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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

Nome do autor esse de facto é importante e conta para a história

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Após cerca de 20 anos - há quem diga que não são 20 anos, que são menos, uma coisa é certa, sem dúvida que há mais de década e meia, mas, para o caso isso pouco interessa, o que conta para a nossa vida real é que a estátua do Salineiro voltou de novo ao convívio da comunidade lavradiense.
Uns gostam da opção. Outros não gostam São formas de sentir e pensar. É isto que faz a democracia. 
A escultura de Pedro Miranda da Silva, duas vezes vandalizada, acabou por ficar estes anos no armazém da junta de Freguesia.
Houve quem tivesse anunciado que seria feita uma estátua em bronze, servindo esta de modelo. Nunca se concretizou. Nunca saíu do armazém, nem sequer foi recuperada.
A estátua do Salineiro não tem condições de ser colocada na via pública, porque facilmente é destruída. Esta foi, portanto, uma boa opção.
Em boa hora, é de louvar e aplaudir, a quem teve a ideia de trazer a arte para o centro do Mercado Municipal do Lavradio. Fica o registo e o reconhecimento.

Mas, quando da cerimónia de instalação da estátua do Salineiro no espaço central do Mercado do Lavradio, fiquei com um «bichinho» a morder por trás da orelha. E, na verdade, só hoje, foi possível passar por lá e confirmar.
Fiquei triste. E não gostei.

Lê-se na placa a assinalar o evento

“O Salineiro”

Recuperada pela União de Freguesias do Barreiro/Lavradio, pela Presidente em exercício Gabriela Guerreiro.
Lavradio, 27 de Julho de 2019»

Li. Voltei a ler e reler. Para quem por ali passar, no futuro, fica a saber que a estátua foi recuperada pela União de Freguesias do Barreiro e Lavradio, que era presidente da junta de freguesia, Gabriela Guerreiro. 
Não fica a saber o mais importante, que na verdade, ali, devia estar bem claro, quem é o autor da escultura, e, até, já que se fala em quem recuperou que, na prática, a sua intervenção foi essencial para realizar o trabalho de dar vida à escultura vandalizada.
Enfim, coisas da vida... 
Por favor, coloquem na base da escultura o nome do autor, esse,de facto é importante e conta para a história.

Pedro Miranda da Silva nasceu na Baixa da Banheira, concelho da Moita, reside há décadas no Barreiro, é um artista com uma vasta obra, é ele, para que conste, o autor da escultura do Salineiro que esteva à entrada do Lavradio, e, que a partir do último sábado passou a marcar presença no centro do Mercado Municipal do Lavradio.

Outra nota, aquelas cintas á volta da estátua percebo que por ali estivessem no dia da apresentação da sua instalação, agora são um «ruído» na frente de estátua, não fazem parte da escultura e «incomodam« o olhar. Se é para que não seja tocada com as mãos, ou parta evitar que as crianças lhe toquem isso nunca será evitado e, mesmo que isso aconteça, com os anos pode dar-se um toque, ou deixar ficar como as marcas que serão uma referência à passagem de gerações. Não gosto daquelas cintas. 

António Sousa Pereira

 

Se eu tivesse um cão, talvez fosse feliz!

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Ele acorda pela manhã, sente cócegas no umbigo, esse lugar, que ele coça sempre, diariamente, quando bebe uma cerveja, sentindo que ela, a dita, desce pelo ésofago, afinal, acaba por ser o consolo de todas as suas desventuras.

Acorda. Abre a janela, que se abre para a cidade de betão, olha um gato a saltar na distância, livre, e um pássaro que voa rasgando o azul da manhã, livre.

Abre a boca, ainda ensonado. Tenta respirar. Ele não respira pelos pulmões, porque pelos pulmões só respiram os que sonham e acordam a sorrir. Ele respira com os nervos, porque acorda a respirar ética. Abre os olhos. Sente a ética nos sons que ecoam pelo esofago, assim incandescente a fervilhar e transformar-se num arroto matinal, que o faz de novo coçar o umbigo.

 

Sai da janela, percorre o corredor da sua solidão matinal. Os dias repetidos. A sobrevivência. Cansaço. Vive com a ética colada ao pijama. Ele sabe que a ética, para além de sangue e nervos, tem que ser a arma que lhe dá personalidade. Um homem sem ética é como um cão sem dono.  

Entra na casa de banho, senta-se eticamente, sim, porque só quem tem a ética colada ao corpo, sabe como deve sentar-se, eticamente, de forma a evitar os inesperados ruídos matinais, que perturbam a sua intensa criatividade.

 

Mas, ele, afinal. é indiferente ao que possam pensar, tem uma certeza, naquele recanto a sua imaginação é infinita. É ali, que, diariamente, ele sabe que pode sentir-se um gato ou um pássaro. Pode saltar. Pode voar. Sonha, sonhos únicos. Livre, livre, livre...

É aquele o momento, único, na vida quotidiana, que apesar de estar eticamente bem sentado, ele esquece a ética que molda o seu pensar e forja a imagem que tem de si mesmo e quer manter perante o  mundo. Parecer mais que ser, basta!

 

É nesse instante, quando ele, por segundos, ignora e esquece a tal ética profunda que, na verdade, a sua vida real, autêntica, emerge em explosões. Sente-se livre. O seu pensamento confunde-se com a sonoridade dilacerante, que rasga a solidez do seu corpo húmido e flácido.

Ali, de súblito, ele sente explodir e explodir-se, por momentos a palavra ética dilui-se nos sons em sucessivas explosões. Ele sabe, que a velocidade do som é menor que a velocidade da luz. Eticamente a luz é para esquecer, isso é coisa de iluminados.

O que conta é o som. Abre os olhos. Respira.

Ali, sente que o cheiro dos seus sons em ebulição, vão solidificando e geram os seus pensamentos únicos.

A felicidade é isto, pensa, quando atinge o auge da fluidez da sua auto-sonoridade e os sons fundem-se com a criatividade. Uma felicidade única, que o faz sentir  como um ser único. Irrepetível. Poeta. Jornalista. Politico. Comentador. Ele é de tudo um pouco, a unidade na diversidade. Dialéctica pura e cristalina.  

Afinal, só um ser único, criativo como ele, é, na verdade, um ser que pode, naquele recanto, tal como na vida, sentir a sonoridade da ética, e fazer da ética uma arma, um cântico e um poema.

Parafraseando o poeta : “com ética se faz a paz, se faz guerra, com ética tudo se faz e se desfaz, com ética se faz o som, se faz a luz, se faz as trevas, com ética, faz-te à vida, porque com ética tu és capaz!”   

 

Sai da casa de banho, feliz, eticamente feliz. Volta a olhar a rua da cidade de betão, e, ali, da sua janela, olha a distância e pensa : “Se eu tivesse um cão, talvez fosse feliz!”

 

S.P.

