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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

Obrigado, Tertúlia de «Os Leças»! . A liberdade “está a passar por ali”.

 

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Ontem, naquele encontro habitual da Tertúlia de «Os Leças», no final do almoço, fui surpreendido com um bolo para assinalar o 21º aniversário do jornal «Rostos». Foi uma agradável surpresa.

 

A Tertúlia de “Os Leças” é um ponto de encontro, todas as segundas feiras, que conta com a participação de quem quiser aparecer, ali, é sempre bem vindo “quem vier por bem” e, o lema, podia escrever-se “trás outro amigo também”.

Enquanto vamos almoçando as conversas são como as cerejas, fala-se de tudo, desde a Guerra da Ucrânia, passando pela vida política nacional ou local. Recordam-se estórias dos tempos idos, quer de antes, quer de depois do 25 de Abril. Rimos. Galhofamos. Provocações nunca faltam. Fala-se de tanta coisa, que, por vezes, a conversa aquece, mas, uma coisa é certa, a linha central daquele ponto de encontro é o respeito pelas diferenças.

São pessoas de diferentes opções políticas ou ideológicas. Uns conhecem-se há algumas décadas. Outros mais recentemente. Alguns conheceram-se por ali, uns chegam, outros partem. Não há obrigatoriedade de cumprir presença. Vai quem quer e quando quer, mas, todas as segundas feiras, lá está sempre a funcionar aquela Tertúlia. Um esmerado serviço de cozinha. Um esmerado serviço de apoio. Voluntários, que se juntam ao líder Alfredo Gonçalves, que, hoje, como ontem, continua a fazer do associativismo a forma mais bela de dar vida aos seus dias.

Ah, é verdade, só existe uma obrigação a cumprir, afinal, a ideia da Tertúlia partiu dele, por essa razão todos se levantam quando entra na sala, no verdadeiro respeito pelo Presidente Honorário da Tertúlia – Mário Durval.

 

Neste tempo que vivemos, cada vez mais marcado pela ausência de diálogos, que as redes sociais afastam-nos do salutar convívio de conversar a olhar – olhos nos olhos – a Tertúlia de «Os Leças» é um exemplo vivo da importância do comunicar e, pessoas com pensamentos diferentes, percursos de vida diferentes, por vezes, até, com conflitos ou divergências no passado, são capazes de sentar-se na mesma mesa, conversar, discutir, confrontar até memórias do passado, mas, o respeito e a tolerância, fica como marca desta realidade, que se vive num contexto associativo.

Talvez por isso, tem vindo a cimentar-se a ideia de por ali na Tertúlia cada um  trazer um tema, que seja  motivo de debate e, quem sabe, até o ponto de partido para abordagens mais profundas, sendo um contributo para fazer democracia e participação na vida do concelho.

Afinal, a principal ambição dos participantes nesta Tertúlia é sentirem e viverem o direito de partilhar ideias, conversar, dar sentido real à palavra democracia. Porque a democracia é o confronto de ideias.

É, talvez, por isso, gosto de marcar presença e estar por ali, na conversa, a degustar os sabores, e sentir a beleza da liberdade “está a passar por ali”.

 

Mas, a razão de hoje escrever esta nota tem a ver com o facto de ontem, na Tertúlia, ter sido surpreendido com um bolo de aniversário e um momento de fraternidade cantando-se os parabéns ao Jornal «Rostos».

As velas foram apagadas por Jorge Fagundes, o veterano da Tertúlia e Colunista do Jornal Rostos. Estavam ainda presentes outros dois colunistas do jornal Carlos Alberto Correia e Mário Durval.

Foi um gesto que quero aqui, publicamente agradecer, porque uma das coisas mais belas da vida que nos dá energia e força é sentirmos à nossa volta um pouco de gratidão. Obrigado.

Jorge Duarte, um dos habituais membros da Tertúlia, no meio daquela euforia das velas e dos parabéns, voltou-se para mim e agradeceu o trabalho de décadas que pessoalmente, tenho dedicado ao jornalismo no concelho do Barreiro, sublinhou que admirava-se como é que eu aguentei e resisto tanto tempo.

Oh Jorge, foi por paixão, por amor, por fazer o que gosto, e, por sentir que presto um serviço cívico, e, também, acima de tudo, porque há leitores que sentem a importância deste projecto, e o seu papel na valorização da cidadania e no fazer cidade.

Obrigado, Jorge, pelas tua palavras, sabes, senti o que disseste e guardei num cantinho do meu silêncio interior.

 

A vida é simples. São coisas simples, principalmente aquelas que enchem o dia de fraternidade que, emergem como sinais e dão força para manter uma forma de estar e viver a comunidade.

Obrigado pessoal da Tertúlia de «Os Leças». Afinal, o «Rostos» atingiu 21 anos também com o vosso contributo e solidariedade.

 

António Sousa Pereira

Do silêncio do útero à descoberta do silêncio interior

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Agradeço a Vera Silva o convite que me formulou para estar, hoje e aqui, a partilhar a apresentação do seu livro «Meditar e Educar – um guia para pais e professores». É uma honra. Obrigado. 

Começo por sublinhar que após ler, de forma apaixonada, o livro de Vera Silva, optei por deixar as suas palavras ficarem, no silêncio, a percorrer o meu sangue, a tocar os meus nervos, e, com elas deambulei por vários dias, espreitando por dentro das janelas que se abriam perante o meu olhar, numa imensa diversidade de temas que estão semeados nas suas páginas, escritas com ternura e nas quais sente-se o pulsar do coração.

Este é um livro que nos faz sentir a vida, o pulsar da vida, que nos motiva a fazer uma viagem por dentro da criança que está dentro de nós, e, como dizia Platão, que permanece sempre dentro de nós.

Um texto que nos faz pensar o tempo, que faz sentir o tempo, que alerta para a importância do tempo, como percurso de aprendizagem permanente, o tempo que contribui para a nossa constante mudança, o tempo que se faz semente, que se faz flor, que se faz fruto, como dizia Hegel. A dialética da vida. 

O tempo que é evolução, que é desenvolvimento, que é crescimento. O tempo que nos encoraja a descobrir o nosso próprio caminho, dando um sentido à vida, superando diversos estádios, e citando Vera Silva – do impulsivo ao emocional, do sensorial-motor à socialização, do pragmático ao cultural, todo o tempo que vivemos e nos forja a personalidade.

Todos nós desde crianças aprendemos a toda a hora, é nesse aprender que nos erguemos como seres individuais e construímos a nossa própria história, como sublinha Vera Silva.

 

É através do tempo, que se faz aprendizagem, é através do tempo que da criança se faz o alicerce do adulto, semeando a auto-estima.

É da criança que se faz adulto que sentimos o tempo como uma permanente aprendizagem, na busca de um sentido para a vida, e, na descoberta da felicidade.

Um caminho que se faz com quedas, com lágrimas, um caminho que se faz vivendo todas as sensações e emoções, um caminho que se faz nessa totalidade – corpo e mente -  essa realidade que faz de nós seres únicos, que nos dá essa condição humana, feita sempre do «eu» e o «outro», do «nós» e os «outros». Somos seres sociais.  

