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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

Do «culto do presidencialismo» e do «culto da personalidade»

 

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Um dos meus hábitos, é, com alguma regularidade, ir dar um passeio junto ao Rio Tejo, dou uma volta pelo Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita. Sento-me a beber um café na esplanada do Grupo de Dadores de Sangue do Barreiro, ou para ler o jornal, ou um livro, enquanto deito os meus olhos nas águas da «Catedral do Tejo».
 

Uma destas manhãs, por mero acaso, encontrei o meu amigo Carlos Humberto, uma das pessoas que conheço desde os tempos de antes do 25 de Abril, com quem partilhei, em tempos idos, o mesmo ideal politico, que exerceu o cargo de Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, e, que nas últimas eleições foi candidato à presidência pela CDU, sofrendo uma aparatosa derrota.

Sempre mantive com o Carlos Humberto uma cordial amizade, tenho por ele um grande respeito e consideração, pelo seu humanismo, pela sua forma de estar na vida, como homem de diálogo e construtor de pontes. Um homem que vive a politica com valores.
Essa uma das razões porque o defendia e repudiava as campanhas difamatórias e de destruição de carácter, que lhe foram movidas, injustas e vergonhosas, porque, na verdade, quando em politica vale tudo, a politica deixa de ser uma causa nobre e digna, para ser apenas, e só, uma guerrilha de luta pelo poder, para manter o poder e um jogo de ambições.

Aliás, digo, tenho dito e repito, que Carlos Humberto e Emidio Xavier, são os dois presidentes de Câmara que ocupam o primeiro lugar no ranking, bem distantes, quer na forma, quer no conteúdo – no ser e estar - no exercício da presidência da Câmara Municipal, desde que foi instituído o órgão «presidência».

No último Feriado Municipal, todos os ex-Presidentes de Câmara e todos os ex- Presidentes da Assembleia Municipal do Barreiro foram distinguidos com o «Medalhão Cidade do Barreiro», entre eles, naturalmente Carlos Humberto.

Na altura não escrevi nada sobre o assunto, mas, enquanto estava a beber o café, e, numa amena conversa com Carlos Humberto, comentei que por um lado achava que devia ter recusado receber a distinção, depois de tudo o que foi acusado e vilipendiado pela gestão socialista, que, inicialmente começou por acusar todos os presidentes de Câmara, por durante 40 anos terem paralisado o Barreiro e terem sido incapazes de aproveitar o potencial. Mas, depois, como verificaram que nos 40 anos estava incluído o ex-presidente Emidio Xavier, PS, passaram para os últimos 12 anos, obviamente os relativos aos anos de liderança de Carlos Humberto.
Por isso disse-lhe: “Devias ter recusado essa distinção”, e, acrescentei – “mas, percebo que fosses receber, porque depois passavas, mais uma vez a ser o mau da fita, e lá vinha mais uma campanha”.

Aproveitei para dar a minha opinião, sobre estas distinções que, considero, mais não visam que promover o «culto do presidencialismo» e o «culto da personalidade», centrando o Poder Local na figura do presidente. O marketing dos tempos actuais.
Talvez por essa razão, naquela conversa, senti-me importante, sim, porque estar sentado na mesa de um café com um ex-presidente de Câmara, é estar sentado com um presidente, e um presidente é sempre uma pessoa importante, afinal, a verdade é que, tal, como nos fuzileiros, «presidente de Câmara uma vez, presidente de Câmara toda a vida”.

Aliás, há quem diga, que o presidente deve ser visto como «símbolo» e «bastião» daquilo que é mais importante em democracia. Não é a cidadania, não é a participação dos cidadãos, não é sequer aquilo que alguns definem como a «casa da democracia», por exemplo a Assembleia Municipal, ou o executivo municipal, ou o direito a eleger e ser eleito. São os presidentes os bastiões.
E, ali, junto ao Tejo, eu tinha a honra de estar sentado a beber café com um «bastião» e isso, se por um lado me fazia sentir pequenino, perante um bastião, por outro lado, ao mesmo tempo sentia-me orgulhoso, e pensava : “Estou sentado ao lado de um presidente, porque ser presidente uma vez é ser presidente para sempre”.