 

Nota- Qualquer semelhança desta estória com a realidade é pura coincidência. Não tem mesmo destinatário na vida real. 

Acredito na ética que se escreve com  palavra – Amor!

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Viver é sentir o tempo que vivemos, tocar com os olhos nas paisagens, colorir o tempo de azul, partilhar com os outros as nossas vivências. Porque não estamos sós, não vivemos sós, nem somos apenas nós. Afinal, tudo, mesmo tudo, o que somos é inscrito no tempo que vivemos.

Quando nós sentimos o tempo, nele encontramos o tempo que percorremos, a vida, essa, que nos faz orgulhar do que somos, do que vivemos, é, nisso, apenas nisso que somos nós, lá por dentro, bem por dentro dos neurónios onde, como dizia uma canção, é um jardim, o nosso jardim, onde só entra quem a gente quiser, porque esse lugar, é nosso, o recanto onde nos encontramos, onde o eu é eu, também, onde o eu é tu, e, onde se quisermos o eu é nós. É nesse interior que somos, nesse lugar onde a palavra amor, floresce e renasce, sempre que abrimos os olhos e dizemos: Bom Dia!

 

Olhar a paisagem e sentir o vento soprar nos neurónios, silenciosamente, é sentirmos o tempo que somos, sim que somos, a fluir no coração, mergulhando nas raízes das palavras. Esse sentir os neurónios feitos das palavras que somos é a beleza que faz o ritmo e a vida. É lindo!

É por isso que a vida é mais que essa ética que se escreve e não se sente, nem pensa, nem se pratica, essa ética que é apenas uma palavra para ornamentar a gordura dos pensamentos. Essa ética que se vomita eivada de rancor e de arrogância. Ódio. Intolerância. Sobranceria. Pedantismo. Tenho pena.

Cá por mim, acredito na ética que se escreve com  palavra – Amor!

Sim tenho pena porque essa outra ética, essa que encontro, por vezes, em comentários de circunstância, acreditem, cheira a fénico, é apenas um arroto que se acha intelectual. Prefiro sentir o vento, e, com o olhar a mergulhar nas águas do Tejo.

É uma maravilha viver os instantes. Sorrindo. sempre sorrindo, porque a vida é para sorrir.

Não se enervem. Freud, explica isso!

 

S.P.

 

Estátua do «Salineiro» no Mercado Municipal do Lavradio – uma oportunidade para pensar futuro

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Esta opção pela sua colocação no Mercado Municipal do Lavradio, sem dúvida, para além de enriquecer o espaço, salvaguarda aquela escultura de actos de vandalismo.

Está de parabéns o Pedro Miranda da Silva, por ter recuperado a sua bela obra dedicada ao «Salineiro», e, naturalmente o executivo da freguesia que concretizou esta solução, proporcionando à comunidade fruir diariamente desta escultura.
 

Vivemos um tempo de ‘politicas pobres’ no que diz respeito à promoção de reflexão teórica e estratégica. Essa realidade gera uma tensão permanente entre a forma como a realidade se apresenta de forma objectiva e as interpretações ou visões que se projectam sobre essa mesma realidade, quer na sua análise teórica, quer na consequente implementação de práticas.

O debate teórico é o fruto do pensar a realidade, esse pensar que gera reflexão, sendo a reflexão que faz nascer ideias, e, as ideias que depois nos movem para forjarmos a transformação da realidade. 
É isto que traduz as vivências que nascem nas práticas quotidianas, num permanente equacionar e concretizar a relação entre a teoria e a prática.
As ideias traduzem-se nos comportamentos, nas decisões, nas acções, nas relações, no fazer cidade e cidadania. 
As ideias, o pensar, faz presente e antecipa futuro.
É por isso que ao longo da vida, vamos sentindo que a realidade existe, transforma-se pela acção humana, uma acção que começa no pensar e do pensar vai para o fazer. Só assim se afirma, de contrário, não se afirma, porque fica-se por meros slogans escatológicos. Afirmar só faz sentido quando se inscreve no fazer vida e fazer cidade.

Estes pensamentos ocorreram-me ao passar, pela manhã, no Mercado Municipal do Lavradio e, ali, verificar que, na sua zona central, está colocada a estátua do salineiro do escultor Pedro Miranda da Silva, que será ‘descoberta’ no próximo sábado, no âmbito da programação das Festas do Lavradio.
Uma solução positiva. Uma opção que merece um caloroso aplauso. 
Na verdade, a estátua devido aos materiais que foi produzida era impensável colocá-la de novo no espaço público, mais dia, menos dia, seria de novo destruída por actos ignóbeis de vandalismo, como aqueles que se registaram no passado.
Esta opção pela sua colocação no Mercado Municipal do Lavradio, sem dúvida, para além de enriquecer o espaço, salvaguarda aquela escultura de actos de vandalismo.
Está de parabéns o Pedro Miranda da Silva, por ter recuperado a sua bela obra dedicada ao «Salineiro», e, naturalmente o executivo da freguesia que concretizou esta solução, proporcionando à comunidade fruir diariamente desta escultura.

Mas, ao olhar para o espaço envolvente do Mercado Municipal na minha memória ocorreram-me as conversas e as tomadas de posição assumidas para que este Mercado Municipal fosse construído, porque, na época existia por parte da Câmara Municipal do Barreiro a recusa de avançar com a sua construção, porque os mercados estavam em decadência, alguns a fechar pelo país, e o Lavradio estava “bem servido pela Feira Nova”, dizia-se.
O então presidente da Junta de Freguesia do Lavradio, foi uma das vozes que mais contestou esta posição da Câmara Municipal do Barreiro. Sublinhe-se que ambos os órgãos autárquicos eram de maioria CDU.

Recordo um discussão, para a qual fui convidado a participar, estando em debate aceitar ou não aceitar a decisão da CMB. Discutiu-se. Discutiu-se. Argumentos diversos inclinavam a decisão para a concordância com a posição da CMB. O Morgado, presidente da Junta de Freguesia, estava indignado, e, decidido mesmo a pedir a demissão.
Lancei o repto de se avançar com a construção do Mercado, tendo por base um programa que na sua arquitectura, projecta-se o presente e o apontasse soluções para o futuro.
Ou seja que a arquitectura permitisse o funcionamento do Mercado, na época pujante e com um vasto leque de consumidores, mas, ao mesmo tempo, sabendo-se que a tendência podia ser caminhar para o declínio destes espaços na vida das cidades, dado o surgimento constante de novas superfícies comercias, seria bom, que a construção fosse pensada para, no futuro, de forma prática e eficaz, ali, poder nascer um espaço de praça pública – Centro Cultural – que fizesse a ponte entre o Lavradio Velho e o Lavradio Novo, que estava em emergência a Urbanização dos Loios.

