De pé …
Que me interessa que falem em liberdade,
diálogo, verdade, perfeição, arte, poema,
drama, comédia, cor, som, ritmo, canção,
fado, pintura, filosofia, teologia, pluralidade.
Que me interessa que falem de tudo isso,
com sentido solene, com a firmeza de sons,
com o colorido das vossas telas,
ou com o vibrar dos vossos cânticos.
Que me interessa que citem poetas,
Marx, Cristo, Buda, Confúcio, Gandi,
Madre Teresa de Calcutá, Mandela,
Martin Luther King, Guevara ou Maomé.
Que me interessa tudo isso, quando,
afirmam que é tudo por todos,
que tudo deve ser decido por todos,
e, esse bem de todos, é o valor universal,
mas, depois, há sempre o outro lado,
o da vossa citação, arte, poema, canção,
e os outros que são sempre outra coisa – o mal!
Não me venham falar de maus e bons,
estou cansado desse e de outros sons.
Sei que há diferenças de ver e olhar,
de sentir, de sorrir, de amar,
mas quando me dizem que só há amor,
quando – nós - somos quem sente melhor,
então por favor, deixem-me estar aqui,
neste sonhar solitário, de quem sente,
por dentro da dor do operário,
sem cofres cheios para sorrir,
ou do sentir do professor desgastado,
na fome do aluno ao amanhecer,
porque mais que sentir no imaginário,
quero sentir na vida, e no viver!
Que me interessa que falem com tanta paixão,
se, na vida real eu próprio não tenho pão,
nem arte consigo vender, e podem crer,
faço arte com prazer e sinto-a no coração,
mas porra! Que me interessa tudo isso,
se em cada dia que vivo, eu não vivo,
ou só vivo, porque sinto a poesia,
a pulsar, e as cores a brilhar,
nas veias e no sangue que corre,
nesta força que nasce no meu coração.
E, digo-vos, é nestes instantes,
isso sim, podem crer,
sinto o caminho da beleza,
do amor, da paixão,
e dessa grande tristeza,
sentir, como é belo ser Livre,
mas, afinal, como dói, como dói
ter ideias e não ter pão!
S.P.
Foto - Marta Sousa Pereira