 

Foram estes sentimentos que fui saboreando ao ler as páginas de Vera Silva. Senti as suas palavras, lendo e relendo, porque, na verdade este livro é para ler e reler, é um guia de relações humanas, é um manual de práticas contemplativas, que une a teoria à prática. Um livro onde descobrimos uma linguagem corporal e uma linguagem verbal. Um livro onde somos desafiados a pensar, a descobrir, o que nos rodeia, um livro que nos motiva a pensar que cada ser humano é um ser diferente, e, que, afinal, é essa diferença que permite a evolução da sociedade.

Um desafio para os professores para que façam da sala de aula um lugar de aprendizagem pela experiência, pela relação com os outros. A sala de aula como espaço de integração social saudável. Uma janela aberta ao mundo, sublinha Vera  Silva.

Um desafio para os pais, para que sintam que a educação dos seus filhos é uma transmissão de saberes, de descoberta de caminhos, e que a missão de educar é encorajar a continuar em busca de caminhos. Educar pelo exemplo.

Um desafio a utilizar a meditação como um recurso de partilha, de conexão de sinergias, de viver experiências na primeira pessoa.

Na verdade, quando pensamos, meditamos sobre algo, controlamos a respiração, sentimos uma sensação de bem estar, mergulhamos no nosso interior. A meditação fortalece a vontade. A prática da meditação proporciona à mente momentos de contemplação e ao corpo relaxamento. A meditação permite sentir a energia do presente,

 

Vera Silva coloca desafios aos pais, aos avós, aos professores, à família, à escola, encorajando todos a utilizar de forma positiva a ferramenta da meditação para melhorar as capacidades psicológicas, gerir a informação das vivências quotidianas de forma criativa, e, desta forma, ajudando à descoberta do corpo, das emoções e do ser social.

 

Digo-vos, senti um enorme prazer ao percorrer as páginas, senti uma imensa alegria porque este livro é uma riqueza de experiências, de reflexão, de exercícios. O corpo humano vivido por dentro de uma experiência meditativa.

É uma leitura que nos enriquece como seres humano, que ajuda a sentir o ritmo da vida, que permite escutar o silêncio do tempo, neste tempo, que vivemos a correr atrás dos ruídos do tempo.

Esta obra proporciona a abordagem de uma diversidade de temas, e, na realidade, na sua leitura, cada um de nós, pode encontrar  pistas de reflexão que vão ao encontro do nosso pensar, que estejam de acordo com a nossa forma de estar, de sentir e de pensar o mundo. É um verdadeiro manual de sociabilização.

O seu conteúdo ajuda a gerir o nosso eu, ou a gerir o nosso eu social, como diria Freud – o ego e o super ego.

 

Vera Silva escava o terreno de muitos temas, abre imensos caminhos, permite pensar a criança, a família, a escola, o tempo, a aprendizagem, os afectos, a comunidade, a felicidade, a gestão de conflitos, a violência, a harmonia, a paz, a humildade, a inclusão, a exclusão, a espiritualidade, entre outros temas, por essa razão, dentro desta diversidade de assuntos, dou comigo a interrogar-me : afinal qual o tema central desta obra?

E, por fim, ali, na página 103, de repente dou comigo a fixar os olhos e a mente, em palavras que fizeram pulsar os meus nervos, e, até, uma lágrima tocar o meu coração:

“Eis que a magia acontece: as duas células encontram-se e fundem-se. A partir daí, o corpo da mãe é o universo do ser que está a ser gerado, então este é o primeiro meio onde realiza as primeiras aprendizagens”.

E um pouco adiante, Vera Silva, acrescenta – “tudo o que a progenitora sente – as alegrias e as tristezas, os medos, a paz e o amor – o bebé também sente”.

Nesse instante senti que o tema central desta obra escreve-se com a palavra AMOR.

Senti a magia, senti que este livro pode ser sintetizado numa frase, que é uma viagem -  “Do silêncio do útero à descoberta do silêncio interior”.

O silêncio da magia da palavra amor, o silêncio da magia da meditação, o silêncio da magia da aprendizagem, o silêncio da magia da criatividade, o silêncio da magia que nos transporta ao encontro do tempo que vivemos e nele descobrirmos o silêncio interior, esse lugar único, que nos dá a nossa personalidade.

 

O silêncio interior do útero onde tudo começa, ao nosso silêncio interior onde nós somos, esse lugar onde não mentimos, não iludimos, afinal, o lugar onde o nosso coração se unifica com o corpo, com a mente e com a vida – é essa a beleza do AMOR.

Quando meditamos e descobrimos o silêncio da nossa voz – o grilo falante – sentimos o sublime da vida, como escrevia o poeta, Fernando Pessoa – “Só nós somos sempre iguais a nós próprios”.

Este ensaio de Vera Silva, coloca desafios ao nível da psicologia, da pedagogia, da antropologia, da sociologia, da teologia, da filosofia, ele, é um manual de práticas, é um poema, um hino à vida, um cântico à harmonia, páginas que ajudam a viver o tempo, por dentro do tempo, e, também a aprender a viver a ausência do tempo. A Paz.

É por isso, que dou comigo a pensar a importância de ter algum tempo para mim. Ter algum tempo para o outro. Não desperdiçar o tempo e aprender a viver em paz e harmonia. É isto a meditação.

Viver é amar o tempo que vivemos, é guardar todo o tempo que vivemos com a ternura da voz da criança que existe sempre dentro de nós e, é  ela, a sorrir, que faz sentir o pulsar da palavra AMOR.

Foi lindo, nesta obra, sentir dentro de mim o tempo de criança, sentir, até, o tempo que a criança não tem, porque a criança não tem noção de tempo, e, neste pulsar entre o coração e mente, usufrui a plenitude do momento presente. Libertando-me no silêncio. É isso, não é Vera?

 

Por essa razão, vou seguir o conselho de fechar os olhos, sentir os aromas, escutar os sons, sentir o pulsar do coração e num meditar entrelaçado com a palavra AMOR, abraço um desafio futuro : As Cartas que eu vou escrever à minha neta!

Obrigado por esta lição de vida. Pela energia criativa que exige de nós acção. Um desafio de amar a vida. Um desafio de viver a magia do amor.  

 

Por isso, Vera, para encerrar partilho consigo este poema de António Gedeão:

Este é o poema do amor

O poema que o poeta propositadamente escreveu
 só para falar de amor,

 

 de amor,
 de amor,
 de amor,

 

 para repetir muitas vezes amor,

 

 amor,
 amor,
 amor.

 

 Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
 contar as palavras que o poeta escreveu,

 tantos que,
 tantos se,
 tantos lhe,
 tantos tu,
 tantos ela,
 tantos eu,

 conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu


 foi amor,

 amor,
 amor.

 

Este é o poema do amor.