Foi então aprovado avançar com a construção do Mercado, para cuja construção, em vários orçamentos municipais já tinham sido aprovadas, as verbas de várias derramas destinadas ao Mercado do Lavradio. Assunto que era sistematicamente recordado por Aires de Carvalho, e muito bem, então líder concelhio do PS.
Recordo tudo isto, porque ao passar por ali, notei as muitas bancas que no Mercado não estão ao serviço e, como são reais as dificuldades de manter esta actividade com capacidade de ter dimensão económica numa vila, cujo tecido edificado está cada vez mais devoluto, com um espaço urbano que há décadas carece de ser pensado e requalificado, e, pensei, se, afinal, a colocação da estátua do salineiro não é, infelizmente, o primeiro sinal que, mais tarde, ou mais cedo, é preciso pensar, reflectir e decidir sobre a revitalização ou reutilização daquele espaço municipal.

Talvez, até, já nos dias de hoje, ver como é possível olhar para a sua realidade e ‘mexer’ no seu espaço, proporcionando no seu interior outra utilização, abrindo caminho para outras valências. 
Pensei várias soluções. Diverti-me a pensar.

Recordei as discussões, e, agora, concluo que o projecto como foi elaborado, sem dúvida, sem muitos custos permite reconversão para reutilizações, de diversas actividades e, até, nesta fase, é possível manter as áreas que por ali estão em funcionamento.
Mas, isso, compete aos técnicos de forma interdisciplinar, ou seja, através do diálogo entre diferentes serviços, ver opções e encontrar soluções. Naturalmente, em primeiro lugar, isso, só é possível se os políticos, responsáveis pela gestão da polis, pensarem, reflectirem e agirem, fazendo nascer o futuro, aqui agora, neste presente.

Parabéns pela implantação da Estátua do Salineiro.
Que seja um bom sinal, de revitalização do espaço, e, desejo mesmo que abra as portas para que, desde já, se comece a pensar futuro. 

Isso mesmo uma oportunidade para pensar futuro! Que significa pensar o território do Lavradio desde o Mercado Municipal, passando pela ‘praça’ do antigo Mercado, ruas envolventes, da Egas Moniz à Rua Luis Furtado de Albuquerque, que podem e devem, no seu conjunto, transformar-se numa zona central de uma vila que carece de revitalização com urgência, de forma a evitar que se transforme num guetto, cujos sinais vão surgindo e vão sendo ignorados. 

António Sousa Pereira

 

Sector Ferroviário e Terceira Travessia do Tejo – estranho silêncio no Barreiro

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O sector ferroviário está na agenda politica nacional e europeia. O Barreiro é um concelho, cuja história no século XIX e século XX é indissociável do sector ferroviário. Será que tem lugar no futuro?

Quando de novo a TTT está na agenda politica, e, naturalmente, vai ter impactos sobre o território do Barreiro, colocando-o no mapa de Portugal e da Europa. Que se faz, que se defende sobre esta matéria?

 

Nos últimos dias têm sido várias as noticias relativas sobre o sector ferroviário, nomeadamente, a divulgação de propostas ou projectos que o Ministro Pedro Nuno Santos, pretende dinamizar desde a intenção de convencer recém reformados da EMEF a voltar a colaborar na empresa, passando pela divulgação de avultados investimentos na linha do Oeste, visando a modernização entre Sintra e Torres Vedras, ou, a intenção de concretizar a separação da ferrovia da rodovia, acabando com a IP Infra-Estrutura de Portugal, que nasceu da fusão da Refer com a Estradas de Portugal.

Para além, destas noticias, a esta matéria não será indiferente o anunciado avanço da TTT – Terceira Travessia do Tejo, que, desde sempre faz parte do Plano Ferroviário Nacional, que desde o 25 de Abril, praticamente tem sido esquecido, privilegiando-se o fomento do Plano Rodoviário Nacional.
Hoje mesmo é anunciado, no jornal «Público» que a empresa Medway, está apostada na criação de uma ligação de comboio directa diária entre Portugal e a Alemanha, que possa servir a Autoeuropa.
E, igualmente, da Europa sopram ventos nos últimos tempos anunciando a intenção da aposta no desenvolvimento e renovação da rede ferroviária, no âmbito de politicas de preservação do ambiente e estratégias sobre as alterações climáticas.

O sector ferroviário está, portanto, na agenda politica nacional e europeia.
O Barreiro é um concelho, cuja história no século XIX e século XX é indissociável do sector ferroviário.
Recordo, até, que quando da divulgação do projecto da Terceira Travessia do Tejo, nos governos de José Sócrates, assim como do TGV (que, de há muito devia estar a funcionar, ligando Portugal a Espanha e à Europa), falou-se e foi afirmado que o Barreiro voltaria de novo a ser colocado no mapa da ferrovia.

Duas coisas eram anunciadas, a criação de uma Estação de Comboios, na margem sul, com a dimensão estratégica da Estação Oriente em Lisboa. Essa Estação ficaria localizada onde hoje funcionam as Oficinas dos TCB.
Outra, era a construção das Oficinas de Manutenção do TGV, de nova tecnologia e de grande dimensão para a modernização do sector ferroviário, que ficariam localizadas na zona da Penalva.

E, nos dias de hoje, ao ler as noticias e as propostas do Ministro Pedro Nuno Santos que aplaudo e que, na verdade, só pecam por tardias, fico perplexo com o silêncio que reina no Barreiro.

Quando estão em marcha projectos de grande importância para o país, geradores de milhares de postos de trabalho, com tecnologias de futuro.
Que diz o Barreiro sobre isto? Que estão os politicos desta cidade a tentar fazer para saber se o Barreiro, pode, ou não pode entrar, por exemplo na corrida da EMEF, visando a renovação e valorização das Oficinas do Barreiro e, até concluindo os 300 metros de linha eléctrica que permitam dar de novo vida e emprego àquele espaço ferroviário? 
Ou será que, mais uma vez, tal como o discurso da Quinta de Braamcamp, como o PDM prevê para ali habitação, não interessa fazer ondas, porque o imobiliário é que é a estratégia de desenvolvimento?
Que estranho silêncio. Ninguém comenta. Ninguém fala. Nem que lidera, nem quem está na oposição.


Quando de novo a TTT está na agenda politica e, naturalmente, vai ter impactos sobre o território do Barreiro, colocando-o no mapa de Portugal e da Europa.
Que se faz, que se defende sobre esta matéria? 
O PS nacional, já anunciou e não se define se quer rodoviária, ou ferroviária, ou mista. Localmente, já sabemos, como é normal, só vai tomar posição, quando existir a posição nacional.
O BE nacional, já anunciou que defende apenas que seja com vertente ferroviária. Localmente, também, tem sido essa a opção.
O PCP não se definiu, mas, em tempos idos defendia que a nível local, quer a nível nacional que fosse rodoviária e ferroviária.

