«O Jornal Daterra» nasceu há 45 anos
Foi neste dia, 15 de Junho de 1977, que aconteceu a distribuição da «Folha Especial» que anunciava a publicação de «O Jornal Daterra», um órgão de comunicação regional, com sede no Lavradio, ao serviço da região.
Naquele tempo, no ano 1977, era redactor em Setúbal, no «Nova Vida», que substituíra o jornal «O Setubalense», também editava as minhas crónicas no «Jornal do Barreiro», quando tomei uma decisão pessoal de arrancar com um título de imprensa local – O Jornal Daterra.
Era um sonho, uma vontade de dedicar-me de corpo inteiro ao jornalismo local. E, contra ventos e marés, foi-se erguendo aquele projecto.
Foi a minha primeira aventura na imprensa regional, e, sem dúvida, guardo essa experiência e esse tempo dentro de mim, como quem guarda um tesouro de esperança nos nervos.
Recordo desde os Torneios de Futebol de «O Jornal Daterra», as corridas de atletismo, o Ciclo de Conferências - «Barreiro: Que futuro», com o envolvimento de todos os partidos políticos ao nível local e da Assembleia da República, até mesmo do Conselho da Revolução, que decorreram, ao longo de várias semanas, na Sala de Convívio do Luso Futebol Clube. Assim como a Conferência «Moita : Que futuro?»
A participação nos Congressos Nacionais da Imprensa Regional, ou nos Encontros de Imprensa Regional do Distrito de Setúbal.
Ainda as «Conversas de Sábado à tarde», na SFAL, onde eram abordados diversos temas da vida local, no âmbito cultural e desportivo, que agitavam a opinião pública e estimulavam o debate e o confronto de ideias.
Os jogos de futebol, entre equipas do Diário de Lisboa, «O Diário», a «A Bola» e «Os Jornal Daterra». Com escrevia um jornalista do Diário de Lisboa, em reportagem, a equipa de «O Jornal Daterra» ganhava tudo «porque era uma verdadeira selecção de jogadores das equipas do Barreiro. Nela jogava o saudoso João Pedro, que alinhou nos Cosmos com o Pelé.
Ou a Campanha de Promoção da ideia de «Elevação do Barreiro à Categoria de Cidade», com a publicação de diversos artigos de opinião. Ou, a ideia de realização das Festas do Lavradio, que há 40 anos não eram dinamizadas. Entrevistas pelos bairros e colectividades, da Penalva ao Lavradio, de Coina a Santo André, ou de Santo António da Charneca a Palhais.
São páginas que estão encadernadas, em dois volume, um arquivo de memórias desses dias, o que resta de um projecto que vivi, lutando contra o tempo, sonhando que era possível trabalhar e cultivar um projecto de imprensa local. Vender jornais na rua, juntar moedas para pagar à gráfica. Quase dez anos se manteve o título.
Tanta dedicação e tanta paixão, uma actividade onde, ao longo do tempo, se misturou voluntariado e profissionalismo, principalmente naqueles anos que se optava por fazer uma edição diária nas «Festas do Barreiro».
Tanta coisa que só agora, à distância percebo e entendo, porque cresci e, afinal, voltei a viver situações idênticas, ao longo destes vinte anos que ultimanente tenho dedicado ao jornal «Rostos».
É giro pensar o tempo, recordar todos estes projectos, quer no tempo passado, quer no presente, este viver e sentir o jornalismo de proximidade, sempre, separando noticia de opinião. Mas isso de ter opinião. Pois, isso de ter opinião.
Recordo os dias que vivi com Director e Chefe de Redacção do «Jornal do Barreiro».
Reencontro-me com as experiências dos Boletins Municipais, ou dos Cadernos SIM, até, mesmo na inovação dos «Magazines Barreiro», em vídeo VHS.
Recordo os dias da Rádio, com a «Carreira 7», na Rádio Sul e Sueste.
Os projectos dinamizados com a SAPO. As revistas Rostos. As revistas «Rostos Club», dedicadas à noite
Viver a fazer, por fazer, trabalhar por amor e sonho. Tanta experiência enriquecedora, ano após ano, até, ao projecto pioneiro de criação da edição on line do jornal «Rostos» - que nos dias de hoje é a edição digital mais antiga do distrito de Setúbal e das mais antigas do país.
O prazer de fazer jornalismo de proximidade, dar voz á comunidade. Viver a comunidade.
E, ao longo do tempo, sempre a navegar à vista, por amor, só por amor. Todos sabem que a única fonte de receitas da comunicação social é a publicidade – não é novidade para ninguém - e, portanto, para manter a verticalidade, a isenção e pluralidade, é complicado, foi complicado, e continuará sempre a ser complicado. Assim como a democracia tem custos, também a Liberdade tem custos. É vida.
No entanto, penso em tudo isto e sinto-me feliz. E aqui fica um obrigado a todos que, ao longo deste anos, contribuíram manter vivas estas vozes de jornalismo local.
Sinto uma alegria enorme de viver a fazer o que gosto, foi assim quando assumi os tempos de «Relações Públicas», foi assim nos tempos no «fazer jornalismo».
Hoje que evoco esta efeméride de 45 anos do nascimento de «O jornal Daterra», sinto que valeu a pena, porque como diz o poeta…tudo vale a pena!
É por isso, só por isso, que, quando penso em tudo isto, sinto-me feliz, porque vivi fazendo o que gosto e continuo a viver fazendo o que gosto, com verticalidade. Isso é lindo! Afinal, isto é que é mesmo lindo!
António Sousa Pereira