 

António Sousa Pereira

Barreiro 17 de dezembro de 2022  

 

 

Barreiro – Da tecnologia ao imobiliário

O caminho-de-ferro no Barreiro - História e Memória Social

de Rosalina Carmona

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Senti um grande orgulho por estar ali, num dia e na hora de jogo de Portugal, num campeonato mundial de futebol, ao sentir uma sala cheia, com mais de uma centena de pessoas, e, dar o meu contributo na apresentação do livro "O caminho-de-ferro no Barreiro - História e Memória Social", de Rosalina Carmona.

Ali, naquela sala que, precisamente, neste mês de Dezembro, no ano de 1922, foi adquirida pelos ferroviários do Barreiro e passou a designar-se “Casa dos Ferroviários”. Que bela homenagem à cultura ferroviária assinalando este centenário, com este dia de história e cultura.

Reproduzo o texto integral da minha intervenção no decorrer da apresentação do livro, hoje, dia 10 de dezembro de 2022.

O caminho-de-ferro no Barreiro - História e Memória Social

de Rosalina Carmona

 Barreiro – Da tecnologia ao imobiliário

 

Boa tarde,

Num dia e hora de jogo de Portugal, num campeonato mundial de futebol, estar aqui, de facto, só por amor ao Barreiro, ao prazer de pensar a história, e, ao desejo de expressar a gratidão ao trabalho da historiadora Rosalina Carmona.

 

Dito isto, quero agradecer este amável e inesperado convite de Rosalina Carmona, para estar aqui, neste dia, ao seu lado, neste começo da segunda década do século XXI, para comentar o seu livro, que nos faz reviver a epopeia deste território, desde os tempos do século XIX, e, também nos proporciona uma viagem por dentro do século XX, até aos dias de hoje, aqui e agora, numa luta contra o tempo, na qual a Rosalina não abdica de estar e, por essa razão, não deita a toalha ao chão, pois procura tudo fazer para dar o seu contributo com o objectivo de salvaguardar e preservar um património histórico, único, assumindo esse desígnio, quer como Historiadora, quer como cidadã. É essa energia que está inscrita na sua obra: “O Caminho-de-Ferro no Barreiro – História e Memória Social”.

 

Costuma-se dizer que só se ama aquilo que se conhece, pois a minha amiga Rosalina, conhece, por dentro dos nervos, esta história ferroviária, esta cultura ferroviária, este legado civilizacional, que ela transporta por dentro do seu coração de forma pura e apaixonada. Sente-se isso ao ler o seu livro.

Rosalina, procura fazer-nos compreender os pormenores, desde as várias categorias profissionais, passando pelo mundo das ideias, vivendo tudo com paixão e escolhendo um lado da história, que para ela, é indissociável da luta de classes e no seu percurso de vida, a vida de uma mulher de luta e trabalho, que se fez, por si mesma, levantando-se do chão, para assumir de cabeça erguida a consciência de uma jangada de pedra. Os seus ideais e sonhos de querer construir um mundo que se faz no presente, com o legado de gerações que nos antecederam.

 

Como um dia escreveu Marc Bloch: “Não afirmemos que o bom historiador é alheio a paixões”, Bloch refere, que o “historiador escolhe e aparta”, porque “analisa” entre a “diversidade dos factos”.

Rosalina Carmona, escolhe, interpreta e valoriza, assumindo uma “unidade de consciência” na sua viagem pela história. É uma opção.

 

A nossa historiadora do Barreiro ferroviário, refere na sua obra, por exemplo, que este espaço, aqui, onde estamos, há precisamente 100 atrás, neste mês de Dezembro, no ano de 1922, ele adquiriu a designação de “Casa dos Ferroviários”, realizando-se nesses dias um sonho da família ferroviária barreirense.

E, portanto, não tenho dúvidas, que esta é uma bela forma de assinalarmos este centenário, estarmos, aqui, neste dezembro de 2022, a apresentar esta obra de Rosalina Carmona.

 

Na verdade, assim estamos, também, nos dias de hoje, a escrever uma página da história da cultura ferroviária do Barreiro e do país, neste século XXI.

Neste tempo que o Barreiro devia estar atento e, na realidade, não deixar que as coisas aconteçam e ficarmos apenas à margem da história, assim como quem diz – a ver os comboios passar. Como aconteceu nos anos 90 – nomeadamente a partir de 1999 – quando o vimos passar ao longe, na ponte 25 de Abril.

 

Esta investigação histórica de Rosalina Carmona permite-nos ter a visão da importância dos caminhos de ferro no Barreiro, não apenas para a História Local, mas também para a História de Portugal.

Foi nos anos do século XIX, que Portugal deu os primeiros passos na criação de uma rede ferroviária, assumindo a ferrovia como uma marca de uma mudança civilizacional, rasgando novos caminhos, que visavam superar a sua dimensão puramente agrícola, nesse tempo, sem dúvida, o Barreiro estava na linha da frente da modernização e da inovação do país.

Os dois primeiros troços ferroviários no país são – Lisboa até ao Carregado; e Barreiro para o sul do país, recorda Rosalina Carmona.

Desde esse tempo, o Barreiro passou a integrar o nó da centralidade ferroviária, em torno de Lisboa. E viu nas margens do Tejo, nascer um património único no país - uma Estação Ferro Fluvial, que devia ser preservada, de forma a ser parte de uma história tecnológica e cultural de Portugal, da Europa e do mundo.

Aliás, o estuário do Tejo que tem uma riqueza patrimonial, material e imaterial – de edificados e natural -  devia ser declarado património mundial da humanidade.

Afinal, como dizia o poeta, o meu poeta Fernando Pessoa – “pelo Tejo vai-se para o mundo”.

E digo-vos, o lugar que o Barreiro devia estar a ocupar, de novo, neste século XXI, num tempo que a Europa, afirma querer e está a investir como prioridade neste sector, com o objetivo principal de criar um espaço ferroviário europeu único, um sistema de redes ferroviárias à escala da União Europeia, o Barreiro devia estar na primeira linha para ocupar um lugar nessa rede de futuro.

Num tempo que o Conselho Europeu aprovou, por exemplo, como estratégia para o sector ferroviário, o objetivo de duplicar na União Europeia os comboios de alta velocidade até 2030, que, o mais que pode acontecer se ficarmos em silêncio, é de novo ficarmos a ver passar comboios.

E, também, num tempo, como salienta Rosalina Carmona no seu livro que o “Plano Nacional Ferroviário está em desenvolvimento”, perante tudo isto, na realidade, ainda mais se justifica dar força,  salientar e afirmar a importância histórica da cultura ferroviária do concelho do Barreiro.

Considero que esse legado histórico, essa cultura, afirmada na obra de Rosalina Carmona, é essencial para quem queira olhar estrategicamente para o futuro do Barreiro e nesse futuro dar importância ao sector ferroviário.

Afinal, um dia, inevitavelmente, vai avançar a construção da Terceira Travessia do Tejo, nem que seja só com a vertente ferroviária, e,  o Barreiro ou está preparado para esse futuro, ou fica, apenas, deslumbrado na sua visão de cidade imobiliária.