A Câmara Municipal do Barreiro, enquanto órgão, em anteriores mandatos tomou posição ferro-rodoviária, até, indo de encontro aos projectos acima referidos – Estação nos TCB, Oficinas do TGV na Penalva.
O actual executivo sobre esta matéria nunca tomou propriamente posição.
Estando o assunto na agenda politica nacional, estranha-se que até ao momento, não exista uma tomada de posição pública sobre estas matérias.
Se há contactos ninguém sabe, se há propostas para o Barreiro, ninguém sabe. A verdade, é que este é um tempo crucial para o futuro do território do Barreiro. 
Os territórios são competitivos entre si, e, para fazer futuro de um território, habitação pode ser importante para o desenvolvimento, quer nova habitação, quer a reabilitação, mas, uma cidade não vive só de habitação. Precisa emprego. 
O sector ferroviário faz parte da história e da nossa memória desde o século XIX, seria muito bom se continuasse e fosse uma dimensão estratégica para o século XXI e XXII, gerando empregos de alta qualidade tecnológica, e, também, aqui, uma Estação Central que seja a porta da ferrovia que liga a Grande Lisboa ao Alentejo – a Évora e a Beja.

Fica aqui e agora, um apelo ao Ministro Pedro Nuno Santos, veja, por favor, se no Plano Nacional de Desenvolvimento Ferroviário há um espaço para pensar Barreiro e integrar o Barreiro no futuro que está em marcha. 
Contamos consigo, Senhor Ministro. Pense Barreiro. Obrigado!

António Sousa Pereira

Barreiro precisa de um «consenso estratégico sobre o património»

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No ano de 2019, o Feriado Municipal do Barreiro ficou assinalado com a inauguração do «Moinho Pequeno». Uma obra polémica, porque de “polémica permanente” é feita a vida local. Até porque vivemos um tempo em que o conta é ‘opinar’, que se sobrepõe ao ter ‘opinião’. Há mesmo que não goste de ‘opiniões’ e considere que ter ‘opinião’ é um mau serviço para a comunidade. 
O importante é ‘opinar’, e, diga-se não se deve ter ‘opinamento’ diferente de quem acha que é senhor e quem tem o mérito de definir qual a opinião que é “boa noticia’, ou, a opinião que é ‘má noticia’.

Sobre esta obra já escutei as mais diferenciadas ‘opiniões’ que vão do ‘mamarracho’ ao ‘ficou muito bonito’. E, até, reparei quem foge do tema e ‘chuta para o lado’, ou o ‘chuta para a frente’.
Isto é o fruto de em torno desta obra, existir uma pseudo discussão antropológica ou dita histórica, não se olhando para o novo equipamento com um olhar diferente, vendo o que ele mesmo pode significar esteticamente, e, igualmente, em torno dele existir uma ‘visão estratégica de fazer cidade’, e, também uma conceptualização acerca da ‘preservação ou valorização do património’. 
O que se gerou- foi uma conflitualidade, de bons e maus, com criticas, criticismos, adjectivações. Muita parra e pouca uva.

Primeiro estranha-se e depois entranha-se

João Pintassilgo, Vice Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, no dia da inauguração, interrogou-me sobre que pensava sobre aquele novo equipamento. Não comentei. Não quis comentar. Olhei. Observei. Reflecti. Estava numa de indiferença. Pensava mesmo, no meu silêncio – “isto primeiro estranha-se e depois entranha-se. Com o passar do tempo passa a fazer parte da paisagem e integra-se nas nossas vivências quotidianas”.
Um destes dias, resolvi e, por ali, sentar-me a olhar. Pensar as ‘impressões’ e as ‘sensações’.
E, ali, a olhar a caldeira dita do sangue, a primeira pergunta que me ocorreu foi : Para que vai servir este novo equipamento?
Depois, interroguei-me: Será que este equipamento se insere em algum pensamento estratégico do fazer cidade? É, ou não, um elemento que vai contribuir para valorizar o património industrial do concelho do Barreiro?
E, de pergunta em pergunta, fui tecendo uma reflexão que conduziu a estas notas soltas. 

Uns dizem que foi feito um atentado ao património, que, aquilo que ali está nada tem a ver com o «Moinho Pequeno». Até, citando especialistas na matéria, afirmam que ali está um ‘mamarracho”.
E, aqui está a minha primeira discordância. Não considero que ali esteja um ‘mamarrcho’. Está ali, de facto, um novo equipamento, construído a partir do velho, que, pelo que escutei, estava irrecuperável, procurando-se com esta intervenção salvar o que era possível. 
É verdade que nada tem a ver com o antigo «Moinho Pequeno”, mas está lá a sua base e, sobre a base, ergue-se um novo equipamento modernista, de linhas arquitectónicas inovadoras, um ‘design’ de modernidade onde sobre o passado nasce o presente e se projecta o futuro. 
Considero que é um projecto elaborado com coragem, que tem criatividade, uma criatividade conceptual sem dogmas de fé, e até, nem tem por base o chamado ‘fachadismo’. 

O projecto interliga de forma dialéctica a memória à modernidade.

Não me admirava nada se, um dia, este equipamento vier a ser premiado a nível nacional ou internacional, como um exemplo de reabilitação de património onde, de facto, estão patentes os ‘limites’ epistemológicos entre a memória e o futuro, numa visão estética que une o presente de forma permanente ao passado, enquanto espaço de transmissão de saberes e preservação de memórias. Merecia ser apresentado como candidatura de inovação cultural. 

E, nisto sou levado a pensar que, na verdade, se hoje existe este equipamento moderno e inovador, tal, na verdade só foi possível porque a autarquia, na gestão CDU, o adquiriu e colocou-o ao serviço da comunidade. Até esse momento esteve ao abandono e a degradar-se. Já foi tarde. É pena. Ou se não foi tarde, quando se devia ter intervido não foi possiel. Talvez, pela mesma razão de sempre, não existir aquilo com que se compra os melões. Não estica.

E, pelo que sei, também, este projecto foi feito e até chegou a estar adjudicado, pela gestão CDU, que travou por ter dúvidas, tendo a actual gestão PS, tomada a decisão de avançar, e bem, com a sua construção, ignorando as indecisões que motivaram a CDU a cancelar e a adiar uma tomada de decisão sobre o projecto após as eleições.

A discussão em torno da obra do «Moinho Pequeno» é bem um registo das características do debate de ideias que nós temos sobre a cidade e o seu património. Não se confrontam ideias ou visões de cidade, confrontam-se percepções. O que conta é a gestão do pensamento emocional.

Há os que permanentemente adoptam uma postura que podia ser teoricamente definida como – “empiro-criticismo” – com uma total incompreensão da relação que deve existir entre a realidade e a teoria. Interpretam a partir da realidade imaginária, porque já lá não está, mas são incapazes de sentir o pulsar do novo a emergir , não percebem que o velho trás dentro de si o novo, porque o mundo é para transformar e não apenas para interpretar. É uma espécie de critica da critica critica.

