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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

A minha avó Rita uma lutadora enorme

 

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Na minha terra, a Rua da Espanha, e toda a área do Largo da Bica, era uma zona especial. Fui para aí viver, com a minha avó, após a morte da minha mãe, tinha 7 anos. Naquele tempo não havia água canalizada nas casas, íamos à Bica, com o cântaro de barro encher de água. Recordo vagamente quando, por essa altura, esventraram a rua, para instalar rede de água e esgotos.

 
A Rua da Espanha, a Rua Estreita era um mundo muito especial, a amizade sentia-se nas portas abertas de todas as casas. A rua era uma família.
Foi ali, que a minha avó, todas as noites ao deitar me ensinou a rezar e a benzer., junto a uma lamparina com azeite e um quadro de Cristo.
 
A minha avó era um mulher muito especial, pequenina, franzina, mas de uma energia incalculável, tudo fazia, após sair da fábrica, do Parody, onde exercia a sua profissão de Operária Conserveira, depois ainda pela noite dentro, quando não fazia serões, prestava serviços de limpeza e cozinheira, para garantir a comida e uma vida saudável a mim e à minha irmã Josefa. Contava com o apoio do meu tio Lisberto.
 
A minha avó Rita, era uma lutadora enorme. Uma Senhora de grande dignidade e nobreza. Pura de sentimentos. Feliz na sua simplicidade. Amava a vida, apesar de vestir sempre de negro, nunca a vi vestida de outra cor. A cor do luto e da dor.
 
No dia de hoje, há 45 anos, a minha avó partiu para o infinito. Eu tinha acabado de fazer 25 anos. Ela partia com 75 anos.
Recordo que dias antes dela partir fui a Vila Real de Santo António para estar com ela, que estava acamada, já há alguns tempos na casa minha Tia Arminda. Escreveram-me a dizer que a avó tinha o desejo de me ver, queria estar comigo.
Meti-me no comboio e lá fui. Estive junto à cama dela, há dias que não falava disseram-me, nem sequer abria os olhos.
 
Naquela última manhã que estive com ela, abriu os olhos, sorriu para mim, falou comigo, apertou-se as mãos, ainda sinto as mãos dela a tocar o meu coração. Olhou para mim e disse: «És tu Tonico». E apertou seus dedos nos meus dedos.
 
Nesse mesmo dia regressei ao Barreiro, e, no dia seguinte recebi a notícia da sua partida.
Recordo, hoje, 45 anos depois esse dia do ano de 1977, quase meio século, mas que continua presente na minha memória, os seus dedos a tocar, os seus olhos a olhar os meus: «És tu Tonico». Foram as últimas palavras que escutei da minha avó, uma heroína, uma mulher de luta e garra, uma senhora que me ensinou a sentir que a vida é para viver e nunca desistir de lutar: porque lutar é abraçar a vida e sentir o futuro no coração.
 
António Sousa Pereira

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