 

Também, por este facto, esta obra de Rosalina Carmona é, neste contexto e nesta actualidade, uma pedrada no charco do silêncio que demonstra a ausência de uma estratégia, ou de pensamento sobre a importância da ferrovia e o seu papel no  futuro do Barreiro.

É urgente, é necessário, é preciso equacionar num pensamento estratégico sobre a ferrovia e o Barreiro, unir esse pensar estratégico com uma visão de modernidade, e, obviamente, com um pensar cultural valorizando o nicho ferroviário que faz parte do património histórico do Barreiro. Este é um grito que se sente nesta obra de Rosalina Carmona.   

 

Sim, esta realidade epocal, nacional e europeia, emergente, hoje, neste século XXI, é mais um contexto que nos motiva a sentirmos um grande orgulho do trabalho de investigação da história ferroviária do Barreiro patente nesta sua obra.

Quando lemos estas páginas da história ferroviária do concelho do Barreiro sentimos que esta história local, é, sempre, indissociável da história ferroviária do país. O Barreiro está na história ferroviária de Portugal.

  

Por tudo isto, repito, sentimos o desejo de expressar a gratidão à historiadora – também à mulher e cidadã - pelo seu trabalho de investigação, e, por, através do seu trabalho, nos proporcionar uma viagem pela memória e pelas memórias, ao mesmo tempo que nos coloca no centro do pensar e reflectir sobre os caminhos do fazer futuro.

 

“O que faz de um qualquer número de pérolas um colar é o fio invisível interior que as une – que as liga numa certa ordem, segundo determinada configuração”, afirmou António Sérgio, na sua reflexão sobre história, historiadores, cronistas e documentos históricos, para concluir que “o fio de ideias” que liga “uma interpretação da história”, não é mais que aquilo que ajuda a  “compreendê-la”, a “uni-la inteligivelmente”, com uma “visão de unidade”, como “um único” que  ajuda a “compreender o passado” e a “forjar espíritos construtores de futuro”.

Esta matriz de olhar para a história e para a investigação histórica, foi, de certa forma, a posição onde me coloquei ao longo da leitura e reflexões que desbravei na obra: “O caminho-de-ferro no Barreiro - História e Memória Social”, de Rosalina Carmona.

 

Porque na realidade esta é uma obra recheada de factos históricos, de pesquisa, de “muitas pérolas” com um “fio condutor”, que proporciona um legado de pistas de interpretação sobre o papel e o contributo dos caminhos de ferro para este espaço geográfico, nas margens do Tejo, frente a Lisboa, um território que tem na sua paisagem urbana inscrito um património ferroviário, um legado, que marcou o Barreiro, como comunidade, ao longo de várias gerações, dando-lhe uma dimensão especifica que integra as suas vivências humanistas, ao longo dos  séculos XIX e XX, sendo essa uma marca da sua identidade.

Um património civilizacional, porque é um legado de sucessivas gerações, quer físico, quer intelectual, é por isso que esta obra de Rosalina Carmona, tem dentro de si, muita matéria para uma abordagem ao nível da sociologia, da antropologia, do planeamento do território e sócio-cultural do Barreiro na região.

O património ferroviário do Barreiro tem dentro de si uma mais valia, que pode abrir portas, ele mesmo, a um turismo cultural dos caminhos de ferro, colocando o Barreiro na Rota Europeia do mundo ferroviário.

Este é, sem dúvida, um património que carece de ser pensado, defendido, valorizado e preservado.

 

A obra de Rosalina Carmona permite-nos sentir que a história deste lugar Barreiro se escreve com um antes, e um depois, do seu tempo ferroviário. Que seria do Barreiro sem Miguel Pais?, interroguei um dia.

A ferrovia é o tempo histórico que abre a porta a um novo tempo da então Vila piscatória e marítima, moleira, agrícola, salineira, para um tempo de uma nova realidade económica – da cortiça à indústria química, têxtil, metalomecânica.

Uma nova realidade que transporta dentro de si uma nova dimensão social e cultural, e, na verdade é decisiva para a história industrial do país.

Uma história de desenvolvimento demográfico e humanista, que traz consigo o desenvolvimento pela instrução, com a formação escolar, ou pelas dinâmicas associativas e cooperativas.

 

O caminho de ferro é um fenómeno económico, social, cultural, que dá ao Barreiro uma nova identidade, levando-o para um tempo novo feito da sua diversidade – marítimo, rural, urbano e industrial.

Pelo Caminho de Ferro chegam matérias primas, chegam pessoas, chegam ideias, e são lançadas as sementes de uma terra que se faz CUF, que se faz CP, que foi a marca da “revolução industrial”, a qual é  indissociável da “revolução de ideias”.

Sim, é tudo isto, que dá ao Barreiro  - unidade, identidade e memória. Tudo isto faz do Barreiro uma terra de gente culta e solidária.

 

É preciso dizer bem alto, que uma cidade que não preserve a sua identidade, que não compreende o seu passado, que, neste caso, desista de dar ao seu património ferroviário uma importância cívica e cultural, e apostar na sua classificação, se desiste do seu passado, é uma cidade que desistiu de manter viva a sua importância e a sua dimensão histórica, na sua própria história e na história do país.

Digo-vos, seria bom e era merecido que fosse escutado este «grito de Ipiranga» inscrito nesta obra de Rosalina Carmona.

Este seu trabalho faz parte integrante do seu contributo para arrancar a ferros a Classificação do Património Ferroviário, que se arrasta desde 2009.

Será que este «grito de Ipiranga» vai ser escutado? Interrogo-me e interrogo. Os interesses imobiliários. A estratégia do PDM em vigor…as coisas que fazem esta cidade na sua realidade, aquela cidade que mais que pensar-se e fazer-se, interroga-se e gere-se no viver as circunstâncias, o imediatismo, ou as futilidades de um imaginário daqui a 500 anos.   

Enfim, são tantas as interrogações e incertezas, que ao chegar ao final da leitura deste trabalho de Rosalina Carmona pensei, apenas, sim, apenas pensei,  associar a minha voz às suas palavras e gritar: Por favor, dignifiquem a cultura ferroviária do Barreiro!    

 

António Sousa Pereira

10 de Dezembro de 2022

 

 

José Saramago legou ao Barreiro «O Sabor da Palavra Liberdade»

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. “Estamos a entregar nas mãos daqueles que elegemos demasiadas coisas”, palavras de José Saramago, em «O Sabor da Palavra Liberdade»


“Convidaram-me para vir falar do sabor da palavra liberdade e aqui estou…”, com estas palavras começou José Saramago, a sua intervenção, no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro, no ano de 1990, iniciativa que decorreu no âmbito das comemorações do 25 de Abril.