Numa cidade há património e, na verdade, por muito que se deseje preservar algo tem que ficar para trás, o importante é que exista uma visão estratégica sobre qual o património a preservar de forma a deixar aos vindouros – a memória de uma época e de uma identidade.

O Barreiro tem um imenso património industrial, e, nos dias de hoje, vive uma profunda crise de perda de identidade. Há um Barreiro novo a nascer sobre os escombros da vila operária - industrial e ferroviária.
Mais que alimentar discussões sobre mamarrachos, o importante seria encontrar um “consenso estratégico sobre o património”.
O património é de todos, não é um ‘propriedade intelectual’ de esquerda ou direita, de operários ou patrões. O património industrial que ainda existe, é o que resta, e, aquele que for preservado, será o que restará para a nossa memória colectiva. O legado aos vindouros.

E, cada vez mais me convenço que é isto que falta, um “consenso estratégico sobre o património”, que defina linhas condutoras de acção sectorial, sobre a imensa riqueza inscrita no território que hoje é concelho do Barreiro.
Do património moageiro, industrial, quimico, ferroviário, da cortiça, do vidro, do bacalhau, dos descobrimentos, do brinquedo, do neolitico, do ensino, do associativismo, da música, da resistência e luta pela liberdade, do Tejo, dos pescadores, do Coina, do sal, das aves, da fotografia, ambiental, e, tanto mais que podia e devia ser inventariado, tal é a riqueza patrimonial e memorial que é possível encontrar na história e vida do território do Barreiro.
Uma visão estratégica que podia dar-lhe uma dimensão única e identitária, para fruir no quotidiano e para gerar nichos de visitação, que seriam importantes contributos para gerar emprego e desenvolvimento a curto médio e longo prazo.

Uma terra que não preserva a sua memória é uma terra sem memória. A perda da memória é a perda da sua identidade.
Por isso, o primeiro ‘pensamento estratégico’ que tem ser ‘consensualizado’´deve ser sobre qual o património a preservar, com duas ideias força associadas – que contributo para a nossa memória colectiva; que contributo para dar ao Barreiro uma dimensão de visitação. A memória e o desenvolvimento.

Em segundo lugar, definidas as áreas patrimoniais, avançar para a classificação, clarificando o que é para manter, e como pode ser mantido, o que inevitavelmente não há condições de ser preservado. 
Mas, mesmo naquele património que não haja condições para o manter, ele, pode, em último recurso ser reabilitado e utilizado em novas funções. Haja criatividade.
É este o caso do ‘Moinho Pequeno’, um novo equipamento, moderno, que emerge do passado, para se afirmar no presente e no futuro como, a ‘porta cultural” que se abre e proporciona uma viagem às memórias, ali, está a porta onde se entra para o Centro de Interpretação do Património Moageiro. Visite e verá.

Depois, ligado a este equipamento, nascido de um espaço moageiro que, todos sabemos. atingiu o nível de degradação que não permitia a sua reutilização com base nas suas funções históricas, na verdade, ali mesmo, ao seu redor, seguindo pelos passadiços que ligam Alburrica ao centro da cidade, existem os moinhos de Alburrica, entre eles já visitável o Moinho de Vento, com velas – esse completamente remodelado e em condições de produzir farinha. 

Não me digam que os técnicos e politicos que decidiram recuperar o Moinho de Vento, tinham sensibilidade para projectar e manter aqueles, e, para com o ‘Moinho Pequeno’, foram uns energúmenos. Por vezes, a vida é assim, o que é tem que ser, e, os edificios tal como as árvores caem de pé quando atingem nívels de degradação insustentáveis.

O importante, isso sim, agora e desde já, é que o Moinho de Maré da Braamcamp não seja vendido, que continue a fazer parte do património moageiro que seja inserido numa vertente visitação e de valorização do nosso património industrial. Mas para isso é preciso que exista a tal visão estratégica sobre o património da cidade. A inexistência de estratégia fundamenta tudo, até a venda. O imediatismo a funcionar. A inexistência de visão de cidade, de uma ideia para a cidade.

Mais que a critica da critica critica, sobre o Património Industrial e Ambiental do Barreiro, que, sublinhe-se, não é propriedade de nenhum partido, nem de nenhuma corrente ideológica, é de todos, e para todos deve ser preservado, porque faz parte da nossa identidade – independentemente de cada qual, depois, sobre ele ter a sua visão e interpretação ideológica.

Estava a dizer, mais que a critica da critica critica, o importante é forjar de forma aberta, um pensamento cosmopolita aberto ao mundo e sem preconceitos, tendo por objectivo dar ao património industrial e ambiental do concelho do Barreiro uma visão e dimensão que se afirme no contexto da Área Metropolitana de Lisboa, única forma de abrir portas ao mundo e dar-lhe escala. A Quinta Braamcamp é uma pérola que ainda está no dominio público que é estratégica neste pensar e fazer Barreiro, com dinheiros públicos e privados. Não é preciso vender,isso é vender o futuro.

Por cada área patrimonial, algumas já refenciada, outras por referenciar, há ainda muito caminho para andar, mas já há alguma coisa feita, embora muito esteja por fazer. Classificar. Historiografar. Bibliografar. Divulgar.
Existem apenas dois Centros de Interpretação a funcionar: o Centro de Interpretação da Mata da Machada ( pouco divulgado), dedicado aos fornos e à época dos descobrimentos, e, agora o Centro de Interpretação Moageiro, no Moinho Pequeno.
Sobre matéria ambiental, existem o Centro de Educação Ambiental da Mata da Machada, com um trabalho meritório em parceria com a comunidade educativa.

E, tudo isto que escrevi foram pensamentos que ocorreram a propósito das perguntas que coloquei a mim mesmo quando olhava o novo Moinho Pequeno, integrado na paisagem e nos passadiços da modernidade. 
Entretanto, é importante tratar da caldeira envolvente para lhe dar biodiversidade e beleza natural. E, por favor, esqueçam essa aberração da «praia de ondas»!

Para que vai servir este novo equipamento?
Será que este equipamento se insere em algum pensamento estratégico do fazer cidade? 
É, ou não, um elemento que vai contribuir para valorizar o património industrial do concelho do Barreiro?

Se este equipamento foi pensado como uma das componentes de uma rede de «Centros de Interpretação do Património», então ele foi bem pensado, está geograficamente bem localizado, é, sem dúvida, um bom aproveitamento de um espaço a degradar-se e dificilmente recuperável.
Estão de parabéns os técnicos e o politicos – CDU e PS - que tiveram a coragem de decidir e de construir, agora, assumam sem preconceitos, não temam as opiniões, nem as redes sociais, onde prolifera a critica pela critica, o opinar por opinar. Assumam conceptualmente, desligando da discussão emocional. Digam as razões do projecto, fundamentem as razões que impossibilitaram outras soluções.

