LIBERDADE! APENAS LIBERDADE!
Alice,
Se um dia, no futuro, eu cá não estiver, e, ainda, em Portugal se celebrar esta data que se escreve com a palavra Liberdade, apenas Liberdade, essa que é celebrada no Dia 25 de Abril.
Se um dia, eu cá não estiver e te interrogares porque razão o meu avô, escreveu um livrinho com o título – «O sonho chamado Liberdade» - quero dizer-te, hoje, neste ano de 2022, que, esse foi um dia, único, puro, semente, recomeço, renascer, dia de amar com os nervos, beijar com os olhos, fazer do coração uma flor e com lágrimas regar a esperança.
Se quiseres esse foi o primeiro beijo de amor, foi Páscoa, foi o primeiro olhar nos olhos de ternura, foi Natal, foi o choro do nascer, foi semente a florir, foi sol a nascer na manhã de cada dia que começa, foi canção, foi poema, foi peça de teatro, foi sinfonia, foi tela, foi escultura, foi um país a quebrar o silêncio, a derrubar os muros e a erguer alamedas verdejantes, foi o dia em que todos nós, acreditamos no futuro dizendo, com um sorriso enorme – BOM DIA!
Hoje, pela manhã, ao ver-te a olhar o Tejo, esse rio, como escrevia o poeta, onde está tudo o que lá não está, porque nele estão as memórias de um povo que se fez mar, e de um povo que se fez língua, de um povo que se cumpriu e de um país que está por cumprir, pensei escrever-te este texto para ti, para te dizer isto, apenas isto, nunca confundas a liberdade com outra palavra qualquer, nem uses a liberdade para semear o ódio, ou ambições, faz do poder da palavra Liberdade, a energia do diálogo, do respeito, que não se confunde com o tédio patético, nem com confrontos de circunstância.
Sabes Alice, a Liberdade é uma palavra linda, ela cultiva a dignidade no coração e semeia a fraternidade na consciência.
Foi essa palavra que vivi nesse dia, o tal – “dia inicial inteiro e limpo. Onde emergimos da noite e do silêncio. E livres habitamos a substância do tempo”, como o eternizou a poetisa. Sim Alice, isso é que é lindo – o dia inteiro e limpo!
Estavas a olhar o Tejo, esse rio de gaivotas a voar em Liberdade, essa gaivota, que cantámos, nos dias de solidão, com lágrimas a sonhar futuro, escutando os sons do Zeca, com ternura, que cantava- só há gaivotas em terra, quando um homem se põe a pensar.
Neste dia 24 de Abril de 2022, quando estamos prestes a celebrar 48 anos de Liberdade, quero dizer-te que espero o ano novo, como quem sente a primeira manhã a nascer, deitando contigo, harmoniosamente, os meus olhos no Tejo, lavando nas suas águas a esperança, beijando o sol, sentido pulsar no coração essa palavra, pura e única, que floriu no Dia 25 de Abril e se escreve - Liberdade, apenas Liberdade.
Sabes Alice, um dia a minha irmã, Maria Rosa Colaço, escreveu para mim, em Abril de 2004, uma mensagem fraterna (que está emoldurada num quadro, no cantinho do avô, que tu tanto gostas), que, hoje, recordo para que a guardes no teu coração: “E pelo poder de uma palavra, eu começo a minha vida de novo. Eu nasci para te conhecer. Para te chamar…LIBERDADE!”
A Liberdade descobre-se no interior de nós mesmos, porque a minha Liberdade não termina em ti, em ti começa a minha Liberdade. No abraçar-te, no beijar-te, no sentir que eu e tu somos um nós – um povo em movimento. Foi isso o 25 de Abril.
Como escreveria, aqui e agora, hoje, a minha outra irmã, Manuela Fonseca : Grândola Vila Morena! 25 de Abril Sempre!
António Sousa Pereira
Barreiro
24 de Abril de 2022