Uns dias antes, na minha função, na época de responsável de Informação e Relações Públicas da Câmara Municipal do Barreiro, telefonei a José Saramago, a convida-lo para participar num Colóquio no programa das comemorações do 25 de Abril.
José Saramago, respondeu-me que não desejava participar em nenhum debate, ou colóquio sobre o 25 de Abril.
Então disse-lhe que o tema do colóquio não era o 25 de Abril, mas: O Sabor da Palavra Liberdade. O lema que criei e foi aprovado para nesse ano ser o mote das comemorações da Revolução dos Cravos.
José Saramago, respondeu-me de imediato, perante o tema do colóquio: “Podem contar comigo”. E ficamos a conversar um pouco sobre o tema.

Eu já conhecia José Saramago, trouxe-o ao Barreiro e jantamos no Restaurante “Centenário”, num dia que veio falar sobre o seu livro “Jangada de Pedra”, num ciclo de encontros com diversos escritores que organizei no Auditório do Centro de Trabalho do PCP. Um dia de casa cheia, tal como aconteceu com David Mourão Ferreira, ou Baptista Bastos, assim como Manuel da Fonseca e Maria Rosa Colaço, e muitos outros.

Mas voltando a José Saramago, no dia da conversa, no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro com o tema “O Sabor da Palavra Liberdade”, tomei uma decisão de gravar o colóquio. Uma boa aposta.
No ano seguinte, com o texto da sua intervenção em papel, contactei José Saramago. Fui a casa dele, na altura residia na Estrela, em Lisboa. Leu o texto com entusiasmo. Conversámos. A ideia era publicar o texto, pela sua actualidade.
José Saramago concordou. Depois de acertar alguns pormenores, porque a forma como se fala não é a forma como se escreve, ficou tudo em ordem para ser publicado o original de José Saramago~, com o tema: “O Sabor da Palavra Liberdade”.
Um texto que continua actual. Uma publicação que é da responsabilidade da Câmara Municipal do Barreiro, que já teve uma segunda edição, e, agora que vamos entrar nas comemorações do centenário do nascimento do escrito que ganhou o Nobel da Literatura, era interessante, voltar a reeditar o texto, pois era um contributo positivo para assinalar a efeméride.
José Saramago um nome que está ligado ao concelho do Barreiro. As novas gerações deviam ler e ler o texto «O Sabor da Palavra Liberdade”.

A actualidade do texto «O Sabor da Palavra Liberdade»

«Deveríamos ganhar consciência de que somos um momento crucial da história portuguesa, de que não podemos fugir à responsabilidade de procurar compreender e influenciar o que hoje se passa, por assim dizer, à nossa revelia. Deveríamos deixar a atitude egoísta, hoje comum, de valorizar, por cima de tudo, aqueles interesses que possam servir a nossa vida pessoal, e que acabará por levar-nos à indiferença como forma de opção política. Não tarda muito que digamos: «A minha política é o dinheiro que eu ganho»

Estamos, penso eu, a delegar demasiado, estamos a entregar nas mãos daqueles que elegemos demasiadas coisas, estamos a usar de pouca ou nenhuma exigência na avaliação dos seus actos, como se, no fundo, apenas aspirássemos a ter alguém que nos governe e nos deixe ganhar a vida o melhor possível. Contentamo-nos com pôr um voto nas urnas de quatro em quatro anos ou de cinco em cinco anos, como o único e pouco trabalhoso dever cívico que estamos dispostos a reconhecer", são palavras de José Saramago, em “O Sabor da Palavra Liberdade”.

Eu tenho um prazer enorme de ter conhecido de perto José Saramago, de com ele ter partilhado momentos na vida, conversado, dialogado, num rir a bom rir, e, afinal, ter sido o criador do lema : «O Sabor da Palavra Liberdade», que deu o título à publicação editada pela Câmara Municipal do Barreiro, com o fraterno abraço de José Saramago.

António Sousa Pereira

BARREIRO - Centro de Vacinação COVID 19 em Coina: eficácia na prestação do serviço

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O Serviço de Vacinação contra a COVID 19 está a funcionar nas instalações do Centro de Saúde de Coina, tendo sido instalada no exterior uma tenda do Serviço Municipal de Protecção Civil, onde é feita a recepção e a triagem dos utentes, quer os que ali se deslocam para fruir do sistema “porta aberta”, quer os utentes agendados pelo SNS.
 

O SNS informou-me que era o meu dia para ser vacinado. Lá fui á hora agendada. Recebido na triagem e preenchendo o respectivo impresso, aguardei, e que posso referir é que decorreu tudo com rapidez, eficácia e eficiência.
Além da vacina COVID 19, também fui vacinado com a dose da Gripe, que comentei : “Adoro essa vacina”. A enfermeira riu-se. “Nunca tinha escutado ninguém a dizer que adorava esta vacina”.
De facto, há dois ou três anos, quando comecei a ser vacinado com a dose da Gripe, antes dos dias da pandemia do COVID, na verdade, fiquei maravilhado, pois, a partir daí, nos sucessivos invernos, nunca mais tive as tradicionais constipações. Uma maravilha. Adoro a vacina da gripe.

Mas esta nota, que decidi escrever, nada tema ver com a prestação deste serviço naquelas instalações que deviam estar ao serviço da população de Coina e arredores, e, estão sendo utilizadas pelo ACES para prestação do Serviço de vacinação COVID 19.

Hoje estava a chuviscar, a temperatura não era muito aprazível, por acaso não estava vento, nem sol, e, enquanto estava por ali sentado interroguei-me que razões teriam motivado a encerrar a utilização do espaço com mais condições, existente no parque Empresarial da Baía do Tejo.
E pensei que as pessoas idosas não merecem estar, ali, numa tenda, ao frio ou com calor, enquanto aguardam a vacinação, nem é justo para os técnicos do SNS trabalhar naquelas condições.

Uma autarquia que, pelo que ouvi dizer, envergonhou o governo colocado no seu orçamento a verba necessária para resolver o problema da construção do Centro de Saúde no Alto do Seixalinho, situação essa que levou o Poder Central, pelo que ouvi dizer, a inserir a verba no Orçamento de 2023, no âmbito do PRR. E desta forma decidindo fazer, sem recorrer a reivindicações, envergonhou o Governo e este decidiu avançar com o Centro de Saúde.
Ora sendo assim, a autarquia devia envergonhar o Governo de novo, disponibilizando uma verba para alugar um espaço em condições para que o processo de vacinação decorresse num espaço com condições dignas.
É preciso envergonhar o Governo, que se envergonhe, pois se o Governo quando é envergonhado dá respostas, pode ser a solução para resolver muitas carências. Reivindicar, não! Envergonhar, sim!

Aquele Centro de Saúde em Coina deve ser colocado ao serviço da população e o Centro de Vacinação COVID 19, merece mais dignidade. Os barreirenses merecem.
Foi isto que pensei enquanto estive por ali sentado…

António Sousa Pereira

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Humildade…perdes sempre!

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“Humildade…perdes sempre!”, foi uma frase que registei na minha agenda, no dia de hoje, há 30 anos atrás. Estávamos no ano de 1992. A SIC tinha arrancado recentemente. E dentro de mim senti, nos neurónios, que este era um dia que marcava uma nova fase da minha vida.