Demonstrem que existe, ou que pode existir uma estratégia e ser desenvolvido “um consenso estratégico sobre o património”, e, também “um conceito estratégico” sobre o seu contributo no fazer cidade, porque o património não é um resíduo do passado, é a nossa energia que faz futuro e será a semente que vai manter viva a nossa identidade, num tempo que o Barreiro vive, afinal, cada vez mais, marcado por uma ‘crise existencial’ e “perda de identidade”. 
É por isso, que é importante dar dimensão conceptual, mais que emocional, no papel do património no fazer presente e legar futuro.
É, por isso mesmo, e só por isso, que o Património é de todos!

António Sousa Pereira 

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Barreiro - Do Masterplan à Cidade dos Arquivos

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Esperemos que o Poder Central, pegue nos muitos dossier’s legados pela anterior gestão CDU em parceria com a Administração da Baía do Tejo, e dê andamento à valorização daquele território.

 

Os territórios onde inscrevemos nossos passos, são os lugares que fazem parte das nossas memórias.  Lugares onde um dia a nossa vida se fez, no fazer o tempo, no construir o tempo. O território da Baía do Tejo está inscrito na minha vida, desde o Bairro Operário, passando pelo Largo das Obras, viajando até às muralhas onde na minha juventude, o Lavradio se encontrava como o Tejo. Sim, tenho ali memórias naquele território. Cheiros. Lutas. Beijos. Sonhos. O zinco metálico. O forno Cal. Os dias de neblina do Contacto 7.

Vivi a fábrica por dentro, ali, onde o zinco se forjava em moldes, enquanto, as escórias suspensas, saltavam para o lado a ferver, empurradas pelas mãos do operário, num ritmo constante e incandescente. Um dia tudo fechou. Era um fim anunciado.

Hoje, naquele lugar, há um território, onde, o mais certo, dentro de anos, vai nascer o «Parque das Nações» da Margem sul. Já escrevi isto, no Jornal do Barreiro, quando escrevi aquele artigo que despoletou a guerrilha urbana da ETRI.

Decidam-se! Ora é o Masterplan. Ora é o projecto Arco Ribeirinho Sul. Ora é o Terminal de Contentores. Ora é um projecto de reindustrialização. Ora é um «cluster de indústrias criativas». Agora, a última é «a Cidade dos Arquivos».

 

Andamos nisto, desde antes do 25 de abril, quando começou a decadência industrial. Sei que há pessoas que gostam de apontar o 25 de Abril, como a causa da decadência do que já estava em decadência. Não sou eu que o digo, são investigadores que respeito, pelo rigor do seu trabalho de investigação histórica.

Gilberto Gomes, objectivamente, sublinha que numa década, nos anos 70,de antes do 25 de Abril, tempo em que a empresa CUF foi adiando investimentos que deviam ter avançado, passando depois por uma nacionalização concretizada à pressa e sem planificação, findando nos anos 80, com as “barbaridades no tempo de Cavaco Silva”, são reflexões de Gilberto Gomes, para ele, estes três momentos que fizeram daquele território uma «pérola» em pousio, perderam-se milhares de postos de trabalho, até aos dias de hoje não recuperados.

Já está, já está, pronto.

 

Neste entretanto, pode dizer-se que dois presidentes da Câmara Municipal do Barreiro – Emídio Xavier e Carlos Humberto - até aos dias de hoje, deram contributos de grande importância para que o Poder Central, principal e único responsável pelo estado ao que ali chegámos, coloca-se na Agenda o território da Quimiparque/Baía do Tejo.

Emídio Xavier, até sonhou com a transferência de Ministérios de Lisboa para o Barreiro. E no seu tempo entrou na agenda o Masterplan. O tempo dos TGV, da TTT – Terceira Travessia do Tejo, o NAL – Novo Aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete.

Tudo ficou para trás com a troika.Mas, uma coisa é certa, com muitos planos, mesmo muitos planos, nos tempos de Emídio Xavier, o território da antiga CUF entrou na agenda local como uma esperança e o Poder Central percebeu o potencial que existia parado na margem sul, para onde podia crescer a Lisboa de duas margens. Sonhos.

 

Mas, nada estava perdido. Era preciso erguer e manter esta bandeira. o importante era que o poder Central, fosse ele PSD, ou PS, não colocassem de novo de lado e no esquecimento o território da Baía do Tejo. Carlos Humberto, foi incansável, quer com o governo de Passos Coelho, quer com o governo de António Costa.

Nos governos do PSD surgiram cenários. O importante era dar vida ao território da antiga CUF, criar emprego, gerar desenvolvimento económico e social. Falou-se em estratégia de reindustrialização, com as novas tecnologias. Depois veio o Terminal de Contentores, que passou pata um Terminal Intermodal – um porto com várias vertentes de dimensão europeia. Falou-se.

 

A conversa continuou com o Governo de António Costa, e, nisso Carlos Humberto era imparável, no diálogo com o Poder Central, no conversar na procura de soluções e propostas, quer para os territórios da antiga CUF, quer para os territórios do sector ferroviário. Algumas soluções um destes dias vão surgir, como é o caso do projecto da Doca Seca da CP.

As relações entre a Câmara Municipal do Barreiro e o Conselho de Administração da Baía do Tejo eram excelentes e de grande cooperação. Um primeiro grande passo foi abrir o Parque ao tecido urbano da cidade.

O actual Conselho de Administração da Baía do Tejo tem feito um trabalho excelente, criando espaços inovadores, nichos de empresas e renovando a imagem do Parque Empresarial. Fez apostas claras e dinâmicas no sentido da criação de um cluster de artes criativas. O Museu Industrial em conjunto com o Espaço Memória eram espaços âncora, bases iniciáticas, que era preciso aprofundar e desenvolver. 

Quanto ao Espaço Memória, afinal, agora vai ser retirado daquela área que se dizia estruturante numa visão de renovação do Parque Empresarial, como nicho cultural, com a porta de entrada no mural do Vhils.

Pelo que se diz agora, a opção é transformar o Barreiro na «Cidade dos Arquivos».

 

O tempo passa pelas pessoas, tal como passa pelas cidades. As pessoas envelhecem e, por sinal, o envelhecer é o acumular de experiências. As cidades também deviam, num saber colectivo, acumular  experiências. Aprendizagem.

Era em tudo isto que eu pensava, hoje, ao passar naqueles territórios da Baía do Tejo. Ali, há uma experiência acumulada de saberes e de experimentações.

Quando passo por ali, o que me incomoda é saber que há quase meio século que aquele território parou no tempo, não se define uma estratégia, não se sabe, claramente o que vai ser daquele território.

Valha-nos ter existido um Sardinha Pereira, que pensou o Parque Empresarial. Valha-nos ter existido um Emidio Xavier, que motivou o Projecto Masterplan ( faça-se justiça dando sentido prático ao esboço do Arquitecto Manuel Salgado, gerado por Pedro Canário).

