O meu buraco de estimação…

No passado sábado, numa conversa com um amigo, que vive lá para a zona de Coimbra, ele comentava que, numa recente deslocação ao Barreiro, por razões profissionais, uma coisa que o “deslumbrou” foi a quantidade de buracos que “enfrentou”, pelas ruas onde circulou, ao longo de vários locais da cidade.
A propósito desta percepção do meu amigo. Que considero ser verdadeira. Sem dúvida uma marca da realidade actual da nossa rede rodoviária. Foi então que recordei o meu buraco de estimação.
Sim, no meu bairro, no Lavradio 2835, tenho um buraco de estimação, com o qual mantenho uma relação intensa, assim como quem sente a terra a brotar no alcatrão. Um espaço vivo de sustentabilidade ambiental. Uma pequena poça no inverno. Uma mancha de terra no verão. É lindo.
Este meu buraco de estimação tem, ele mesmo, uma longa história, já com alguns anos.
Recordo que, um dia, em tempos idos, escrevi uma nota, na qual salientava, e, apostava que, o “meu buraco de estimação”, de certeza seria tapado antes das eleições autárquicas de 2025. Ironia.
Hoje, ao passar por ele sorri e, disse para comigo mesmo: perdeste a tua aposta! O buraco lá está na estrada, junto ao passeio. Uma marca.
Mas, recordemos. Ainda antes dos anos do COVID, naquele local, na Rua César Coelho, perto da Rua Salgueiro Maia, uma ruptura de água, esteve por ali (como é habitual no bairro), alguns meses. Uma fonte que alagava o passeio e a estrada. Por fim, talvez passados uns seis meses, uma equipa fez a necessária intervenção e resolveu a ruptura, mas o senhor buraco na estrada e o senhor buraco no passeio, esses, mantiveram-se durante algum tempo, mais uns largos meses. Aconteceram os dias de COVID. E, naturalmente, durante esse período, obviamente os nossos buracos permaneceram.
Nesta coisa de alertar, referi em notas diversas, o buraco na estrada e o buraco no passeio. Tempos depois, lá pelos finais do ano 2023 ou começo de 2024, o buraco da estraba recebeu um pouco de terra para atenuar e a Junta de Freguesia, tomou as medidas necessárias e providenciou o calcetamento do passeio. Uma matéria da sua competência.
Mas, o alcatroar aquele buraco na estrada é competência da Câmara, e, por lá continuou, naturalmente, uma vez ou outra, recordei em notas diversas a existência do meu buraco de estimação.
Lá está, um espaço que, todos os dias, ia olhando a sorrir e com esperança de acontecer a realização do meu sonho, ser colocado alcatrão, naquele buraco histórico, uma marca do Lavradio 2835.
A propósito da conversa do meu amigo, da cidade com buracos, resolvi, aqui e agora, recordar o meu buraco de estimação…mas, de certeza, que antes das eleições autárquicas não será tapado. É uma pequena intervenção, de uma hora, que fica para a agenda do futuro executivo municipal.
A vida de uma cidade não é só investimento, principalmente daquele que é fruto do crescimento urbano e nada tem a ver com desenvolvimento. Mas enfim, esse é outro assunto. Mas, na realidade, a vida de uma cidade tem a ver com a qualidade do espaço público, as zonas verdes, a requalificação urbana, a habitação tem continuidade na rua onde vivemos. Esse é um respeito pelos cidadãos, pela qualidade de vida. E isto é fruto da chamada gestão de proximidade, que não vai lá com tic.tocs.
Saio todas as manhãs de casa, e, onde existia um relvado existe caruma e terra batida, pó e lama. Até quando?
E, depois, encontro, na frente dos meus olhos, diariamente, há anos, há vários anos, um buraco de estimação. Enfim perdi a aposta. Devo ser um aziado. Hoje, quem critica ou tece considerações é isso ou outra coisa qualquer. Pois, o meu buraco de estimação, não está numa zona de grande circulação. Por isso está lixado. Aguente. Ai, aguenta, aguenta!
Mas, enfim, na realidade, este, é um exemplo, entre muitos, e, como dizia o meu amigo, lá do norte: “Nunca vi uma terra com tantos buracos!”
António Sousa Pereira
