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Entre Tejo e Sado

Por dentro dos dias e da vida

Por dentro dos dias e da vida

Ver o sol Chegar!

Em todos os tempos, nas ruas das cidades, existirão meninos nascidos à beira do mar, nos lagos, nos rios, aqueles ditos, afinal, “filhos de homens que nunca foram meninos”.

Em todos os tempos existirão, esses meninos nos Bairros, aqueles bairros, onde afinal, o sol vai nascendo e os meninos acordam para ver o sol chegar, entre a mansidão dos braços de uma avó cansada, de dores de trabalho e amor, para lhes dar pão e dar o sonho de sentir o mar.

Em todos os tempos, noutros e nestes tempos, continuaremos a escutar as notas de uma canção de embalar, fechando os olhos, completamente nus, de lágrimas e dor, assim, como quem sente a impotência da fome, da guerra, em cada dia que vai nascendo e o menino olha o sol, e, sorrindo, vê o sol chegar.

 

Quantas lágrimas chorei ao escutar, na noite, na solidão do meu quarto, em surdina, o Zeca, naquele single, que guardo como relíquia. Mergulhava nos sons, na tristeza do silêncio e no sonho de uma liberdade de portas abertas ao futuro.

Talvez, porque eu próprio, me via a correr, ali, nas ruas, empedradas, como menino de um bairro, sim, porque a minha rua era um bairro, de gente do mar, da faina, da fábrica, das pescas, da sardinha do atum, de um tempo feito de noites sem dia e dias que anoiteciam, em silêncio de palavras caladas.

Via-me ali, naqueles sons do Zeca, a correr, a saltar, no Largo da Bica, na terra onde nasci, junto ao mar, ali, todos nós crianças, feitos de uma ternura que nos tocava por dentro, porque a amizade se inscrevia nos nossos olhos e corações.

Uma rua feita uma grande família-bairro, portas abertas – sofríamos, chorávamos, brincávamos, unidos na plenitude que eramos um bairro azul, nos jogos de bola e nas dores e alegrias que vivíamos em comunidade.

 

E, nesse tempo, antes de Abril acontecer, eu escutava os sons e as vozes dos meninos a correr, e, por dentro, nesse lugar onde todos nós somos, as lágrimas mergulhavam nos olhos – a sorrir.

 

Foi, um pouco tudo isto, que, ontem à noite, me ocorreu ao pensamento, quando escutava o Fanhais, no Ginásio da Baixa da Banheira, agora, mais de 40 anos após aquele dia de paixão, de Abril, um dia de sonho, aqui e agora, de novo há crianças que chegam, pela manhã à escola sem pão e sem sorriso, há crianças que morrem na raiva do Mediterrâneo – morrem a ver o mar – e, no meu país, nesta europa que eu amo, neste mundo, de tanta beleza, afinal, continuam crianças – meninos sem condição – sem saber cantar, sem vida, sem pão.

 

E, escutando a canção, a voz num eco da memória, penso, um dia, sim, qualquer dia, qualquer dia…talvez, seja possível ver o sol chegar, para isto, basta continuar a sonhar e lutar.

É preciso que haja alguém que continue a cantar esta canção, que nos dê força, energia, e, tocando nos nervos do coração, nos diga – “olha o sol que vai nascendo, anda ver o mar, os meninos vão correndo, ver o sol chegar…ver o sol chegar, ver o sol chegar!”

 

S.P.

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