E, ainda, a laboriosa acção de formiguinha de Carlos Humberto, junto aos governos PSD/CDS-PP e PS, ao ponto de António Costa, numa visita expressar a sua concordância com a necessidade de construção da Ponte Barreiro – Seixal, outro dossier colocado na agenda do governo por  Carlos Humberto, e, até, abordado pela Baía do Tejo, no âmbito da estratégia territorial Lisbon South Bay.

 

Em suma, estamos numa encruzilhada, Nada se sabe sobre o Terminal de Contentores, embora o mais certo, perante o crescendo do imobiliário na margem sul, certamente algo tem que ser prioridade, e, neste caso, as ideias do Arco Ribeirnho Sul, podem ganhar terreno.

Tudo, o mais certo, é ficar para lá do processo eleitoral. Porquê agitar estas matérias. Não vão acrescentar. Sim, se até o projecto da Tratamento dos bivalves parece que hibernou.

 

Esperemos que o Poder Central, pegue nos muitos dossier’s legados pela anterior gestão CDU em parceria com a Administração da Baía do Tejo, e dê andamento à valorização do território da Baía do Tejo. Que se encontrem projectos concretos, sejam de habitação (antes ali que Braamcamp), sejam de novas tecnologias que façam do Barreiro de novo uma cidade para trabalhar e uma cidade para viver.

Fica o registo, acredito que António Costa, se não avançou nesta legislatura que avance na próxima com a Ponte Barreiro – Seixal, e, um projecto na Baía do tejo como de cidade das novas tecnologias (reindustrialização), com ligações ao tecido urbano, com a transferência da Terminal Ferro Fluvial do Rio Coina, para o Rio Tejo, que fique em aberto no PDM revisto, o corredor da TTT.

O Governo que é responsável por estes 2/3 do território e, ainda, outros tantos espaços, da Mata da Machada ao território ferroviário, enfim, que nos ajude e não nos deixe ficar apenas como cidade dos Arquivos.

Uma proposta para o Barreiro é uma proposta para a Península de Setúbal. Conta  muito, acreditem!

 

António Sousa Pereira

Banalizar o debate de ideias e valorizar a guerrilha urbana da adjectivação.

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Ontem, o meu amigo Emanuel Góis, num comentário referia que, nos dias de hoje, nas redes, é preciso dar valor aos 10% de coisas boas que por ali vamos encontrando, quanto aos outros 90% o melhor é desligar, e, sobre esses, o melhor é dizer –“ Ide-vos!”.

 

Dou comigo a pensar que muito do que se regista nas redes sociais, não é acaso, nem coincidências, aliás, como dizia o outro, as coincidências são puramente matemáticas.

Cá por mim, acho que tudo começa naquelas conversas, às quatro da manhã à roda de uma cerveja, que, muitas vezes são preparatórias de outras conversas, aquelas, mais “nobres e intelectuais”, onde se reúne a “nata pensadora” – as várias natas pensadoras, que são o supra sumo da produção de estratégias, esses pensadores que vão marcando as nossas vivências quotidianas.

 

Nessas ditas reuniões de pensamento macro, eles chegam cumprimentam-se. Sorriem uns para os outros. Alguns abraçam-se. Cada um já

trás, dentro de si, uma ambição e sonho de projecto de vida: “um dia hei-de ser…”!

 

As reuniões começam, com trocas de piropos, o Sporting e o Benfica, podem até ser o leit motiv, pacificador e a energia que faz o caldo cultural daqueles convénios de alta dimensão intelectual.

Fazem abordagens dos acontecimentos, que marcam a vida comunitária. Vasculham ideias. São dadas algumas informações, oriundas de outras instâncias, regionais ou nacionais. Nesses momentos, eles sentem-se importantes, por saberem que integram as redes dos donos disto tudo. Acham mesmo que, sem eles o  mundo não existia tão perfeito.

 

Os membros do órgão são aqueles que atingiram o patamar da decisão. Seja lá qual for o órgão.

Eles sabem que é ali, no órgão dito, que se abre caminho para outros caminhos. Um dia hão-de subir a outro órgão. Assim como quem diz de órgão em órgão, enche a galinha o papo.

 

Há sempre, em cada órgão, alguém que é senhor, que faz as contagens de cabeças, que tem os seus submissos, aqueles que estão a disponíveis para repetir e defender, na dita reunião, todas as propostas que, naturalmente, foram previamente e muito criteriosamente debatidas ao redor da cerveja.

Outros estão ali de coração aberto. Sonham no silêncio.

A noite prolonga-se. Conversam. Argumentam. Contra argumentam. Tecem cenários. Desbravam fragilidades dos outros, que noutro ponto qualquer, noutro lugar, pelas mesmas razões, também avaliam e fazem outras abordagens. É o sistema a funcionar.

Eles, de forma intelectual e pensante armadilham formas de se picarem uns aos outros. Gerem técnicas pavlovianas. Marketing, este é essencial.

 

E, naturalmente, como sempre assim foi e sempre assim será, lá vem à baila, em diversas reflexões e aprofundamentos teóricos, surge o tema da comunicação, as falhas de comunicação, os recursos de comunicação, os problemas da comunicação. A comunicação tradicional. As novas tecnologias. Enfim a comunicação e a democracia, duas faces da mesma moeda. A imprensa regional essa não vale a pena ligar – “ninguém lê”.

Mas, nesta dimensão de avaliação da comunicação, o essencial é a propagação, difusão, contra-informação, consolidação, percepção, sim a percepção das percepções, isso é determinante.

O essencial é a comunicação para chegar ao poder. Conquistar. Manter. Subir sempre, nunca descer. Ter, a palavra ter, é que conta. Só quem ‘tem’ pode dar e gerir as vidinhas. Comprar. Facilitar.

 

E, é neste caldo, que surge o tema da utilização das redes sociais. O instagram é para malta mais nova. O facebook, sim, esse dá para tudo.

Teoriza-se. Fala-se dos que têm acesso às redes sociais e os que não têm às redes sociais.

Uns pensam nos novos. Outros pensam nos velhos.

A conversa sobe de nível intelectual, surgem, para avaliação as formas de agir, os exemplos do Brasil, dos EUA. A guerrilha. 

 

Usar mais imagem. Videos. Vale mais uma imagem que mil palavras. Não é necessária muita argumentação. Geram-se as lógicas do combate de maus e bons. É tudo mais fácil, não carece explicações, é o imediatismo que conta, o futuro, quem lá chegar que feche a porta.

 

A estratégia para a rede do facebook é aprofundada em torno dos clichés, forjam-se ódios de estimação. O essencial é criar o inimigo comum. Desvaloriza-se o pensar ideias. Valoriza-se o pensar emoções.

A gestão da presença nas redes sociais, cada vez mais, é feita com recurso a “gestão de serviços prestados”. São perfis falsos. São perfis verdadeiros, incumbidos de cumprir missões.

