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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

Uma pedra redonda Caminhando pelas margens do Tejo

Hoje, pela manhã, decidi dar a minha volta pelo «Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita», ali, nas margens do Tejo. Gosto de andar por ali, olhar, o horizonte, a outra margem e sentir o silêncio, o som das aves – em terra e no rio. Delicio-me a observar os voos das gaivotas.

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As margens do Tejo transportam-me à minha infância. Vivi os primeiros anos da minha vida a olhar as margens do rio e a olhar o voo das gaivotas. Mal abria a porta, pela manhã, meus olhos mergulhavam nas águas do Rio Guadiana.

 

Sentei-me num banco. Passou um velhote, curvado, de boné de pala a cobrir as curvas da sua idade. Palmilhava a distância, com ar convicto, da importância do movimento para recuperar energias. Rejuvenescer.

O sol matinal aquecia meus nervos. Passou o Cardoso Ferreira. Comentou: “Assim, aí ao sol parece um lagarto!”.

“Está-se bem”, comentei. Ele continuou e eu fiquei, ali, sentindo o sol nos meus nervos.

Sentando, nas margens do Tejo, continuei, mergulhando nos meus pensamentos. Um carro passou, alguém acenou, eu também acenei. Não reconheci. Observei um sorriso de cumplicidade.

Os ruídos dos carros vão quebrando o silêncio.

Escuto, ao longe os sons dos guindastes do Porto da Atlanport, na descarga de metais. Parecem uivos, o ranger dos seus movimentos.

Imagino o futuro. Talvez o Barreiro possa ser, de novo, uma cidade onde há trabalho e movimento que transformam a vida.

 

Levanto-me. Vou caminhar junto à margem. Pego na máquina fotográfica e registo aqueles instantes. A fotografia para mim é isto, este registo de instantes, momentos que ficam eternizados. A minha relação com a fotografia é isto, apenas, isto, um registo de instantes, olhar a paisagem por dentro dos olhos da objectiva e sentir a fixação do lugar, do rosto, da vida. Pouco me importa a técnica. Isso é para os técnicos da fotografia. Esses, sim, têm a responsabilidade de saber o que fazem e como fazem, cá por mim, limito-me a olhar, com os olhos da objectiva e fixo o instante – único!

 

O Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita, esse, também é, de facto, uma paisagem única e sempre diferente, muda a cada instante, num cenário de luz e cor que nos faz mergulhar por memórias, de nós, de tudo “o que lá não está”…

No horizonte, um navio-cruzeiro confunde-se com a abóbada do Panteão Nacional. Imagino os milhares de acontecimentos que, neste momento, acontecem na outra margem- ali, na capital do meu país.

Alguém que grita. Alguém que beija. Alguém que decide, neste final de ano, dar um novo rumo a sua vida. Milhares de histórias, feitas de milhares de emoções. São assim as cidades.   

Talvez, alguém esteja a tomar decisões que vão marcar as nossas vidas. Num Banco, num Ministério. Sim, porque, neste país é por essas bandas que tudo se decide.

 

Vou caminhando pelas margens do Tejo e sinto o sol brilhar nas ondas.

Passa por mim, Cabrita Ramos, escultor e partilhamos instantes de conversa. Expressamos votos de Bom Ano Novo.

Comento: “Sim, dizem-nos que vai ser um ano «com uma porta aberta»”. Ambos sorrimos.

O ano 2014 está a finalizar. Nestes dias de final de ano, por vezes, dou comigo a pensar nos dias vividos. 

Sinto esta alegria enorme de olhar as águas do Tejo e nelas encontrar a inocência, o turbilhão, a beleza e a ondulação dos dias e do tempo.

A maior alegria que, nos dias de hoje, sinto no meu coração é sentir todo o tempo vivido com a consciência que vivi e partilhei os meus dias sempre com a alegria de dar e receber. Vivendo.

Viver. Viver. Viver. Esta é a melhor forma de sentirmos o tempo por dentro dos neurónios. Freud explica isso! Recordo e sorriu para mim mesmo. Lembras-te, Kira?!  

  

A vida é assim, os dias, são feitos de muitas histórias e de instantes que registamos. O quotidiano dá sempre lições.

Escrevo estas palavras enquanto escuto os sons de piano de Chopin. Encosto-me para trás e penso: “Olha para o que te deu hoje”.

Escuto os sons. Pego no livro que, hoje, acompanha a edição do jornal «Sol» - Poemas de Agostinho Neto – e leio, enquanto os sons percorrem o espaço – num ritmo que cativa.

Leio: “Criar. Criar. Criar no espirito. Criar no músculo. Criar no nervo. Criar no homem. Criar na massa. Criar”.

Leio o poema. Volto a reler: “Criar a paz com os olhos secos. Criar amor com os olhos secos”.

 

“António, vamos almoçar”- diz a Lurdes. A minha companheira de todas as lutas, de todos os sonhos, de todas as ilusões, de todos os momentos de desespero, de indecisões, de dúvidas, de certezas e incertezas.

Levanto-me e penso na frase que se inscreveu no tempo que percorremos: “A vida é bela!”

 

Olho pela janela. Vejo o sol que brilha neste dia esplendoroso. Sorriu e delicio-me com os sons de Chopin.

Será isto ser feliz? – interrogo-me.

Levanto-me. Vou almoçar.

Afina, a vida continua…a criar, a criar !

  

António Sousa Pereira  

 

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