, do parece que, do talvez…porque a palavra amor quando se escreve com o coração fica inscrita eternamente no coração. Amor. Amizade. Fraternidade.
É por isso, que, neste dia, que para mim, nasceu com um coração verde marejado de estrelas cintilantes de esperança, escrevo para ti estas palavras, porque tu, sabes os meus segredos, todos os meus segredos, e, conheces por dentro os meus silêncios. Tu nasceste um dia num beijo que te dei através do silêncio dos meus olhos, e, ainda hoje, nestes tempos da inteligência artificial, nestes tempos do faz de conta, nestes tempos marcado pela gestão de emoções, nós, tu e eu, continuamos a namorar, a gritar, a embirrar, a beijar, a olhar o céu azul de mãos dadas, porque, na vida, foi na vida, descobrimos que o amor não se inventa e não se limita a nervos ou emoção.
O amor é o silêncio que beijamos no coração, é o grito que toca os nervos, é o caminho vivido em todos os instantes, é compreender, é soletrar com os olhos o tempo, todo o tempo – do mar, das searas, das cidades, da revolução, dos sonhos, das sementes, dos sabores, dos cheiros, do luar, da neve, da serra, das flores, sim das flores. Um tempo que não se inventa, vive-se. E tu sabes, eu sei que tu sabes, como é lindo amar por dentro dos olhos e na beleza do silêncio. Tudo o resto são circunstâncias.
António Sousa Pereira