As missões são diversas, desde os que são estimulados apenas para agir como meros provocadores – “Vai lá diz…pica…..” - até aos que assumem uma dimensão mais intelectual, os que fazem “confrontos ideológicos”, demonstrando que existem diferenças, em discussões que acabam sempre uns a fazer-se de vitimas que estão sendo ofendidos, outros numa postura de superioridade moral. Por vezes, demonstram que são amigos, com opiniões diferentes, que estão a travar confronto de ideias, mas, a maior parte das vezes, é a banalidade discursiva, onde a opinião se reduz a clichés, uns são lobos, outros cordeiros, e, por ali, à volta, por vezes existem uns coelhinhos aos saltos, que preferem o jogo do toca e foge, um mundo de facto a degradar-se, e, afinal, tudo começa, nesses convénios que dizem querer fazer mais democracia e mais cidadania, mas estimulam a guerra a ferro e fogo, porque sabem, quem não mata morre.

 

Ah é verdade. Também existem os «Provedores das Redes Sociais». São encartados, ou empossados com várias missões. uns têm a missão de atacar e fugir. outros têm a missão de dar uma dimensão intelectual. Há ainda os que são encartados para avaliar os temas, que podem servir para as turras. No meio de tudo, o importante é manter o ambiente de futilidades, de baixar o nível, quanto mais arruaceiro, mais propicio á brejeirice e boçalidade. Muita criancice, infantilismo e superioridades de trazer por casa.

Em suma, banalizar o debate de ideias e valorizar a guerrilha urbana das adjectivação.

É o século XXI com os resíduos das metodologias do século XX. Agit prop. Marketing. Coisas e loisas…

 

E, por isso cá vamos, até um dia…quando o sistema começar a implodir. Sentem-se os sinais. Cuidem-se…

 

António Sousa Pereira

Fazer cidadania e fazer cidade.

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Gosto de viajar por dentro dos dias, mergulhar por dentro das palavras, senti-las, como quem sente o sol a nascer e o luar a espreitar entre a brancura das nuvens. Gosto de sentir a serenidade de um olhar, a tranquilidade do tempo o fluir do silêncio, delicadamente. Sorrindo. 

 

Hoje pela manhã, como faço alguns dias, sentei-me

a mergulhar os meus olhos no Tejo. Ali a tocar as ondas com os nervos, tal, como fazia junto ao Guadiana, de repente, sinto-me a criança que se deliciava a estender os olhos até ao mar, logo pela manhã vivendo a alegria do regresso dos barcos da faina, e, ao fim do dia, a emoção da partida dos barcos para o mar. Um ritual que guardo dentro de mim.

Os rios fazem parte da minha consciência, da minha forma de olhar a paisagem, por essa razão, facilmente mergulho com ternura nas águas e descanso os meus olhos nos seus movimentos.

Navego nas ondas e, nelas, cultivo o gosto pela vida, em tudo o que fui e sou, em tudo o que vivo todos os dias, sempre, retomando o prazer de escrever as páginas brancas que abro diariamente com carinho e paixão pela vida. Gosto de viver, divertidamente, de forma infantil, graciosamente, sorrindo.

 

Há quem não saiba o que é viver, cada dia, assim, no abrigo do coração, porque para isso, é preciso sentir viva a criança que fomos e a criança que está dentro de nós, é, acreditem, isso que nos faz sorrir, sorrir, sorrir...sempre como Abril!

 

É, também, isto, o viver real que não é percebido por aqueles que não sentem o valor e a força das palavras. As palavras que são ideias, ideias que são acções. Construindo.

 

Eles, habituaram-se a usar as palavras como artefactos, peças de uma linguagem feita de jogos e estratégias, pensamentos dissimulados, calculismo, demagogia, vivem num permanente jogo de espelhos, manipulando e tocando o delírio maquiavélico ao ponto de se enganarem a si mesmos. São tão perfeitos, vivem com tanta intensidade as causas, são tanto exemplo de perfeição e promotores de paixões futuras, que se tornam o centro do universo, a luz do mundo. Uma nobreza que se torna pérfida de tanta pureza, principalmente quando optam por desancar naqueles que não servem os seus interesses, ou não servem os seus puros ideias, por vezes, apenas, porque têm opinião diferente.

São uma espécie de pensamento único que não sabe o que é o confronto de ideias, que não convive muito bem com a democracia.

Acusam de intolerância os outros, mas cultivam o ódio, estimulam o xenofobismo.

Acusam os outros, mas essa, afinal, é a forma de se sentirem superiores. Uma superioridade pedante. Arrogante. Telúrica.

 

Vivem felizes nesse jogo de sombras, onde inventam personagens, que são os seus auto-retratos, figuras que se mexem e remexem nesse divertimento táctico, onde se martirizam e fazem catarse, como quem joga a vida num tabuleiro de xadrez. Cheque mate. Manobras.

Lançam os seus ódios e incertezas, para o outro, com os olhos vermelhos, mordem os lábios, com tristeza de verem alegria e sorrisos naqueles que combatem, e têm pena de não ser, por isso, apenas por isso, bociferam. A inveja toca a penumbra da solidão, quando se olham ao espelho. Nasce a neurose. Uma esquizofrenia que afogam em tacticismos.

Acordam de noite, escutando as gargalhadas daqueles que querem destruir e calar.

O suor corre-lhes na amargura da sua pobreza. Tristes.

Depois na vida real, é vê-los a sorrir por trás das ilusões que embrulham em farsas, fake news, invenções. Dão pena. Mas sobrevivem. É o que lhes resta. Lá vão.

 

Eles já estão secos por dentro, e a vida que «vivem» apenas é alimentada por ódios e rancores.

Há quem chame a isto dor de cotovelo, outros dizem que é inveja, pura, a correr no sangue das ambições.

Querem o poder não para transformar, mas para controlar. Tristes caciques do populismo do século XXI. Tesos. Gestores de trocas e baldrocas. Aguadeiros que se sentem donos do mundo.

Dá para rir e sorrir. E ficam a pensar, agoniados, quando alguém clama a liberdade. Sim, ser livre é não precisar de viver de joelhos dobrados para cima, bajulando, e, depois, de mão esticada para baixo, humilhando. É a chamada esperteza saloia.

 

Enfim, quando estou por ali, junto ao Tejo, sinto o silêncio, aquele, que só cada um de nós é capaz de sentir, quando tocamos no fundo dos nervos com os pensamentos. Escrevo poemas. Encontro memórias. Viajo no tempo. É isto a felicidade, sentir a liberdade a fluir no pensamento. É isto ser livre!  

   

No Tejo está tudo que nele quisermos encontrar, são recordações, viagens, histórias, epopeias, tragédias, cânticos. Ali, afinal, está Portugal e o mundo a renascer. O mundo e a humanidade.

 

Estou aqui e, neste fim de tarde, penso como quem escreve um poema escrito na raiz do tempo, esse lugar, onde se escreve a palavra dignidade. Renascer. Fazer cidadania e fazer cidade.

 

António Sousa Pereira

 

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