E, neste deambular por pensamentos, dou comigo a reflectir que, de facto, Carlos Humberto, para além do muito trabalho que inscreveu no terreno nos seus mandatos de presidente, deixou um legado que foi a base da «politica de cuco», que marcou o exercício do mandato anterior da gestão socialista e, até mesmo já se sente no actual mandato, por exemplo, uma delas, e, talvez a principal que nunca ninguém antes teve, foi a casa «arrumada», fruto da gestão «Deficit zero».

Depois, bom depois, desde a nova frota dos TCB, passando pelo protocolo da Doca Seca da CP, ou pela negociação dos terrenos do Gaio, ou pela resolução da situação da Quinta das Canas, ou pelas candidaturas das AUGIS, enfim, fiquemos por aqui, mas até podia referir coisas que estão a vir a lume no actual mandato, como é o caso do recente investimento anunciado de milhões e criação de centenas de empregos, pela Sogenave.

Carlos Humberto é mesmo um grande senhor. Não partilho, por razões óbvias, o seu ideal politico, fruto da história e da vida, mas comungo o seu amor ao Barreiro e a forma como sempre esteve de coluna vertical perante o Poder Central, fosse PSD ou PS.
Louvo a sua coragem de ter ido receber a distinção, e, aceitar, estar ali, de pé, ele, e todos os ex-presidentes, formados, como se fosse uma equipa de futebol a receber uma distinção, sem direito a usar a palavra. Todos em silêncio a escutar o discurso do futuro condecorado, claro, porque a partir de agora, todos os presidentes serão condecorados, será uma indelicadeza se tal não for feito. É a condecoração por inerência.
E se cada presidente é um símbolo e bastião, cada presidente merecia ter um reconhecimento pessoal, único, não é assim, tudo ao molho em fé em Deus.

 

Ah, é verdade, já agora, o meu obrigado à minha amiga Vera Jardim que teve a amabilidade e a simpatia de trazer uma cadeira para Helder Madeira se sentar, pois, sentia-se estava em dificuldades, ser obrigado a estar ali, de pé, a ouvir a narrativa do futuro condecorado.
Helder Madeira, devido à idade, subiu ao palco com dificuldade e, só isso, humanamente merecia respeito e um cuidado protocolar especial, acima de tudo a dignidade devida e indispensável ao ancião e CIDADÃO HONORÁRIO DO BARREIRO.
Aliás, merecia receber a distinção sozinho ( aliás todos mereciam) e, Helder Madeira, merecia, ter tido o direito de usar a palavra, como grande, enorme e bastião da democracia e da pureza do Poder Local. Se soubessem o que era gerir a autarquia naqueles tempos, com tanto amor e voluntariado.

Ah, é verdade, e, já agora, embora não tendo sido eleito, Helder Fráguas, que exerceu a Presidência da Câmara, após o 25 de Abril, na Presidência da Comissão Administrativa, também merecia, a título póstumo, ter sido distinguido com o « Medalhão de Honra da Cidade», uma distinção que também significaria um abraço a uma equipa plural, democrática que lançou as raízes que abriu o caminho para as eleições democráticas e para o Poder Local.

 

Olha, Carlos Humberto, isto foi parte do que falei contigo, aquilo que estive para escrever no Feriado Municipal, fica hoje, aqui, com a minha compreensão porque foste receber a distinção. Tu que, afinal, não fizeste nada e deixas-te o Barreiro atrasar-se no tempo, afinal, foste distinguido. Enfim, é vida, és eleito, logo tens direito. Abraço.

E ainda, já agora, aproveito para dar um abraço ao meu amigo Emidio Xavier, e agradecer as suas palavras simpáticas, na minha página de Facebook, a propósito dos meus 70 anos. Presidente, um dia destes vamos beber um café…e falar em coisas lindas da vida. Abraço.

António Sousa Pereira

 

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