 

“A tranquilidade está no viver com o coração a pulsar, de forma sublime, a beijar suavemente os neurónios”, foi a frase que escrevi esta manhã, quando bebia o meu café matinal no Café Bar da SFAL. Era esta a sensação que percorria a minha mente ao olhar aquele espaço. Tranquilidade. A consciência a beijar o coração.
 
No ano de 1992, exerci pela primeira vez a função de Presidente de Direcção da SFAL, aquela que é a mais antiga colectividade do concelho do Barreiro e da actual União de Freguesias do Barreiro e Lavradio. Passaram 30 anos.
 
Foram dias felizes, foram dias de paixão no viver e fazer cidadania. Foram dias que fui obrigado a crescer, aprendi tanto, tanto sobre a vida em comunidade e sobre comportamentos humanos. Uma experiência que me enriqueceu, que guardo, por nela ter vivenciado e sonhado, a frase da minha vida: “procura deixar o mundo um pouco melhor que o encontraste”, que herdei da minha passagem pelo mundo do escutismo.
 
E, ao olhar aquele espaço, no meu coração senti de forma sublime a dedicação de uma equipa que nunca vergou e que se manteve coesa perante as dificuldades e os desafios.
 
O homem sonha e a obra nasce, escrevia Pessoa, foi isso que nos motivou, com amor e entrega, num tempo que já era difícil, pois, nele emergia no quotidiano da comunidade as transformações que iriam marcar o futuro do concelho do Barreiro. O fecho das fábricas. O crescimento de DLD.s – Desempregados de Longa Duração. As alterações no mercado de proximidade. O envelhecimento da população.
 
E, a acrescentar a tudo isto uma nova realidade iria alterar as relações de vizinhança e de proximidade.
A SIC tinha arrancado recentemente, a 6 de Outubro. Em Fevereiro seguinte nascia a TVI. De repente as pessoas optaram por meter-se em casa e consumir televisão.
 
Um tempo novo, com a internet prestes a marcar a vida quotidiana, com os blogs a ocupar o lugar das esquinas.
Foi há 30 anos. Nesse tempo, também a minha vida profissional alterou-se profundamente.
 
Faz hoje, 16 de outubro, precisamente 30 anos, estávamos no ano de 1992, findou a minha função de responsável no GIRP – Gabinete de Informação e Relações Públicas, na Câmara Municipal do Barreiro.
“Humildade…perdes sempre!”, foi uma frase que registei na minha agenda, neste dia. Tenho hábito, há mais de 50 anos, de registar algumas notas na minha agenda, e quando, por vezes as releio, sinto a tal tranquilidade nos neurónios, que faz uma consciência sublime. Uma memória que enriquece a ternura dos meus cabelos brancos.
 
Estar de pé, com dignidade, viver com a Liberdade a pulsar no coração. A consciência tranquila. O resto é o resto.
Dentro de mim senti, nos neurónios, que este era um dia que marcava uma nova fase da minha vida. Um tempo de viagem por um deserto interminável. Dilacerante.
 
Houve tempo que sonhei que cada um de nós tem o dever de dar um contributo para fazer um mundo melhor. E continuo a acreditar, mas, digo-vos há muito que deixei de acreditar no Pai Natal.
Tenho este defeito que, passados estes anos continua a ser uma marca da minha forma de estar na vida, “gosto de pensar”.
 
Alguém me dizia que o meu defeito era “pensar muito”. E, por essa razão, confundiam o meu direito de pensar e ter opinião própria sobre a vida e sobre a polis, como falta de “humildade”, ou “irreverência”.
“Humildade…perdes sempre!”, e, sinto por dentro de factos vividos, como é difícil esta batalha pela democracia e pela Liberdade.
O poder e a ambição pelo poder é inexplicável. Tanta cenografia.
 
Por vezes, apetece-me dizer-lhes : “pronto venceram, vou deixar de pensar”. Eles ficavam felizes. E, silenciosamente, eu hibernava, optava por essa forma de estar silenciosamente. Sem ter opinião. Sem fazer comentários. Fechava a porta e o pensamento único manipulava os dias, com fragmentos de pragamtismo.
 
Pois, mas como dizia o poeta – “eu penso” e no dia que eu calar o meu pensamento, nesse dia sim, vou perder, até lá, vou continuar irreverente, com a falta de humildade que me dá para escrever, como fiz hoje, pela manhã - “A tranquilidade está no viver com o coração a pulsar, de forma sublime, a beijar suavemente os neurónios”. Serenamente.
 
António Sousa Pereira
 
 

 

 

O sorriso de ternura da minha rua

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Quando pela manhã passava junto à varanda, muitas vezes, la estava ela, numa rotina diária, e, com um sorriso de ternura nos olhos dizia com palavras suaves : Bom Dia! Era um Bom Dia muito especial, que eu sentia vindo do fundo de um tempo vivido.
Era um Bom Dia que vinha voando, como um pássaro, puro, tão puro que sentia-se o seu perfume no brilho dos olhos. Não vou esquecer o seu rosto, com o seu sorriso, vincado de ternura.
 
Outras vezes, cruzávamo-nos no caminho, atravessando a rua de casa para o «Barco», onde ia buscar um cafezinho, saltitando nos seus pés de experiência vivida. Tão catita e tão bela. Beijavamo-nos. Acariciava-lhe o rosto. Sempre a sorrir, nunca lhe faltou um sorriso. Emocionava o seu encanto.
 
Hoje, à 1h23, o seu neto, David Mano, enviou-me uma mensagem: Sousa Pereira, a minha avó acabou de falecer. Uma tristeza enorme invadiu meu coração. Respondi-lhe: Dá-lhe um beijo!
Da minha varanda, vi a ambulância do INEM, os Bombeiros, a Policia, ainda vim até à porta, e, olhei as luzes iluminando a janela na noite fria.
 
Naquele instante senti que, também, perdia um pouco de mim, porque, na verdade, sempre que sentimos partir uma pessoa que faz parte do nosso quotidiano, é, um pouco da nossa vida que parte, neste percurso por onde todos caminhamos. Mas não partiu fica aqui, num sorriso, que escuto num grito de uma gaivota a rasgar o céu azul dos Loios.
 
Recordei que, ainda ontem, pela manhã, olhei a varanda e pensei naquele sorriso ausente, já há algum tempo, e notava aquele vazio, que eu preenchia com um poema que estava escrito na roupa a esvoaçar ao vento.
Adeus vóvó Vanda. Obrigado pelo seu carinho, pelo seu fraterno sorriso que me aquecia o coração. Até sempre! Havemos de nos encontrar para eu acariciar de novo o seu rosto e sentir o seu sorriso beijar o meu coração.
 
António Sousa Pereira
 
Vanda Piedade Pires Pereira, era natural de Abrantes, viveu muito da sua vida no Barreiro. Nasceu a 17 de janeiro de 1931. Faleceu hoje, dia 7 de Outubro – Dia de Nª Srª do Rosário – contava 91 anos.
O seu corpo será velado a partir das 16h30, na Casa Mortuária da Igreja do Lavradio. O funeral, realiza-se amanhã, dia 8 de Outubro, pelas 10h30, para o Cemitério de Vila Chã.

No Barreiro, a República nasceu antes de nascer

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A implantação da República no concelho do Barreiro foi proclamada no dia 4 de Outubro, essa uma marca na memória de uma vila, hoje cidade, que sempre viveu a acção politica com intensidade, com paixão e com pensamento politico.

Longe vai o tempo que, por vezes, se assinalava o Dia da República com o hastear solene das bandeiras nos Paços do Concelho.


Longe vai o tempo que até a Festa do Barreiro, nos dias após o 25 de Abril, chegou a festejar-se como a “Festa da Paz e da República”, celebrada em torno do 5 de Outubro e do Feriado Municipal, nesse tempo assinalado no dia 7 de Outubro – Dia da Padroeira, Nª Srª do Rosário.
Longe vai o tempo que o Partido Socialista do Barreiro, assinalava esta efeméride, com a marca simbólica de luta politica e de afirmação de uma memória democrática e republicana.

Longe vai o tempo, quando antes do 25 de Abril, a celebração do Dia 5 de Outubro, era uma jornada que enchia o Teatro Cine Barreirense, para se escutar o grito naquela voz de timbre único, do Mestre Manuel Cabanas a afirmar: Viva A República. Viva a Liberdade!

O Barreiro é uma terra que tem a cultura republicana inscrita em sucessivas gerações, uma marca do seu adn, a cultura democrática, o amor à Liberdade, a força da solidariedade, que se espelhava na sua vida associativa e cultural.

A comemoração do 5 de Outubro no Barreiro, na verdade, tinha um significado especial, porque, aqui, a República nasceu antes de nascer.
Nos dias de hoje, a celebração da República é isso, apenas isso, um Feriado Municipal.
O PS que é poder já não comemora a República porque essa, era, talvez, uma mera necessidade politica de unir vontades nos tempos de oposição.

E, afinal, nestes tempos que crescem as dúvidas em relação à politica e aos políticos, neste tempo que aumenta a descrença pela democracia, neste tempo, cada vez mais, sem ideias, nem ideais, porque o pragmatismo é a “ideologia” dominante, o PS, sendo poder e por ser um partido cuja história é indissociável do ideal republicano, devia estar na primeira linha e o Poder Local que lidera com maioria absoluta, não devia ignorar esta efeméride, numa terrra onde a República nasceu antes de nascer.
Deve celebrar-se o 5 de Outubro porque o Barreiro tem memória e esquecer é matar a memória – é o não existir.

António Sousa Pereira

Foto: Espaço Memória

“O sonho nunca deve estar preso!”

 

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Um destes dias um amigo, conterrâneo, companheiro da Escola Primária, alunos da mesma professora a D. Ana, num reencontro após mais de 60 anos, através das redes sociais, dizia-me, coisa que nem me lembrava, que nos tempos de escola, eu afirmava: Quero ser jornalista. Dizia isso, talvez, por na proximidade da minha rua estar a redacção do «Jornal do Algarve», que eu via chegar, e, por vezes, ajudava a dobrar com uma alegria enorme, ou, então, porque, naquele tempo, de criança me deliciava a guardar e ler com entusiasmo, na sede do Lusitano Futebol Clube, os suplementos editados pelo Diário de Notícias e pelo Século – “A Nau Catrineta”, e, o “Pim, Pam, Pum”.

 
Não recordava aquelas palavras que o João Paulo evocou, mas, recordo que, sempre, desde sempre, gostei de ler, ler, e ler muito, sendo assíduo da Biblioteca da Gulbenkian, quando vinha a carrinha, e, pouco depois, das instalações que funcionavam frente à taberna do Joaquim Gomes, no edifício da Câmara, onde a D. Francisca, me recebia com carinho e orientava para as estantes, das quais podia levar livros para casa. Os sete. Os cinco. As aventuras. Os Contos. Um mundo que me fascinava e onde eu me encontrava com todos os sonhos. Um menino que cedo começou a ter que descobrir as amarguras de crescer. Terminada a Escola Primária, aos 10 anos, já trabalhava.
 
Recordo esta memória do meu amigo, porque, curiosamente, no dia 25 de setembro de 1973, faz hoje 49 anos, foi publicado o meu 1º artigo no jornal «República», tendo como tema os «Jogos Juvenis do Barreiro» - uma noite no campo de jogos do 31 de janeiro.
E, também, no dia 25 de setembro de 2002, faz hoje 20 anos, começou a ser editado o «Rostos on line», numa acção no mundo da comunicação social concretizada entre os pioneiros de jornalismo digital em Portugal.
 
A primeira vez que exerci a actividade de jornalista ao nível profissional foi no jornal «O Setubalense». Depois vivi outras experiências, de correspondente e projectos diversos, desde a fundação de «O Jornal Daterra», já lá vão 45 anos, passando por pela função de Chefe de Redacção e Director do Jornal do Barreiro, uma das mais belas experiências de relações humanas, de amizade e de ligação do jornalismo com a vida.
 
Enfim, de facto o jornalismo, o fazer jornalismo, está na minha vida, não é por mero acaso que, quando fui dirigente cooperativo e na vida associativa dinamizei e coordenei projectos como o jornal «O Cachaporreiro», na SFAL, ou a revista ECOOP, nas cooperativas de consumo.
Outra parte da minha vida foi ligada ao mundo da Informação e Relações Públicas, que exerci na Câmara Municipal do Barreiro, com projectos pioneiros e modernizadores da comunicação.
 
O jornalismo e a comunicação fazem parte no meu modo de estar na vida de forma irreverente, critica, avassaladora, e, como fazedor de jornalismo, mais do que ser jornalista, tenho procurado intervir na vida da comunidade.
 
Uma actividade generosa, linda, cativante, através da qual pude viver e sentir o ser humano nas suas diferentes dimensões, do bem e do mal, do belo e do feio, do mobilizar ao desmotivar, da relações do jornalismo com o poder, dos telefonemas, dos recados, das pressões, sorrisos, pancadinhas nas costas, tanta coisa, tanta coisa que algumas fazem mesmo doer os nervos.
 
Sim, o jornalismo permite conhecer a comunidade, na sua diversidade, nas suas relações interclassistas, na sua dimensão cultural, das artes, das letras, do teatro, da politica, do desporto. Ser fazedor de jornalismo, mesmo nesta dimensão regional exige, atenção, trabalho constante, fazer com prazer e sentir as palavras como sangue da vida. Criam-se amigos. Criam-se adversários. Nunca criei inimigos. Eles, ou elas, se o são, que façam a gestão dessa inimizade, por mim, limito-me a desviar. Gosto de cultivar amizade. Sou mais feliz.
 
O jornalismo fez-me viver momentos únicos, uns de alegrias, outros de tristezas. Páginas únicas. Memórias únicas.
O jornalismo sempre me permitiu viver cada dia como sendo um dia diferente, porque há sempre algo no futuro que espera por nós quotidianamente.
Um fazedor de jornalismo tem que viver com a alegria de sentir que o seu trabalho dá frutos, e que vale a pena, vale sempre a pena. Quer escrevendo memórias. Quer alertando. A criatividade é fazer noticia.
 
Um fazedor de jornalismo é uma voz activa na vida de uma cidade, isso, dá um prazer enorme, quando vivido com dignidade.
Há quem não goste, e, isso, de facto ainda dá um prazer maior, porque faz o sangue pulsar nos sonhos. A palavra dignidade é, sempre foi, mais forte que o banquete do silêncio.
 
Afinal, enquanto a liberdade o permitir os sonhos nunca deixarão de florir.
Viver o jornalismo, ser fazedor de jornalismo, também cansa, também esgota, e, neste dia, que passam 49 anos do meu 1º artigo editado no jornal «República» e 20 anos do começo da edição do Rostos on line, sinto o cansaço nos ossos, as palavras curvam-se nos meus nervos.
 
Sim, estou a ficar cansado, mas não é cansado do fazer jornalismo, isso continua a dar energia e prazer. Fico tão feliz ao viver esta actividade todos dias, que é, acreditem, como ao acordar renascer diariamente.
O que cansa não é o cansaço do fazer, o que cansa é o cansaço do vazio. As estórias que se repetem. Sempre iguais. Ou sempre a mesma coisa, sendo outra coisa qualquer.
 
Digo-vos, é belo sentir todos os dias que, alguém, num recanto da cidade, partilha em breve conversa: “soube desta iniciativa pelo Rostos”, “estou aqui porque li no Rostos”, “obrigado Rostos pela reportagem”. É belo. Isto não tem preço que pague, a liberdade de fazer, por fazer, por amor e paixão. Um serviço civico.
 
É por isso que estou aqui, todos os dias, enquanto a democracia o permitir, vou caminhando, porque, como diz o poeta: o caminho faz-se a caminhar. Estou aqui a sonhar! Sim, estou aqui, com 70 anos vividos, e neles continuo a sonhar!
Sim, estou aqui pelo sonho, apenas pelo direito de sonhar, e, como dizia o Rei D. Carlos – “os poetas e os jornalistas são sonhadores e sonham…o sonho nunca deve estar preso!”
 
António Sousa Pereira
 
Nota – Hoje, dia 25 de Setembro, o Lavradio celebra o seu 37º aniversário de elevação a Vila. Foi uma campanha promovida pelo «Jornal Daterra» que levou a ser apresentada a proposta na Assembleia da República.
Lavradio a terra dos meus filhos, a minha terra adoptiva, que no ano de 1998, me distinguiu com o Galardão «Lavradio Reconhecido».
Parabéns ao Lavradio e a todos os lavradienses.

Ao fundo o laranjal continuará verde

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Todos nós, no tempo que vivemos, conhecemos pessoas que se inscrevem nas nossas memórias. São, afinal, essas memórias que enchem os nervos de cor e musicalidade.

A vida mais bela, a vida bela que toca os nervos, que fica erguida no tempo, para além, muito para além dos escombros, é sempre feita das alegrias e lágrimas que aquecem o coração.

A beleza da vida é descobrirmos, diariamente, para lá dos recantos das rotinas, a frescura de um olhar, um poema que se escreve nos olhos, ou num sorriso, sussurrando palavras que acordam o futuro, como se o futuro existisse vivo, em todas as memórias por nascer.

Uma amiga que nunca esqueço que me ensinou a amar a Liberdade, que me ajudou a descobrir a palavra Paz, que escuto sempre o seu sorriso no voo de uma gaivota, ali, quando me sento a pensar na Catedral do Tejo, no dia de hoje, se fosse viva, festejava os seus 87 anos.

Recordo-a sempre.

Ainda em Agosto, fui beijar a ternura da sua ausência ali, no Torrão, em Alcácer do Sal, a sua terra natal, onde ela descansa a olhar a eternidade, na planície que se estende até ao Sado, onde – “ao fundo o laranjal continuará verde” – como ela escreveu num poema que me dedicou no ano de 1991, e, só este ano, descobri que estava publicado no seu livro de poemas – “A palavra Iluminada”.

Falo de Maria Rosa Colaço. A mulher que antes do 25 de Abril, escreveu o livro-poema: «A Criança e  a Vida», que semeou palavras em histórias de amor para crianças. Esse livro, que era senha de Liberdade. Que era voz de ternura. Que era dor de saudade. Quer era força de fraternidade. Que era a voz que se faz amor, por amar, por amor.

Esse livrinho que ofereci à minha Lurdes, para lhe beijar o coração com palavras de criança. O livrinho que passava de mãos em mãos, com palavras a inventar o sol azul, e, pássaros a beijar o amor pela madrugada, e, com os dias a fervilhar no sangue o encanto da palavra Liberdade.

 

Falo da minha irmã, como ela sempre me tratou - Maria Rosa Colaço - que um dia no Lavradio, me estimulou para escrever poesia, e, que disse-me com energia que publicasse um livro de poemas, porque, afirmava, tu tens os “poemas à tona da pele”, e, as tuas mãos semeiam poemas por dentro de todas as palavras. Nunca escrevi o livro de poemas que lhe prometi que, um dia iria escrever, mas, talvez, um destes dias venha a cumprir, porque, afinal, escrever um poema é sempre dar um sentido à vida. E a beleza da vida é ser poema.

Para que serve um poema? Interrogo-me muitas vezes.

Talvez sirva para recordar uma janela na noite escura. Ou inscrever um beijo na eternidade. Ou tocar na cascata de sentimentos escondidos na ternura do luar. Ou guardar a distância da penumbra que se esconde por trás de um olhar de magia. Ou sentir a criança a gritar na hora de nascer no sol colorido de placenta brilhante. Ou, apenas, para fazer renascer as flores, os cravos vermelhos, que colocámos a teus pés, no dia que fomos dizer-te adeus, eu e a Manuela Fonseca, e, ali, dizer um poema onde Abril estava por cumprir, esse Abril que tu sempre guardas-te nos teus nervos vindo das ondas do Indico, até às ondas das searas do teu Alentejo, ou, ainda, aos dias de Almada que vias as crianças na escola a escrever PAZ em todas as línguas do mundo.

As crianças que te diziam que eras a Maria sem laço, porque eras Colaço e não tinhas laço.

Ou, talvez, o teu espanta pardais a dizer-te adeus em Toronto, que recordavas a sorrir, em asas de Anjo, cantadas pelo Francisco Ceia.

Recordo-te hoje, ao fim do teu dia, a data que está inscrita nesta memória que faz parte das memórias que enchem os meus nervos de cor,  musicalidade e essa saudade que se escreve amor ao futuro.

Um dia vamos conversar. Um beijo.

 

António Sousa Pereira

 

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